Imperfeições do ser - Textos

Conversando sobre o poder

Participante: a ausência do código de conduta ensejaria a prática do próprio código?

Não, ensejaria a prática do amor. Deixando de obrigar o outro a fazer o que você quer, amaria a todos como ama a si mesmo. Mais: amaria a Deus acima dos seus padrões de certo.

Participante: Porque a mente humana busca o poder?

Porque ela é a prova do espírito. Se não buscar o poder através da codificação de normas, da padronização e dos parâmetros de justiça o espírito não tem prova e com isso não pode se libertar de suas impurezas. Se libertar-se destas impurezas é a razão da encarnação, para que haveria ela se não houvesse algo que levasse o espírito a livre optar?

A forma de proceder da mente, fundamentada no egoísmo e contendo as impurezas que o espírito possui, é exatamente o cabeçalho da provação do espírito. Sujeitando-se a ela, o ser universal, que é você, pode, então, optar entre amar a si mesmo acima de tudo ou a Deus e ao próximo.

Esta é a função da mente e por isso ela é funciona desta forma.

Participante: sendo o espírito o brilho da lâmpada, a poeira que a encobre é o egoísmo ou o seu saber?

Você está se referindo a uma comparação que fiz anteriormente quando disse que todos os espíritos são como lâmpadas que possuem a mesma capacidade de refulgir, mas que algumas refulgem em intensidade variada porque estão cobertas por fora com sujeiras que impedem seu brilhar.

Posso dizer que a poeira que você se refere é o egoísmo, mas esta está em posição inferior às impurezas que agora estamos conversando. Como ele está oculto pelas impurezas, você não vê, mas conhecendo-as pode antever que o egoísmo está por trás de tudo.

É por conta do egoísmo que você gera normas, padrões e parâmetros de justiça. Isto é feito para defender seus interesses: suas verdades, conceitos, posses, paixões e desejos. Este egoísmo existe, mas ele é manipulado hipocritamente pela mente criando códigos que tornem politicamente aceito o egoísmo. Vou dar um exemplo para você entender o que estou dizendo.

Você ajuda os necessitados. Esse é um ato egoísta, pois você só faz isso porque acha certo fazer ou porque acha que este é o caminho que um espiritualista deve percorrer para aproximar-se de Deus ou ainda porque acha que esta é a expressão do amor ao próximo. Ele é egoísta porque está submetido ao seu desejo. Se você não achasse que deveria praticá-lo, não o veria desta forma.

Estes motivos que eu disse que motivam a sua prática da caridade são as impurezas que encobrem o seu ato egoísta. São normas, padrões e critérios de justiça que justificam você fazer aquilo que quer sem aparentar que está sendo egoísta. Por isso são hipócritas. Acontece que você, além de se deixar levar pela hipocrisia que a mente cria, acredita quando ela transforma estes conceitos em certos, justos e cria padrões e normas que são usados para impor aos outros que sigam o que ela acha certo de ser feito.

Portanto, o egoísmo está na raiz das impurezas, mas você não o vê por conta das afirmações hipócritas da mente que transformam atitudes de defesa de interesses individuais em algo que seja aceito coletivamente.

Participante: como utilizar o poder que nos é outorgado sem sermos dominado por ele?

Não se deixando dominar por ele...

Digamos que você está num lugar onde alguém está fazendo alguma coisa de determinada forma que você não considera justa. Neste momento é importante que você esteja desperto, atento ao seu mundo mental, para poder questionar o que está sendo expresso pela formação mental. Vendo que ela está criando a idéia de uma injustiça, para não se deixar dominar pelo poder, você deve questionar-se com relação ao direito de julgar o que é justo ou injusto de ser feito, se existe uma Justiça Perfeita, que é o próprio Deus.

Fazendo isso, terá a consciência de que se comungar com a idéia que lhe veio à mente neste momento, demonstrará a sua intenção de querer ser como Deus, ou seja, como disse a cobra à Eva: querer ter os olhos abertos e saber distinguir o justo do injusto. Tendo esta consciência e movido pela sua intencionalidade primária de vida, que é a busca da elevação espiritual, você pode, então não aceitar o poder que lhe é outorgado naquele momento pela mente.

O resultado deste trabalho é que você não vibra dentro da mesma emoção que a mente propôs a partir do pensamento. O resultado desta não vibração é que a mente perde força e de uma próxima vez ela não usará o mesmo argumento. Agora, se entregar-se, ou seja, continuar sempre compactuando com as criações mentais, a mente reforça o imaginário poder de julgar os outros e cada dia mais vai criar particularidades nos seus códigos para poder acusar os outros.

Lembre-se que o Espírito da Verdade afirma que o ser quando encarnado tem o livre arbítrio entre o bem e o mal. Optando pelo mal, estará aprisionado à mente, à humanidade.