Imperfeições do ser - Textos

A busca da culpa

Participante: temos dó do viciado em elementos humanos porque o amamos ou porque ele como espírito é mais corajoso do que nós nas suas provas?

Não, porque são viciados em achar gente errada. Os seres humanos são viciados em impor erros às pessoas para enaltecer a si mesmo.

Tem algo que não disse hoje, mas se vocês prestaram atenção e conhecem o ensinamento, devem ter reparado. Sabe qual a motivação para a existência do vício? A vontade de ganhar e o medo de perder, a busca pelo prazer e o medo do desprazer, a busca do reconhecimento e o medo da infâmia e a busca do elogio e o mesmo da crítica. Todas as quatro âncoras são o que fazem o ser humanizado se viciar na exigência de que o acontecimento satisfaça suas vontades.

Estou falando de vício em egoísmo, mas para que você seja viciado nisso é preciso que seja egoísta. Se não fosse, não seria viciado nele.

Como são egoístas querem sempre ganhar e têm medo de perder, buscam o prazer e têm medo do desprazer, sempre querem o reconhecimento e têm medo da infâmia, lutam parta serem elogiados e têm medo da crítica. Por causa desta motivação é que se viciam nesta busca, ou seja, mais do que quererem estas coisas, passam a necessitar delas para serem felizes.

Como querem o reconhecimento, viciam-se nesta busca. É por conta dela que estão sempre encontrando erros no que os outros fazem. Para satisfazer sua dependência criam logo um errado, um erro ou alguém que não presta. É por conta desta necessidade de serem reconhecidos que vocês dizem que o viciado em álcool é uma pessoa errada e que merece sua piedade.

Tenho certeza que você não é viciado em álcool. Se fosse, teria dó dos que não são. Diria que eles é que estão errados e teria milhares de justificativas para provar que beber é muito bom. Para poder ter o reconhecimento, a fama, diria que quem não bebe é que não sabe o que está perdendo.

Não sei se você lembra uma conversa que tive com algumas pessoas quando uma pessoa estava ingerindo álcool enquanto eu falava. As pessoas presentes estavam perturbadas por alguém está bebendo no mesmo local onde estava se realizando uma palestra espiritual. Para transmitir o ensinamento que agora estou falando com vocês, perguntei: ‘quem autorizou beber aqui hoje’?

Fiz isso não para buscar um culpado, alguém que tenha autorizado a ingestão de álcool naquele momento, mas foram o que os que não estavam gostando daquilo fizeram. Quando começaram a acusar diversas pessoas por terem autorizado a ingestão do álcool ou até mesmo comprado a bebida, eu disse: ‘quem autorizou é quem está bebendo’.

É sempre assim. Quem acha bom, certo, beber, vai criar normas que permitam a ingestão de álcool; quem não gosta, sempre terá motivos para justificar que tal atitude não deve ser tomada. Por que isso? Quem está certo? Nenhum dos dois...

O álcool e o hábito de beber não têm nada de certo ou errado, por isso não pode ser normatizado. O tratamento que se dá a isso depende exclusivamente aos interesses individuais, ou seja, às paixões que cada um possui. Quem é apaixonado por beber acha certo fazer isso; quem é apaixonado por não beber, acha errado. É explorando estes conceitos que a mente cria o vício, ou seja, a necessidade de que sua opinião prevaleça sobre a do outro. Quando isso não acontece, para que a busca do reconhecimento esteja presente, ela cria a crítica.

Se o viciado em bebida não é errado, porque, então, se ter pena dele? Só tem quem é viciado em não beber.

Na verdade, o ser humano torce para que todos se bebam muito, pois só assim eles podem mostrar o quanto são bondosos, caridosos e se importam com os outros. Fazem isso não por maldade, mas porque são viciados em ser considerados o certo, em serem reconhecidos e elogiados.