Encarnação - Textos

Ecumenismo

Segundo elemento presente nos ensinamentos dos mestres que vamos ver hoje: ecumenismo.

Falar de ecumenismo é uma coisa muito difícil no planeta. Por quê? Porque a ideia que vocês fazem sobre esse tema é a da fusão das religiões. Para a humanidade, a pessoa ecumênica é aquela que não tem religião, mas aceita todas. Por isso o ecumenismo foi definido como o ato de fundir todas as religiões. Acontece que isso é impossível.

Por que é impossível se fundir todas as religiões? Porque uma religião é composta de dois fatores: ritos e doutrina.

Cada religião tem o seu rito, a sua forma de se religar a Deus. Além disso, elas possuem uma doutrina que precisa ser seguida pelos seus fiéis sobre pena de não serem tratados como seguidores daquela religião.

Se a personalidade humana for católica, por exemplo, existe a obrigação de seguir a doutrina católica, ou seja, de acreditar e fazer o que a religião católica apostólica diz que é certo. Se ela não segue esta doutrina, o catolicismo diz: você não pertence a mim.

Sendo espírita, a personalidade humana é obrigada a seguir os preceitos da doutrina desta religião. Do mesmo modo, se ela não seguir, o espiritismo dirá que esta personalidade humana não pertence a ele.

Por isso é impossível fundir as religiões. Veja bem. As doutrinas espírita e católica – apenas para ficarmos nestes dois exemplos – são antagônicas, ou seja, cada uma impõe uma verdade diferente da outra, possui um corpo doutrinário diferenciado, e também impõe obrigações diferentes aos seus seguidores.

Jamais um espírita será aceito por um católico porque os católicos não acreditam em espíritos. Jamais um católico será aceito por um espírita como igual porque ele não acredita em reencarnação.

É por isso que é impossível fundir-se as religiões: cada uma possui uma doutrina que é antagônica a outra. Como fundir algo como água e óleo, ou seja, dois elementos que não são compatíveis?

Por isso, pergunto: como, então ser ecumênico? Como fundir as religiões se elas são antagônicas? Impossível, não? Mas, se ser ecumênico é algo necessário para a elevação espiritual e se não se pode criar um ecumenismo a partir das diversas doutrinas que existem, como realizar isso? Fundindo tudo dentro de si mesmo.

Mais uma vez voltamos à questão do interior e do exterior, como, aliás, é o grande aspecto da evolução espiritual. Reforma íntima não se faz no exterior, mas sim no interior, já disse isso.

Para realizar a reforma íntima é preciso que o ser seja ecumênico, sem esperar que exista um ecumenismo no mundo exterior. Ou seja, que trate como real dentro de si todas as doutrinas religiosas do planeta sem dizer que uma está certa e outra errada.

Parece fácil, não? Porém, eu pergunto: como se transformar em ecumênico com todas as divergências entre as diversas doutrinas? Respondo: não se prendendo especificamente a nenhuma delas.

O que é não se prender a nenhuma delas especificamente? Não achar que só aquilo que determinada doutrina fala está certo. Vou explicar melhor isso.

Quando as doutrinas religiosas dizem que a personalidade humana deve fazer tal ou tal coisa para poderem ser considerada seu fiel o que ela faz? Cria uma lei. Ou seja, as doutrinas religiosas são códigos de leis que criam realidades.

A partir daí volto a perguntar: como não se prender a nenhuma religião especificamente? Não se prendendo as leis que elas ditam.

Portanto, o ecumênico é aquele que não se subordina a leis que as doutrinas religiosas criam para distinguir o certo do errado, o bem do mal. Ecumênico não é aquele que acredita em todas as doutrinas, mas sim aquele que não se subordina a nenhuma delas especificamente.

Dentro de tudo que já falamos sobre reforma íntima, será que o que falei agora está certo? O que é uma lei de uma doutrina religiosa? É algo material: é palavra, é imagem, é ideia. Quem criou estas leis? Um ego.

As leis das doutrinas religiosas são criações de egos, personalidades humanas, a partir de ensinamentos de mestres. Cristo, por exemplo, disse apenas ame. Depois vêm as personalidades humanas e querem dizer como se deve amar, o que é amar e o que não é.

Será que se devem criar leis humanas que precisam ensinar a amar? Eu acho que não.

Quando se cria uma lei dizendo o que é certo, automaticamente se cria o errado. É a lei que diz que algo é errado.

Mas, será que julgar alguém dizendo que ele está errado é amar? Quem ama de verdade, ama incondicionalmente, ou seja, sem criar lei para dizer o que é amar ou não. Portanto, quem se fundamenta numa lei para dizer o que é certo a ser feito, não ama.

Acham que sou eu que estou dizendo isso? Não. O apóstolo Paulo, aquele que melhor compreendeu o ensinamento do Cristo, foi quem disse.

Paulo diz assim: a lei cria o pecado.

Ele falou isso porque o errado só começa a existir quando se coloca uma lei dizendo o que é certo. Se não houver lei para legislar algo, não há certo e nem errado.

Depois de falar assim da lei, o apóstolo conclui: Deus não ama aquele que cumpre a lei, mas sim aquele que age com fé, como Abraão agiu ao oferecer seu único filho em sacrifício ao Senhor.

Portanto, é Paulo que diz que a elevação espiritual (o amor de Deus) é conquistada pela fé e não pelo cumprimento da lei ditada pelas doutrinas religiosas.