Encarnação - Textos

A felicidade humana e a espiritual

Afirmamos que o bom termo da aventura encarnatória para o espírito é alcançado quando este vivencia a felicidade. Esta é a visão espiritual sobre o sentido da vida humana. Para o espírito, a vida humana tem como objetivo primário alcançar a felicidade.

Mas, para o ser humano, qual é o bom termo de uma vida humana? Ou seja, qual o objetivo da vida para o ser humano? Ser feliz.

Para que que o ser humano trabalha? Para que estuda, come, namora ou casa? Para ser feliz. Tudo que o ser humano pratica pode ser considerado bom por ele se no final lhe trouxer a felicidade.

Isso quer dizer que a felicidade humana é um aval da realização do espírito? O ser humano que alcança a felicidade, ou seja, que vive somente momentos que considera como bons é sinal de que o espírito que está vivendo aquele personagem alcançou a elevação espiritual, sintonizou-se com Deus? Não...

A ideia de buscar a felicidade é, vamos dizer assim, uma lembrança da consciência espiritual. Ela existe para lembrar ao espírito que ele deve buscar a felicidade. A única diferença está na felicidade que se busca: a incondicional ou a condicional.

A felicidade humana, a condicional, não pode ser considerada como realização espiritual porque a que o espírito sente não está condicionada a nada. A única coisa que o espírito quer é a sintonia com Deus. Essa intencionalidade acaba com a condicionalidade da felicidade a qualquer outra coisa. Enquanto a felicidade humana está condicionada à realização de desejos e vontades, a dos espírito surge apenas como resultado da sua ligação com o Pai.

Por isso, apesar dos dois aparentemente viverem a mesma busca, essa aparência é falsa. O ser humano busca a felicidade condicionada, o espírito busca a incondicional. Isso faz com que o objetivo humano de vida e o espiritual sejam diferentes.

O ser humano é feliz quando acontece o que ele quer, quando ganha alguma coisa, ou quando é reconhecido como o certo. Por isso, ele busca sempre comandar os acontecimentos para que posso conseguir o que quer, ganhar alguma coisa e o reconhecimento de que está certo. Esse é o objetivo de um ser humano ao viver algum acontecimento.

Já o espírito não se preocupa com isso. Ele não objetiva comandar os acontecimentos para poder ganhar alguma coisa, conseguir o que quer ou alcançar o reconhecimento. Por isso, durante a vivência dos acontecimentos da vida humana ele não se ocupa em comandar os acontecimentos. Como o que ele quer é a felicidade incondicional e como essa é o resultado da vivência do Amor Universal, a ocupação do espírito a cada momento da vida humana é com a harmonia, a paz, a verdadeira compaixão e com a igualdade.

A felicidade humana não é universal, mas sim individual. Ela existe apenas como satisfação e não como fruto da paz e harmonia com o mundo em que vive. Por isso afirmo que a felicidade humana não é um sentimento que o espírito vive, mas uma sensação criada pelo ego como provação ao ser universal.

O espírito encarnado que vive ligado ao ego e que credita à sua personalidade transitória a realidade das coisas, se subordina às sensações que são criadas pelo personagem e por isso acredita que a felicidade condicionada a bens materiais é real. Já aquele que compreende que ele é um espírito que está em uma aventura encarnatória, ou seja, que está ligado a um ego que existe apenas para lhe tentar e não para criar realidades, condiciona a sua felicidade apenas na sintonia com Deus.

A diferença entre as duas felicidades seria o que ensina Cristo quando fala na busca do bem terrestre ou celeste (‘Não amealhe bens na Terra, mas sim nos céus’). A felicidade humana é um bem terrestre, porque depende de elementos materiais; já a felicidade incondicional sentida pelo espírito é o bem celeste, porque se fundamenta em elementos universais.

Sendo assim, aquele que durante a sua encarnação consegue sintonizar-se com Deus está amealhando bens no céu; já aquele que não estiver sintonizado com Deus, mas sim com o ego, com as falsas realidades que o personagem cria, estará colecionando bens na terra.

Portanto, o espírito não deve iludir-se com a felicidade criada pelo ego. Deve sim compreendê-la como mais uma provação, ou seja, como mais um elemento ao qual ele precisa não sintonizar-se.

Com isso, já conhecemos o que é encarnação, o que é o processo encarnatório, já sabemos o que fazer para vencer a encarnação e sabemos, também, o que se receberá quando nos elevarmos.