Encarnação - Textos

A necessidade de leis

Mas, tem outro aspecto que quero abordar neste momento a respeito do tema ecumenismo: ele deve ser aplicado a todos os quesitos legais e não apenas a alguns. Ou seja, você não deve escolher que lei tem que cumprir ou não.

O espírito precisa se libertar da ação do ego de forma total e não apenas de algumas partes deles. Por isso, é preciso libertar-se da coerção de todos os ditames legais e não de apenas alguns...

A partir disso, pergunto: dá para viver sem leis? Vamos imaginar que de hoje para amanhã acabem todas as leis: você acha que a vida na sociedade poderia ser vivida sem lei?

Todos aqui responderam não. Uma pessoa ainda disse: seria uma desordem.

Devo, então, entender que a existência de leis é fundamental para a vida humana. Certo?

Participante: nesse planeta, nessa fase que ele se encontra acho que sim.

Está certo.

Agora me digam: para que uma lei é feita? Pelo que eu sei é para proteger o direito dos outros, certo? A lei é criada para que ela proteja o direito de cada cidadão, ou seja, para que não aconteça nada errado.

A partir dessa ideia, pergunto: alguém é capaz de me dizer algum erro que alguma lei conseguiu extinguir?

Reparem bem: se a lei protege o direito das personalidades humanas evitando que aconteça o errado, isso quer dizer que não existem mais assassinatos e nem roubos, pois há leis que coíbem isso. Certo?

Participante: o argumento que já ouvi é que sem as leis estaria pior.

Ah, isso é um achômetro: alguém acha que estaria pior, mas não tem a menor certeza de nada.

A consciência do que acabei de dizer (que a lei não cumpre seus objetivos) é importante para aquele que pretende promover sua elevação espiritual. Isso porque o ego diz ao espírito que a existência de leis é necessária para que se preserve o seu direito, mas, mesmo existindo leis, ele não é preservado. Então, para que lei?

A personalidade humana através do seu mundo das ideias afirma que a existência de leis é necessária, porque sem ela as coisas poderiam ficar piores. No entanto, ela não tem a mínima ideia do que está falando, já que não conhece na prática o que é viver num mundo sem leis.

Sabe como seria uma existência sem leis? A mesma que é hoje, quando existem as leis.

Ora, se a lei não extingue nada, se não coíbe nada, como pode alterar alguma coisa? Toda vida das personalidades humanas é legislada; cada passo que se dá nesse mundo é legislado. Para cada atividade humana existe uma legislação.

Apesar deste enxame de códigos que dizem o que é certo, o comportamento humano jamais se alterou ao longo dos séculos. Os mesmos crimes legislados como errados há dois continuam sendo praticados até hoje.

Por isso volto a repetir: as leis não servem para nada. E, se elas não servem de nada, a vida continuaria igual sem ela.

Participante: o fim das leis acabaria só com as obrigações.

Isso. O fim da lei acabaria com a obrigação e com a cobrança da mudança do próximo.

Antes disse que as leis não servem para nada, mas não falei a verdade. A lei serve sim: para poder julgar e acusar o outro. Ou seja, a lei é um instrumento carmático que cria uma situação de não amor que serve de provação para o espírito que está realizando a sua grande aventura.

Sem acabar com o apego às leis o espírito jamais vai amar, pois jamais aceitará que o outro seja do jeito que ele quer ser. Isso porque, como já disse, a lei é um parâmetro para medir e julgar o que os outros fazem.

Vou dizer mais ainda: quando o espírito liberta-se do valor que a personalidade humana dá às leis, automaticamente surge a consciência amorosa ou a consciência que ama. Somente quando esta consciência for alcançada, o espiritualismo (a libertação dos elementos do mundo material como reais) acontecerá.

Quando o espírito se conscientizar de que as leis, sejam elas judiciárias, morais ou pessoais não servem para nada e, por isso, libertar-se da obrigação de seguir seus preceitos, poderá, então, ser realizado o que a lei não conseguiu fazer: unir todos em pé de igualdade.

Falei em leis morais e vocês devem estar achando estranho, pois estas são as mais defendidas em qualquer trabalho religioso. Mas, será que a lei moral foi capaz de extinguir o ato imoral? Se não foi, para que continuar existindo?

Participante: tendo como base outros estudos que fizemos e que afirmam que nada poderia ser diferente do que foi até então, eu acredito que isso que você está falando agora nós devemos começar a treinar daqui para frente. Seria isso?

Porque tudo foi do jeito que foi?

Participante: porque foi escrito assim.

Mas, porque foi escrito assim?

Participante: porque Deus sabia já do nosso comportamento.

Ah, do seu comportamento.

Se tudo foi do jeito que foi é porque o seu comportamento era de uma determinada forma. Por isso, não se pode dizer que tudo teria que ser do jeito que foi. Na verdade, foi do jeito que foi porque vocês, espíritos, tiveram determinado comportamento. Carma.

Ou seja, o mundo está do jeito que está porque vocês, espíritos, são do jeito que são. Agora, façam com que vocês se mudem para que o mundo seja diferente.

Participante: foi isso que eu disse; não poderia até então ter sido diferente.

Não, não poderia.

Eu não estou criticando o passado. O que estou mostrando é a característica do ser humano.

Além disso, estou mostrando ao espírito: é aqui que você está (está apegado ao ego que diz que isso é certo) e precisa vir para cá (viver sem apego a estas ilusões criadas pela personalidade humana).

Segunda coisa que estou dizendo ao espírito: não pegue a lei que a personalidade humana vivencia e jogue no lixo.

Foi isso que eu disse? Eu mandei jogar as leis no lixo? Não. O que falei é que o espírito deve ir lutando contra o ego para aos poucos se libertar dele. O que disse não foi para acabar com as leis, mas para libertar-se da obrigação de segui-las.

Lembre-se do que já disse: não adianta querer renascer sem antes morrer. Esta morte não acontece de súbito: é preciso que o ser vá se libertando aos poucos.

Tal pensamento vale para tudo que já falei aqui, inclusive a questão da necessidade de se alimentar. Não dá para o espírito que está vivendo a sua aventura encarnatória (ligado ao ego) imaginar que pode, de uma hora para outra, não mais sentir a fome que o ego cria. O que o ser precisa fazer é paulatinamente ir se libertando desta sensação para que aos poucos surja nele uma consciência amorosa. Aí sim, ele pode mudar sua ação e não mais dar o valor de real àquilo quer a personalidade humana cria.