Encarnação - Textos

Nada pode ser aceito

Esta é a primeira característica da humanidade do ser e a primeira coisa que precisa ser alterada. Mas, como falei, esta alteração não se trata de alterar valores ou nomes das formas.

De nada adianta ao espírito que quer promover a sua reforma íntima começar a chamar a parede de rabo ou de qualquer outra coisa. Isso simplesmente não vai lhe levar a lugar algum. O que ele precisa alcançar é a ausência de qualquer valor humano. Como disse Cristo, vencer o mundo, vencer os valores que são dados às coisas do mundo pela personalidade transitória.

O que é parede? Não sei. Este é o trabalho que o espírito precisa realizar para alcançar êxito na sua aventura.

Sabe por que isso? Porque além das verdades individuais (conceitos individuais), existem diversas verdades (conceitos) que são coletivas. Estas verdades surgem de forma espontânea no ego e por fazerem parte de uma chamada cultura geral, o espírito se prende automaticamente a elas como real a partir do momento que vive a realidade de uma forma.

Na parede nós temos um bom exemplo disso. Quando se fecha a porta de um quarto cercado de paredes, o ego humano cria a ideia de que ninguém está lhe vendo. Por quê? Porque existe um conceito geral que afirma que a parede bloqueia a visão.

Doce ilusão. Tem muito mais gente observando as ações que estão sendo praticadas neste momento do que se este ser humano estivesse no campo de um estádio de futebol.

Que ver outro exemplo? O ego afirma: eu sou mulher, pois possuo um corpo de mulher e por isso devo me identificar como mulher. Quantos conceitos surgem a partir dessa identificação de um sexo que o ser humano (ego) se acha obrigado a cumprir? Só para ficarmos no superficial, estes conceitos dão aspecto de real a ideias como ter que andar sempre bem arrumada, de brincos, usar maquilagem, etc. Não é isso?

Pois bem, o espírito que vive como real a ideia eu sou mulher, sente-se obrigado a fazer tudo isso. Quando por qualquer motivo que o próprio ego crie para não fazer o que lhe é imposto, a mesma personalidade humana gera a insatisfação de não ter realizado o que a feminilidade exigia e justifica que esta insatisfação é real porque o conceito coletivo não foi atendido. Pronto, lá vai o espírito aceitar esta insatisfação ao invés de optar pelo amor universal.

Além do mais, o ego utiliza-se dos mesmo conceitos para julgar os outros. Justamente pelo espírito aceitar a identificação como mulher, passa a vibrar de uma forma não universal quando a personalidade humana cria a ideia de cobrar de outras mulheres o cumprimento dos conceitos humanos.

Veja, então, nos pequenos e corriqueiros exemplos que dei, como se prender a forma, ou seja, as características humanas que o ego cria e diz que são reais através das percepções, leva o ser a agir de uma determinada forma que não é universal. Estas coisas pequenas do dia a dia agem como se fosse uma bola de neve levando o espírito a um aprisionamento profundo a tudo aquilo que o ego diz que é real, àquilo que o ego determina para aquela forma.

Por isso na reforma intima é fundamental o espírito não se identificar com as formas que a personalidade humana cria.

Volto a repetir: não se trata de mudar de seis para meia dúzia. De nada adianta o espírito querer ser assexuado, ao invés de ver-se como homem ou mulher, porque esta condição humana também possui diversos conceitos coletivos que vão aprisionar o espírito às emoções que o ego criará.

Para a reforma íntima, o espírito deve não aceitar o valor de ser homem ou mulher, a realidade de ser dessa ou daquela forma. Ao não aceitar esta imposição do ego, todas as obrigações inerentes a ela somem e com isso as emoções são injustificadas.