Encarnação - Textos

Reformar não é mudar

Pergunto: o que é um instrumento de reforma intima? Algo que lhe ajuda a libertar-se do ego.

Acho que isso é claro, não? Se promover reforma intima é libertar-se do ego, o instrumento da reforma intima tem que ser algo que vá ajudar o espírito a libertar-se da personalidade transitória.

O que o ego cria quando ele traz ao consciente uma parte técnica e um sentimento? Quando cria a parede e uma sensação com relação à ela, o que ele cria? Uma realidade.

O ego cria realidades, como por exemplo, ‘aquela parede é feia’. Esta ideia é o resultado da conjunção da criação técnica (parede) com uma emocional (feia). Quando esta ideia chega ao consciente, se transforma, então, numa realidade...

Mulher bonita, mulher que não presta, coisa velha, coisa nova, certa, errada, bonita, limpa, suja: tudo isso são realidades que criadas pelo ego e não realidades reais. Não são reais porque não existe a forma que está sendo adjetivada e nem o adjetivo que lhe é aplicado. Isso porque o adjetivo é fruto de um conceito individual e no universo apenas o que é universal é real.

Com esta simples observação, chegamos, então, a uma conclusão para algo muito discutido no planeta de vocês: se reforma íntima é libertar-se das realidades criadas pelo ego, ela se consiste em não acreditar nos adjetivos que o ego cria para as coisas.

Esse é o primeiro detalhe do estudo da espada que Cristo diz ter trazido.

Sendo a reforma intima a mudança na sua relação como o ego e se o que ele faz é criar realidades, ela consiste-se em libertar-se das realidades que o ego cria sobre as coisas. Simples, não?

Agora repare: não estou falando em mudar a realidade. Não se trata de ao achar uma parede feia, passar a achá-la bonita. Isso porque parede não é feia e nem bonita: parede é parede.

Parede é uma representação por formas do fluído cósmico universal. Como o fluído cósmico universal não é feio nem bonito, o espírito precisa aprender a se relacionar com a parede que é criada pelo ego à partir dele sem nenhuma opinião individual.

Sendo assim, posso dizer que o espírito encarna para provar que é capaz de se relacionar com a parede e todas as coisas do mundo material sem os valores que o ego propõe para elas.

Ficou claro isso? Não é apenas uma dedução óbvia de tudo que já estudamos em outros livros? Mas, não é isso que a cultura humana fala sobre o tema.

A cultura humana afirma que reformar-se é mudar a parede e as demais coisas do mundo. Ela diz que reformar-se é mudar-se externamente, ou seja, mudar as coisas do mundo. Isso é impossível e está fora do controle do espírito.

Como vimos, o espírito escolhe antes da encarnação o gênero de suas provações. Com isso ele cria um padrão personalizado de ser, pois a forma como será, ou seja, como entenderá as coisas do mundo, é a sua provação. Se ele se mudasse externamente, ou seja, se tivesse ideias diferentes sobre as coisas, a encarnação não mais corresponderia ao gênero de provas pedido por ele mesmo.

Portanto, o que precisa mudar é a forma do espírito interagir com a parede no seu íntimo e não mudar a parede ou qualquer outro elemento material.

Por exemplo: muita gente diz que praticar caridade é doar um prato de comida. Se isso fosse verdade Cristo teria aberto um restaurante para dar comida de graça a todos. Mas, não foi isso que ele fez.

O quê que Cristo fez na verdade? Ensinou o espírito a vivenciar realidades diferentes daquela que estava enxergando. Todo trabalho de Cristo é no sentido da construção de uma nova realidade a partir da fé em Deus. Quando o espírito usa a fé em Deus ao invés do que lhe vem à razão, todas as coisas deixam de ser o que pareciam ser e ganham uma nova realidade.

É isso que é o trabalho da reforma intima: alterar a vida que o espírito vive, a forma como ele vivencia os valores da sua vida carnal e passar a viver tudo de uma forma equânime e com fé. Ficou claro isso?

Este é o primeiro aspecto que queria falar hoje. É importantíssimo tê-lo em mente antes de falarmos propriamente nas ferramentas, pois eles criam uma nova dimensão para as ferramentas que vamos comentar.

A partir dele podemos entender que as ferramentas para a reforma íntima precisam ser elementos que destruam uma realidade. Que destruam a realidade com a qual o ser humano vive. Mas, além de tudo, as ferramentas têm que ser elementos que não criem uma nova realidade.

Ou seja, elas precisam destruir o feio da parede, mas não podem criar uma parede bonita. Precisam criar só a realidade parede, sem adjetivos, sem opiniões individuais.