Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

Instrumentos da ação

Desta análise que fizemos da utilização dos conhecimentos científicos por parte da razão humanizada, nos fica clara uma característica que não deixa o ser humanizado entrar em comunhão com Deus: conceder a causa dos acontecimentos a um agente.

Quem causa os acontecimentos que vocês vivem são os objetos e demais seres humanizados com que convivem. É o seu filho, o seu marido ou qualquer outra pessoa que causa um acontecimento; é o carro que não pega ou a televisão que para de funcionar. O causador do seu incômodo foi o vizinho que colocou a música alta e a do seu bem estar foi o remédio, já que ele foi o agente da sua cura. Ou seja, para o ser humanizado há sempre um agente da ação e por causa disso, ele não consegue vivenciar a ação justa e amorosa da Causa Primária.

Só consegue conviver com Deus aquele que vive tudo originado primariamente no Senhor. Apenas esta consciência leva um ser humanizado a ver no acontecimento a ação amorosa da Justiça Perfeita que pode levar o ser a aproveitar a sua oportunidade de elevação e promover a reforma íntima.

A razão que estabeleça Deus como o único agente de tudo o que acontece é a que os espiritualistas e espíritas precisam usar. Por ser formada pelo ensinamento dos mestres, ela estabelece a Realidade e apenas quem vive no mundo Real pode conviver com Deus, pois Ele está apenas neste mundo. No mundo ilusório, o mundo criado pelas formações mentais da razão má educada, o ser humanizado convive apenas com outros seres humanos ou com elementos do mundo terrestre e por isso só comungam com estes elementos. A razão que não possui outro agente primário para a ação não é poluída pelos sistemas humanos de vida, pela soberba ou pelo egoísmo.

Para esta razão, portanto, não deveria existir para os seres humanizados outro agente dos acontecimentos do que o Senhor. No entanto, a soberba de vocês não consegue viver com esta realidade, pois senão o ser humanizado ficaria em segundo plano e com isso perderia. Por causa desta soberba é que, mesmo aqueles que ainda esporadicamente aceitam a ação como oriunda em Deus, para não ficarem em segundo plano, dizem que o Pai os utiliza como instrumento para a geração da ação. Mas, isso também é irreal.

Tudo que existe acontece a partir do faça-se de Deus. Para entendermos o que estou querendo dizer, podemos ler o livro Gênesis da Bíblia Sagrada no trecho que aborda a questão da formação do Universo, mas como o mesmo ensinamento está em O Livro dos Espíritos e como vocês são espíritas, vamos usar este texto:

“38. Como criou Deus o Universo? Para me servir de uma expressão corrente, direi: pela sua Vontade. Nada caracteriza melhor esta vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênesis – Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita”.

Reparem no que diz o Espírito da Verdade: a luz foi feita. Ele não fala que Deus utiliza alguém para fazer e nem que o próprio Senhor age para fazer: a coisa se faz. Não há agentes para ação, mas apenas a ação.

Por isso, não foi o vizinho que aumentou o volume do rádio nem ele foi usado por Deus como instrumento desta ação. Não foi nem o próprio aparelho eletrônico que emitiu o som em alto volume: Deus disse faça-se o barulho e ele foi feito. O barulho foi feito sem para que isso ninguém ou nada precisasse agir. Eu diria até que se não houvesse um ser humano em casa ou se não houvesse o aparelho, se Deus dissesse faça-se, haveria som.

Agora, se o som alto não precisa de uma pessoa para ligar o aparelho e nem dele para existir, como você pode ouvi-lo? Para lhe responder eu pergunto: se tudo acontece pelo faça-se de Deus, quem disse que você ouviu algo?

Tudo é composto por todas as coisas que existem. Se o som surge do faça-se de Deus e não gerado pelo aparelho, a sua audição também não gerada por você, mas é um fruto do faça-se. O Pai diz faça-se a audição e você imagina que ouve.

Mais: se você não cria a audição, será que foi você que criou o incômodo que está sentindo? Claro que não. Ele também é um elemento que surgiu do faça-se do Senhor. Porque Deus fez estas coisas? Por causa da sua provação.

Ele diz faça-se o som e o som é feito. Diz faça-se a audição e você tem a ideia de estar ouvindo um som alto. Ele diz faça-se o incômodo e você acha que está incomodado e o agente desta emoção é vizinho que causou o som alto. Pronto, agora você tem uma prova, ou seja, tem uma oportunidade de optar entre permanecer em comunhão com Deus ou comungar com as ideias criadas pela razão má educada.

Tudo o que Deus diz faça-se tem como objetivo criar uma opção para ver como você vai optar. No exemplo que estamos usando Ele está perguntando se você vai se deixar levar pelo incômodo que surgiu do seu egoísmo, da sua vontade de não ouvir aquele som, ou se vai amar ao próximo como a si mesmo, e por isso conceder-lhe o direito de ouvir a música no volume que quiser, e a Deus acima do barulho e do incômodo que Ele lhe criou como provação?