Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

A realidade e o maya

O problema é que a mente de vocês ainda trabalha com a ideia da existência do Deus como um Ser, um espírito. Mais: que Deus é apenas este ser. É por esta ideia, que surgiu com Abraão, que os seres humanizados ocidentais dificilmente entram em contato com o Senhor. Eles querem aproximar-se deste Ser para chegar a Deus, mas isso não é preciso para se conviver com Ele. Vamos entender isso...

Deus é tudo e tudo é Deus. Esta é uma conclusão que se chega quando se entra na posse do ensinamento Deus é Causa Primária de todas as coisas. A partir do momento que entendemos que tudo é gerado primariamente por Ele, temos que entender que tudo é Ele mesmo.

Agora, é preciso viver coisas como Deus e não viver com as coisas dizendo que elas são Deus. Vou tentar explicar isso...

Uma pessoa um dia me disse que depois de ter entendido isso que ela poderia, então, conviver com o seu cachorro como Deus. Isso é impossível. Quem vive com um cachorro, dando o nome de Deus a ele não convive com o Senhor, mas ainda com um cachorro. Para se chegar à realidade é preciso acabar com o elemento e não apenas tratá-lo como sendo Deus.

O que seria tratar o cachorro como Deus? Seria deixar de ver naquela forma um animalzinho bonito, puro, etc. Estes adjetivos se aplicam a um cão e não a Deus. Para conviver com aquela forma dentro da sua Realidade, Deus, é preciso não aplicar adjetivo nenhum a ela, pois como Ensina o Espírito da Verdade, o ser humanizado não pode conhecer o Pai (pergunta 14). Se não pode conhecê-Lo, como adjetivá-Lo?

Além do mais, quem possui um cachorro sempre vai querer que ele faça as coisas como esta pessoa quer que sejam feitas. Ou seja, cria exigências para as ações do elemento material. Quem quer conviver com Deus não faz isso: aceita tudo que o outro causa sem colocar restrições ao que é feito. Por isso, se ainda há uma cobrança de que o cachorro não lata ou que faça as suas necessidades apenas num lugar, este ser não está convivendo com o Senhor, mas apenas chamando um cachorro de Deus.

Quem consegue conviver com o elemento material como se fosse Deus, não aplica adjetivos ou descrições a ele. Vive como se deve conviver com o Pai: não adjetivando o que Ele faz ou é nem impondo condições para a convivência. Quem age assim com os elementos do mundo material consegue viver com Deus e entra na Realidade do Universo, pois todos os elementos são Deus.

Para compreender o que é conviver dentro da Realidade, ou seja, conviver com os elementos mundanos como sendo o Pai, temos que decodificar a ideia sobre um momento a partir dos ensinamentos que vimos aqui. Se fizermos isso, chegaremos à Realidade das coisas. Para darmos um exemplo de como chegar a ela, vamos usar a frase ‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’ para descrever um momento que iremos colocar dentro da Realidade do Universo a partir dos ensinamentos que conversamos aqui.

Nós vimos que Deus é a Causa Primária de todas as coisas que existem. Sendo assim, tudo o que existe é o próprio Deus. Usando este conhecimento na frase que estamos analisando ela deve mudar. Ao invés de usarmos a ideia ‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’, devemos usar a seguinte ideia: ‘Deus ouve Deus alto e incômodo que Deus gostaria que parasse’.

Compreenderam o que fiz? Eu retirei da realidade humana você e o som porque as duas coisas são Deus. No lugar dela coloquei Deus. Só que ele não é só os objetos, mas também a ação que está acontecendo.

Como já tinha dito anteriormente, você não ouve, mas o Pai cria a ideia de uma audição. Sendo assim, o ato de ouvir no nosso exemplo também é Deus. Mas, como isso é uma ação, o que faz este elemento ser diferente das pessoas e objetos, e como a frase ficará muito repetitiva se usarmos novamente o vocábulo Deus no lugar do verbo ouvir, vamos criar uma palavra: deusar. Deusar é a ação que o humano confere a si mesmo, aos objetos ou a outras pessoas, mas que na Realidade é o próprio Deus, pois é algo que Ele causa.

A partir daí nossa frase fica, então, assim: ‘Deus deusa Deus alto e incômodo que Deus gostaria que parasse’. Acontece que como falamos, quando se trata de Deus não podemos usar adjetivos e nem impor condições para agir. Por isso precisamos retirar de nossa Realidade o adjetivo alto e incômodo e a condição de parar.

Retirando isso, o que sobra? ‘Deus deusa Deus’. Esta é a Realidade do Universo: Deus deusa Deus e o ser humanizado acredita que existe um ele, um objeto, outras pessoas, as condições e adjetivos que se aplica às coisas.

Reparem que são duas realidades diferentes: a universal (Deus deusa Deus) e a individual (‘eu ouço som alto e incômodo que gostaria que parasse’). A segunda é formada pela razão má educada, soberba e egoísta; a primeira é formada por uma razão que se atenta aos ensinamentos dos mestres.

A realidade individual, Krishna chama de maya. Maya quer dizer ilusão. A realidade criada pela razão má educada, soberba e egoísta é uma ilusão, algo que se vê onde há outra coisa – e por isso Krishna a chama também de miragem. O que está por trás desta miragem é a Realidade Universal.

Apenas quem vive na Realidade pode comungar com Deus, pois quem vive no maya está sempre conferindo ações a agentes que não o Senhor e com isso não vivencia o ensinamento sobre a Causa primária. Quem vive a ilusão não pode vivenciar a paz e a harmonia que surgem da convivência com Deus, pois é guiado pela mente má educada, soberba e egoísta que sempre irá querer obter uma vitória. Por conta disso, no dia que quiser ouvir um som alto dirá que isso é justo, mas no dia que não quiser irá criticar o som dos outros.