Comunhão com Deus-Textos-2-Convivendo com Deus

A complicação gerada pelos seres humanizados

Agora que já respondemos diversas perguntas sobre a questão da reforma íntima, vamos continuar na nossa busca de comungar com Deus?

Já falamos bastante sobre o relacionamento com o Pai através da vivência da Causa Primária que traz a Justiça Perfeita, mas nós pouco falamos com relação à vivência do Amor Sublime. Conviver com a Causa Primária gerada por uma fonte que representa o Amor Sublime é viver em uma comunhão amorosa. Disso nós pouco falamos, então, vamos abordar este tema agora...

A questão de se entrar em uma comunhão amorosa com Deus é simples: basta amá-Lo. Quando se ama ao Pai, este sentimento serve como base para a comunhão entre os dois. Neste momento, o mandamento exigido por Cristo para a elevação foi alcançado: amar a Deus. Portanto, aprender a amar a Deus é o caminho para se alcançar a perfeição.

Se a elevação espiritual se consiste apenas em amar a Deus, ela deveria ser uma coisa simples de ser feita, não? Realmente o é; o problema é que os seres humanizados guiados por uma razão má educada, soberba e egoísta complicam a história. Vamos entender isso...

Para compreender a complicação que a razão humana gera, vamos ver mais de perto a questão 115 de O Livro dos Espíritos:

“Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber”.

Paremos nesta parte para compreendermos perfeitamente a complicação gerada pelo ser humanizado para a caminhada no sentido de comungar com Deus. Depois seguiremos na nossa análise desta questão que leva o ser humanizado a complicar-se no momento que busca uma convivência amorosa com o Pai.

Segundo o Espírito da Verdade, todos os espíritos são criados simples e ignorantes, ou seja, sem saberes. Para vocês, quando é que ele deixa de ser ignorante, ou seja, quando passa saber algo? Quando ele transforma uma informação numa convicção, num saber.

Ter conhecimento e saber são coisas diferentes. O conhecimento é apenas uma informação; saber é transformar esta informação numa verdade. Por isso posso dizer que o saber é o fruto do conhecer, é aquilo que se origina no conhecimento.

O que disse Deus a respeito do fruto da árvore do conhecimento aos espíritos?

“Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore, pois no dia em que você a comer, certamente morrerá”. (Gênesis, 2, 16 e 17)

Quando digo que esta mesa é branca, isto é uma informação, é a árvore do conhecimento. Quando você come o fruto dela adquire um saber, ou seja, esta mesa só pode ser branca. A cor branca que se dá a mesa deixou de ser uma informação e virou uma verdade. Por ter adquirido esta característica será usada pela razão para propor soberba e egoísmo. Por causa disso é que Deus orienta os espíritos a não saber, ou seja, a não transformar as informações em saberes.

Vamos continuar a leitura da pergunta 115.

 “A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los...”

Repare no termo usado pelo Espírito da Verdade: esclarecer-se. Ele não fala em saber, em transformar informações em saberes, mas de obter uma informação que esclareça o assunto.

Esclarecer-se é receber informações que joguem luz sobre um determinado assunto. No caso da mesa, por exemplo, esclarecer-se é receber a informação que a pigmentação que é percebida recebe o nome de branco. Isso, no entanto, não pode virar um saber, uma convicção. Vou explicar isso melhor.

Se eu disser que esta mesa é azul, vocês certamente vão rir de mim. Dirão que sou daltônico ou maluco. Mas, será que sou mesmo? O que é a cor branca segundo a ciência humana? A soma de todas as cores. Portanto, a cor azul está nesta mesa, ela compõe a pigmentação que vocês chamam branca. A mesa, então, pode ser classificada de azul sem que por isso eu seja diferente de vocês.

Estando a cor azul ali, porque você não aceitou isso quando eu falei? Porque convive com a informação branca como verdade, como certa, ou seja, porque a transformou num saber. Quando aconteceu a diferença entre o que eu disse e o seu saber a sua mente egoísta teve que defender sua verdade e por ser também soberba, ou seja, quer obter vitórias sobre os outros, vai explorar este fato e fazê-lo lutar contra mim para provar que a pigmentação dela tem o nome de branca.

As missões que Deus dá aos espíritos são para esclarecê-los e não para alcançar saberes. O que seria esclarecer-se com relação ao exemplo que estamos usando? É chegar à seguinte consciência: ‘eu tenho a informação de que esta cor é branca, mas ela não é universal, pois tem gente que acha que ela é azul’. Com esta ideia você chegou ao esclarecimento máximo que o espírito pode alcançar: ninguém possui a Verdade Universal, Absoluta, sobre as coisas. Todos apenas possuem verdades relativas, informações que não são tomadas como verdadeiras por todo mundo e que se alterarão ao longo do tempo.

Mas, como são guiados pela razão mal educada, soberba e egoísta que precisa de verdades para poder dar vazão a estas suas características, transformam o que o Espírito da Verdade falou como uma necessidade de se adquirir novos saberes, de obter uma grande quantidade de informações e transformá-las em verdades. Esta é a complicação que o ser humanizado coloca para amar a Deus.

Hoje em dia o moderno espiritualismo, por conta desta questão de O Livro dos Espíritos, transformou-se numa busca incessante de saberes. Chegaram ao ponto de organizar uma faculdade de ciências espíritas, ou seja, um local inteiramente dedicado a descobrir o que o homem não tem condições de penetrar, como ensinou o Espírito da Verdade.

Só que quando agem assim, os espiritualistas e espíritas não veem que estão municiando a razão soberba e egoísta e que por causa da sua má educação ela vai usar isso para nutrir os vícios humanos que o espírito veio à carne para provar a si mesmo que abre mão.

“Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos esses sistemas...” (pergunta 14)

A razão trata cada saber como um tesouro que ela conquista. Por causa disso o egoísmo, que é o vício mais radical (pergunta 913), age orientando-o a defender este saber do ataque dos saberes dos outros. Por isso o Espírito da Verdade orienta com relação ao combate ao egoísmo: “Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades” (pergunta 913).

A razão precisa de verdades para poder ser egoísta. Sem elas, não há tesouros para serem defendidos e com isso nada há a se defender. Por isso, não adquirir saberes, ou seja, não transformar informações em certeza é como matar a razão de sede ou inanição.

Quando você acredita (sabe) que existe um lugar certo para que um livro seja colocado, adquiriu um elemento que será explorado pelo egoísmo. Acontece que outras pessoas possuem outras verdades sobre o lugar onde o livro deve estar e, também atentas ao seu egoísmo, o muda de lugar. Quando isso acontece, o que ocorre? Você comete a injustiça de dizer que ela é errada, por mais que a ame vai tentar ensiná-la qual o lugar certo para ele estar e com isso não praticou a caridade que é dar ao próximo aquilo que quer para si: o direito de saber o lugar certo para o livro.

Isso faz aquele que está preso à razão mal educada, soberba e egoísta. Já aquele que busca a comunhão com Deus, aquele que possui valores compatíveis com os ensinamentos dos mestres, mesmo possuindo a informação de que o lugar do livro é ali, ama ao próximo como a si mesmo e por isso não o critica por tê-lo deixado em outro lugar. Com isso não julga e conseguiu retirar a trave do seu olho que estava vendo cisco no dos outros.

Quando você chega à conclusão que, mesmo tendo a informação de que existe um lugar para o livro estar, ele pode estar em outro porque a sua verdade não é absoluta, o que aconteceu? Esclareceu-se... Agora posso chegar à essência real do ensinamento do Espírito da verdade nesta questão 115.

Cada ser nasce sem saber. Deus dá a cada um uma missão, uma vivência de acontecimentos. Em cada uma delas o espírito recebe uma informação. Com que objetivo isso acontece? Para esclarecê-los que aquela é apenas uma informação temporária que não deve ser tratada como Verdade Absoluta. Com isso ele alcançou o esclarecimento sobre a Realidade do Universo.

Vocês acreditam que no Universo todos os espíritos comungam das mesmas verdades, que todos sabem a mesma coisa. Isso é ilusão. A multiplicidade de visão sobre determinado tema é imensa. Os seres universais possuem compreensões diferentes sobre o mesmo tema.

Apesar disso, vivemos em comunhão. Como? Respeitando o direito que o outro tem de acreditar naquilo que ele quer. Esta é a essência do amor ao próximo como a si mesmo que o Cristo ensinou.

Viram como não estão esclarecidos sobre a Realidade do Universo? Repararam como precisam deste esclarecimento para poder conviverem com os espíritos libertos da materialidade? Se chegassem agora no mundo que estes seres habitam certamente iam querer provar aos que aqui estão há muito tempo o que é certo e errado e ensiná-los sobre as coisas daqui.

Participante: agora fica bem claro o exemplo do vizinho com a música que o senhor está usando.

Sim, mas esta compreensão não vale só para isso. Este foi um exemplo que peguei aleatoriamente, mas esta máxima serve para todos os momentos de sua vida. Se alguém lhe contraria existe ali uma grande oportunidade para você se esclarecer no tocante ao relacionamento dos espíritos no Universo.

É por causa de tudo isso que Deus orientou os espíritos que não devem comer do fruto da árvore do conhecimento.