Carmas humanos - Texto

Previsão de futuro

Participante: esta apatia que você sugere como caminho para a elevação pode incomodar outras pessoas. Incomodadas elas podem querer tirar satisfação por conta do incômodo. E aí, como fazer?

Vou lhe responder já falando do próximo tema carmático que vamos abordar: previsão de futuro.

Repare na sua pergunta. Nela existe uma condicional: pode ser que a apatia incomode alguém e isso pode levá-las a querer tirar satisfação. Sabe o que esta questão contém? Uma previsão de futuro.

Na verdade este pensamento gerado pela sua mente está espelhando uma criação, uma imaginação, pois não se refere a acontecimentos que estejam acontecendo, mas que possam vir a ocorrer. Eles falam de prováveis reações futuras e não de realidades.

Sim, a sua apatia pode gerar incômodo nos outros, mas também pode ser que isso não ocorra. Você não pode afirmar que certamente ocorrerá. Mas, digamos que aconteça, o que você fará lá? Não sei. Só podemos saber o que vamos fazer quando estivermos fazendo. Qualquer idéia prévia de forma de reagir a um momento é apenas um jogo de adivinhações e por isso não deve ser objeto de sua preocupação agora. Realmente se isso acontecer algum dia na sua existência naquele momento estará vivendo um carma, mas este não deve ser objeto de sua preocupação agora. Sabe por quê? Porque não estará vivendo o carma de agora, que é justamente a sua preocupação com o futuro...

A previsão que se faz de acontecimentos futuros, ou seja, a criação mental que projeta a probabilidade de determinados acontecimentos ocorrerem é um carma que está muito mais presente na vida de vocês do que possam imaginar. Vocês não vêem o quanto vivenciam de previsões sobre futuros acontecimentos porque imaginam que elas são apenas profecias de seres humanos e de espíritos, profecias de entidades de umbanda, previsões de cartas de tarô ou de jogos de búzios. Enfim, para vocês só há uma previsão de futuro quando alguém prevê acontecimentos para a sua existência. Mas, isso é uma ilusão...

Idéias como as que estão contidas na pergunta que você me fez nada mais são do que uma previsão sobre o futuro, porque previu algo que não está acontecendo. Sempre que isso ocorre, há uma previsão de futuro, mesmo que esta não seja feita em tom profético.

Quando, por exemplo, você está dirigindo numa estrada e sua esposa lhe diz para ir mais devagar porque pode provocar um acidente, o que está acontecendo é uma previsão de futuro. Quando um ser humanizado diz que se comer determinado alimento passará mal, isso é uma previsão de futuro. Na verdade, toda vez que uma consciência não se refere a algo que está acontecendo ou que já tenha acontecido, ela nada mais é do que uma previsão sobre o futuro.

Toda previsão de futuro é um raciocínio sobre a possibilidade de algum acontecimento que ainda não ocorreu e leva a uma compreensão racional. Levando a isso, portanto, se configura num carma, numa provação para o ser encarnado.

Vamos continuar no exemplo de sua esposa afirmando que sua velocidade pode resultar num acidente. Por que ela fala isso? Quantas vezes vocês se acidentaram quando estavam em alta velocidade? Acho que nenhuma ou muito poucas. Na maioria das vezes que você andou com velocidade elevada não se acidentou. Analisando assim, não haveria motivos para que ela sempre dissesse isso, mas ela sempre fala, não?

Não havendo, portanto, motivos aparentes para que sua esposa sempre lhe dê este alerta, porque ela fala? Porque acha que sabe que o excesso de velocidade é elemento causador de acidente. Por conta desta cultura é que ela profetiza um futuro.

Analisando-se o mundo interno, posso lhe explicar como funcionam as previsões de futuro. Havendo no mundo mental de uma pessoa a informação de que determinada velocidade é correr e que dirigir desta forma pode conduzir a um acidente, a mente acredita que existe a possibilidade disso ocorrer com vocês neste momento e com isso forma a frase que será dita. O momento em que esta frase é pronunciada passa a ser o seu carma e o de quem está tendo a idéia, já que ele é fruto de uma compreensão racional dela e gerará uma em você.

Havendo uma compreensão racional, há um trabalho de libertação a ser feito. Como este trabalho é feito? Não se crendo nas previsões que são feitas pela mente. Como? Expondo a razão criada à realidade...

Quantos andam por aí em alta velocidade e nunca tiveram um acidente? Quantos respeitam os limites de velocidade, mas isso não os impede de acidentarem-se? É claro que se você for analisar a luz da racionalidade, a previsão não tem lógica, pois a velocidade não é um determinante da existência de um desastre, apesar da razão humana afirmar o contrário. Na realidade o acidente pode acontecer estando você em alta ou baixa velocidade.

Expondo a razão criada pela mente (pode haver um acidente) à realidade (o acidente pode ocorrer estando ou em alta ou baixa velocidade) fica fácil de chegar a uma conclusão que serve para se libertar do carma: ‘eu não sei se esta velocidade me levará a um acidente’. Quando o ser humanizado realiza esta comparação fica fácil retirar da mente a idéia do perigo iminente e com isso deixar de vivenciar a apreensão criada pela personalidade humana. Sem esta vivência, a convivência com a ação carmática é realizada de uma forma positiva para a elevação espiritual.

Quem faz a previsão precisa se libertar da iminência do perigo que está embutida nela. Já quem a ouve e não concorda com ela, também precisa se libertar da idéia de que o que foi previsto jamais ocorrerá, ou seja, que ele tem certeza que um acidente não ocorrerá. Os dois envolvidos neste momento precisam alcançar a ignorância sobre o futuro. Só isso leva os seres humanizados a vencerem seus carmas.

Portanto, analisando este acontecimento, que é corriqueiro na existência dos seres humanizados, podemos compreender mais um carma humano: a previsão de futuro. Ele é composto pelas idéias projetivas que a mente faz para acontecimentos futuros fundamentados em lógicas e verdades pré-concebidas pelo momento. Este carma pode ser vencido quando se leva em conta que neste mundo nada absoluto, ou seja, que os acontecimentos futuros jamais ocorrerão apenas de uma forma. Agir de um jeito hoje não leva necessariamente ao futuro projetado pela mente, pois muitos alcançam um futuro diferente, apesar da similitude de ações do agora.

Chegando a esta conclusão, posso, então, lhe responder. Você me afirma que as pessoas poderão sentir-se incomodadas se alcançar esta apatia, mas será que irão mesmo? Por conta desta dúvida, você não pode se incomodar com isso agora. Mas, digamos que algumas se sintam: o que a sua preocupação de agora vai resolver para o futuro? Nada. Mesmo que pense nisso e tente se programar para reagir de uma determinada forma, será que naquele momento reagirá dentro do previsto? Você não sabe... Então, deixe o amanhã para amanhã, pois enquanto está tentando concebê-lo, está deixando de vencer o carma de agora.

Na verdade quem discute sobre hipóteses está cedendo a um carma naquele momento: acreditando na projeção de acontecimentos futuros feitos pela mente. Esta cessão acaba não trabalhando o momento presente e com isso vivenciará a sensação que a mente criará a partir daquela consciência. Com isso não realizou o trabalho da encarnação neste momento.

Recentemente falei de algo que os seres humanizados esquecem: a vida não é um processo subseqüente de minutos, horas, dias e meses. A vida é composta de uma série de momentos que não são encadeados por si mesmo. Isso quer dizer que se um motorista dirige com velocidade elevada necessariamente esta forma de dirigir não o levará a um acidente.

Levando esta idéia para a sua pergunta, posso lhe dizer que não é porque você está apático que as pessoas se ofenderão. Lembre-se: a vida é feita de micro presentes e em cada um deles há um carma diferente. Sendo assim, o momento de você estar apático é um carma, mas necessariamente este momento não leva à existência do carma de alguém ficar chateado com isso. Pode até levar, mas não obrigatoriamente levará. Entre os acontecimentos da existência humana não há este desenrolar natural que vocês imaginam, pois o que comanda a seqüência da vida é a lei do carma e não aquilo que é tratado como normalidade pelos seres humanizados.

O momento de você estar apático é um carma e o de alguém reclamar de sua apatia é outro. Eles não têm nada a ver um com outro, a não ser o fato de ser o carma de cada um. Apenas para a ilusão humana existe uma vinculação entre eles, existe o fato de que um leva a outro.

Além do mais, mesmo que os dois momentos sejam considerados iguais pelo fato de serem carmas e de estarem acontecendo em seqüência, isso não quer dizer que possuam qualquer outra semelhança. O carma de alguém que age de uma forma pode estar ligado a uma determinada posse, paixão e desejo, enquanto que o de quem recebe a ação pode estar vinculado a outras questões. Repare bem: eles são carmas, mas mesmo sendo isto são diferentes, pois se ligam a questões diferentes.

 Em face de tudo o que lhe disse, chegamos a uma conclusão: o ser humanizado não pode vincular idéias, não pode trabalhar com acontecimentos entrelaçados como se eles formassem uma história. Isso não existe. Cada acontecimento é único e pertence apenas a um ser humanizado como o seu carma daquele momento.

Não sendo possível vincular idéias, não há como determinar acontecimentos futuros e por isso não existe a menor possibilidade de se prever o que acontecerá no futuro. Quem acredita na programação de acontecimentos futuros que a mente cria é um senhor da lei porque imagina saber o que acontecerá no futuro. Neste caso, é um ser humanizado ligado à posse moral: eu sei.

Portanto, estamos tratando aqui de mais um aspecto da vida humana que o espírito vivencia durante a encarnação como instrumento da sua provação para aproximar-se de Deus: a previsão do futuro. Este elemento não se caracteriza apenas por momentos onde o ser humanizado participa de acontecimentos como ler cartas de tarô, jogar os búzios ou ler as linhas da mão. A previsão de futuro está presente sempre que você projeta a realização de uma ação que ainda não aconteceu.

Quem de manhã acorda e imagina o que vai fazer à tarde ou à noite está fazendo uma previsão de futuro e a idéia formada por este pensamento precisa ser trabalhada por aquele que promove a reforma íntima no sentido de não vivê-la como uma realidade.