Carmas humanos - Texto

Espírito

Acho que evoluímos profundamente no estudo do carma. Digo isto porque até agora tínhamos falado de elementos que são considerados materiais, como o casamento, ciúme e conhecimento. Hoje, porém, foi um pouco diferente, falamos de elementos que existem no mundo humano, mas que são considerados sagrados, espirituais. Vou dizer uma coisa e, por favor, me compreendam: no planeta Terra não há nada espiritual ou sagrado ou de outro mundo. No planeta Terra, ou seja, em seu mundo externo, naquilo que acontece fora de você, e no seu mundo interno, naquilo que lhe vem à razão, a racionalidade, só existem elementos materiais. Mesmo que seja declaradamente um elemento espiritual.

Porque isto? Porque qualquer coisa, para existir para você é necessário que a razão crie uma realidade. A partir do momento em que há esta criação houve, no mínimo, uma materialização daquilo que você chama de espiritual. Cito como exemplo o espírito. Para vocês este elemento é tido como espiritual, mas na verdade o espírito com o qual convivem é um elemento material.

Em O Livro dos Espíritos está informado que para vocês este elemento não é nada. Só para os espíritos libertos da materialidade o ser universal é alguma coisa. Portanto, tudo o que você sabe sobre espírito é uma criação material e mesmo aqueles que vocês dizem conviver esta convivência somente é possível porque há uma criação racional. Se não houvesse ele não seria perceptível a vocês, não estaria dentro das suas realidades. Sendo, então, os conhecimentos e a convivência com estes seres gerada pela mente, são, portanto, um carma.

Ai esta a diferença do nada que estou usando e o que o Espírito da Verdade falou que não existia. Quando existe a compreensão que o espírito para você é nada, isso não quer dizer que ele não exista. Ele existe, mas além das suas percepções. Por isso ele é alguma coisa, apesar de para você nada ser.

Por causa dos temas abordados hoje acho que a conversa desta noite foi muito importante. Ela tocou em pontos nos quais para vocês existem verdades intocáveis, realidades real. A existência do espírito, Deus, reforma íntima e religiosidade são temas que são quase tabus para vocês. Acreditam piamente naquilo que a mente cria a respeito destes assuntos. Mas, isso é irreal. Todos estes temas nada mais são do que simples carmas como vimos.

Todas as informações que vocês têm sobre o espírito (ser de luz ou não, ser uma inteligência, etc.) não são reais: são proposituras mentais que se aceitas como verdades servirá para que o egoísmo entre em ação e defenda as suas convicções acabando com isso com o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Tudo, sem exceção, que você pode conhecer pela razão, seja este elemento material ou espiritual, é carma. E uma compreensão racional que é gerada por Deus através de seu ego para que o espírito (você) possa viver o gênero de provas que escolheu antes da encarnação. Como esta visão vale para todas as coisas, posso dizer que as idéia do mundo espiritual que os evangélicos, católicos, espíritas, hindus ou budistas possuem é apenas uma idéia e não a realidade. Por ser apenas uma idéia é algo que você precisa declarar que é um maya, uma ilusão e chegar à conclusão de que é incapaz de conhecer qualquer elemento do reino espiritual ou do reino dos céus.

Participante: agora vendo que tudo é carma, dá para entender quando você diz que tudo o que ouvirem aqui é para ser deixado de lado: tudo o que você diz também é carma.

Nem o que digo e nem o que os outros falam é carma. O carma é o que você acredita ter ouvido.

Sendo assim, ouça tudo o que lhe falarem, seja de mim ou de qualquer outro, mas não acredite em nada do que ouvir. Não leve nada a serio, nem o que lhe falam e nem o que o seu ego lhe fala. Este é o trabalho: ouça o que ouvir, não acredite em nada, pois tudo o que acredita se transformará num carma.

O carma é o momento em que o seu ego usa o que foi ouvido e acreditado anteriormente. Mas, ele só pode fazer isso se você, ao receber a percepção de ter ouvido tal coisa, acreditar naquela idéia. Crendo, ela será arquivada na memória e se transformará num tesouro seu, numa propriedade sua que a mente defenderá do ataque (da não concordância) dos demais seres humanizados.

Isto é o carma. O carma é o momento em que o ego utiliza informações que foram aceitas como verdades para utilizar o egoísmo. O carma é o momento em que há uma ilusão de ação no mundo externo e a sua mente cria uma construção racional defendendo sua individualidade. Para isso ela gera ataques às individualidades dos demais seres humanizados. Simplesmente ouvir, não é carma, mas transformar o que se ouve, seja de quem for, em verdades (certo, bonito, limpo) gerou armas para que o carma aconteça em outro momento.

Participante: Então, ouvindo sem dar julgamentos e sem criar verdades, ver os outros do jeito que são sem julgamentos e sem impor a minha vontade, passar pelos atos sem tentar entender o porquê deles. Este é um bom caminho para a reforma intima?

Este não é um bom caminho: é o caminho. Não existe outro.

Eliminar de você toda possessão, ou seja, eliminar todas as convicções baseadas no eu sei, é meu ou eu gosto é o único caminho que leva a Deus. Mas, para que isso aconteça é preciso eliminar todas as verdades que existem em sua memória, não só o que você quer ou o que você não gosta. Isso porque qualquer possessão que tiver será usada pela mente para lhe propor o egoísmo.

O verdadeiro sábio, aquele que alcança a elevação espiritual é igual aos três macaquinhos budistas: olho, mas não vejo; escuto, mas não ouço; falo, mas não sei o que digo. Este é o caminho para se aproximar de Deus, o único caminho. A simbologia das ações dos três macaquinhos é o nada que estou falando que precisa ser alcançado. Quando você agir como eles, alcançará o nada.

Há uma frase no Bhagavata Puranas que acho que define bem o que estou falando. Nela Krishna diz: ‘o verdadeiro sábio não tem outro lugar para guardar o seu alimento a não ser o estomago’. O que ele quis dizer com isso? Que o verdadeiro sábio não tem nada guardado na mente para se alimentar no momento presente. Como não possui valores para poder julgar o momento presente, o verdadeiro sábio vive o nada. Ele, por não possuir verdades para atribuir ao que está acontecendo agora, vive apenas o que está no momento presente e por isso o que ele vive não pode ser descrito de forma alguma. Com isso, ele vive apenas o nada.

Este nada é o reflexo das três posturas dos macaquinhos (olho, mas não vejo; escuto, mas não ouço; falo, mas não sei o que falo) em momentos anteriores. Se antes o sábio houvesse visto, ouvido ou falado o que sabia, neste momento não conseguiria viver o nada.