Carmas humanos - Texto

Infidelidade

Vamos falar de infidelidade como ação carmática.

Aparentemente, infidelidade e traição são as mesmas coisas, ou seja, uma é sinônimo da outra. Quem trai, aparentemente é infiel, mas não é bem isso. Traição é um pouco diferente de infidelidade, pois ela tem como característica a perda de alguma coisa por causa da ação do próximo. Já a infidelidade necessariamente não precisa trazer um prejuízo.

Vou dar um exemplo: você passa uma informação para outra pessoa e diz que é segredo. Quando esta pessoa a passa adiante isso gera um ato infiel. Isto é uma infidelidade, não uma traição. Infiel é aquele que falta aos compromissos assumidos junto ao outro. Traidor é aquele que provoca prejuízos no outro.

As duas coisas podem até acontecer em seqüência, ou seja, uma infidelidade pode se transformar num ato danoso, mas no momento que a infidelidade está acontecendo, o prejuízo ainda não ocorreu, por isso são coisas diferentes.

Portanto, infidelidade e traição não é a mesma coisa. Para ser infiel basta apenas faltar com a amizade; a traição gera perda ao próximo.

Quando você passa por uma ação onde haja uma infidelidade? Quando é que você percebe que o outro foi infiel? Este é um tema do qual vamos falar agora...

A infidelidade, assim como a traição, ocorre quando expectativas são quebradas, quando pactos são rompidos. O infiel é aquele que frustra expectativas e quebra pactos com outros seres humanos.

Só para reforçar a diferença entre infidelidade e traição, podemos afirmar que Judas foi traidor, mas não foi infiel. Isso porque o pacto entre ele e Cristo feito antes da encarnação foi cumprido e por causa disso houve um aparente prejuízo para o mestre. Não podemos dizer que o apóstolo foi infiel porque cumpriu o pacto que eles haviam feito antes da encarnação. Vamos compreender bem esta questão.

Desde o início de sua jornada na função de Messias, Cristo sempre disse: vamos pregar, depois irei à Jerusalém e lá serei crucificado. Isso com certeza é a afirmação de um destino que precisava acontecer. Para que o mestre servisse como exemplificação do caminho que o ser precisa percorrer durante a encarnação para alcançar a elevação espiritual, era preciso que este acontecimento surgisse de uma traição. Sendo assim, alguém teria que ser infiel.

Nada acontece por acaso: tudo é fruto de uma combinação, que chamamos de interdependência, que é tramada antes da encarnação. Sendo assim, foi preciso que Cristo e Judas se oferecessem para passar pelo ato de infidelidade antes da encarnação. Foi este pacto que foi honrado naquele momento e com isso extingue-se a visão de infidelidade que a razão humana afirmar ter existido.

A mesma coisa acontece com vocês. Antes da encarnação para viverem os gêneros de provação que pedem, combinam com outros seres que eles vivam papéis e que executem ações para que tenham todas as suas provações. Estes pactos antecedem a qualquer outro realizado durante a encarnação e por isso são os que devem ser observados e não aqueles que são feitos durante a vida carnal. É por conta destes pactos que as pessoas agem durante o convívio com você.

Sendo assim, se durante o seu processo de provações você precisar passar pelo carma da infidelidade, Deus o fará contar um segredo para a pessoa que, por força deste pacto feito anteriormente não guardará o segredo. Pronto, os objetivos da encarnação – um viver vicissitudes e outro servir para a obra geral (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos) – foram atendidos e cada um vivenciou o seu carma.

Mas, como você viveria o seu momento de infidelidade se não tivesse a confiança no próximo? Como viveria o seu carma de infidelidade se não contasse aquele segredo? Tudo está sempre perfeito. Você tinha que contar o segredo para que a aquela pessoa pudesse honrar o compromisso de antes da encarnação. Portanto, não existem certos ou errados, mas apenas seres que se humanizaram e estão vivendo a sua oportunidade de aproximarem-se de Deus.

Por tudo isso afirmo que não só o ato da outra pessoa não deve ser recriminado, mas também a sua expectativa com relação ao próximo. Tanto a infidelidade de um como a presunção de que ela não aconteceria por parte do outro são apenas carmas e não erros. Por isso, não há motivo para se sofrer nem com uma nem com outra coisa.

Portanto, a confiança que se tem nos outros bem como as ações infiéis que quebram esta confiança são carmas e isso obriga o ser que busca a elevação espiritual a realizar um trabalho. Qual? O de não acreditar nem numa nem noutra quando a razão usar idéias que contenha estas coisas.

Se a mente lhe diz que confie em determinadas pessoas, você deve responder: ‘eu não confio em ninguém, me relaciono com todos, mas estou sempre preparado para não gerar expectativas sobre a forma como aquela pessoa vai agir’.

Fidelidade é um carma. Para vivenciá-lo dentro da realidade universal é preciso que você tenha a certeza de que cada um vai agir de acordo com a sua própria natureza e honrando os compromissos assumidos antes da encarnação. Se não fizer isso, com certeza viverá o ciclo de prazer e dor que lhe afasta de Deus.

A que possessão está vinculada a fidelidade? À posse moral: ‘eu sei que posso confiar naquela pessoa’, ‘eu conheço bem tal pessoa’... Vencer este carma, portanto, é não confiar em ninguém. É por isso que costumo dizer que você não deve confiar em ninguém: nem em Deus, nem em você e nem em mim...