Carmas humanos - Texto

Reforma íntima

Vamos continuar a nossa investigação da vida. E vamos aproveitar que hoje estamos falando sobre esta parte mais espiritual, que não deixa de ser material porque é uma compreensão lógica, e continuar conversando a partir desse seu relacionamento com o mundo espiritual.

Muito se fala sobre o objetivo de cada um estar encarnado. Apesar das diversas opiniões a este respeito, há um consenso sobre o assunto. Ele é descrito por Cristo na Bíblia, citado por Krishna nos vedas e reafirmado pelo Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos. O objetivo da encarnação é aproximar-se de Deus. Para que isso se dê durante a vida humana é preciso que você realize um trabalho. Há diversos nomes para este trabalho, mas os espíritas chamam-no de reforma intima.

Definindo, então, o tema sobre o qual vamos conversar agora, diria que reforma intima é um elemento do mundo material. Um elemento da sua vida. Sendo isso, neste momento em que estamos dissecando a vida vamos falar um pouco da reforma intima ou do trabalho necessário para se aproximar de Deus.

Se eu perguntasse a um católico sobre o trabalho de aproximar-se de Deus, ele me daria algumas respostas sobre o que é preciso ser feito para que isso aconteça. Se perguntasse a um evangélico ele me daria outras respostas. Se perguntasse a um hindu as respostas seriam completamente diferentes. Da mesma forma, os espíritas também teriam uma visão diferente do que é preciso ser feito para se aproximar de Deus. Na verdade, cada corrente de pensamento teria uma resposta, ou seja, uma definição de qual trabalho deve ser realizado.

A partir desta constatação, pergunto: quem está certo? O católico, o evangélico, o espírita, o budista, o muçulmano, o taoista? Quem realiza o trabalho que precisa ser feito? A resposta seria nenhum deles. Isso porque a idéia que cada ser humano tem do trabalho necessário para a evolução espiritual é um conhecimento individual, não uma verdade, não uma realidade. A definição que é criada pelo ego para este assunto é fundamentada no egoísmo, naquilo que cada um acha certo e, portanto, não é absoluta.

Reparem, o católico se transforma em evangélico e muda de opinião e diz, eu estava errado e agora estou certo. Depois vira espírita e de novo diz que estava errado, mas que agora acertou. Será, então, que todos os católicos e evangélicos estão condenados ao fogo do inferno por não saberem o certo que precisam fazer? Claro que não.

O que você precisa compreender, é que este trabalho, esse caminho, ou seja, aquilo que cada um imagina que precisa fazer para aproximar-se de Deus é apenas uma ilusão. Trata-se apenas do padrão de um determinado grupo religioso, não a verdade sobre o assunto.

Eu gosto de ouvir falar que existe uma igreja que é a de Cristo, mas o mestre não tinha igreja. Se tivesse, sua igreja seria a sinagoga, pois ele era judeu. Apesar de ter nascido neste povo e freqüentado as sinagogas até a sua morte, Cristo sempre disse que o templo de Deus está dentro de cada um e não fora. Por isso, se há uma igreja que seja de Cristo, ela está dentro de cada um e não num prédio externo ou em determinada congregação religiosa. Justamente por saber que a igreja estava dentro de cada um é que o mestre indicou como único rito a ser executado foi o amor a Deus acima de todas as coisas.

Acontece que quando você sabe alguma coisa inexoravelmente vai amar a si mesmo acima de todas as coisas, pois a característica primária da compreensão racional é sempre egoísta. Por isso afirmo que todas as idéias de qualquer religião sobre a forma como se aproximar de Deus é carma, é prova. É mais um elemento para você trabalhar o seu relacionamento com o ego.

Na verdade, reforma intima é abandonar o egoísmo, pois o seu íntimo é egoísta por natureza. Para libertar-se dele é preciso se libertar de todas as verdades que lhe vem à mente, inclusive as verdades que afirmam como se abandona o egoísmo.

Parece complicado o que estou falando. Parece que estou falando de uma forma difícil, mas não é isso: elevação espiritual e reforma intima é algo simples de compreender. Trata-se de reformar tudo que esta em seu intimo, inclusive aquilo que você acha que deve fazer e aquilo que acha que não deve fazer. Libertar-se de toda compreensão.

Isso é necessário porque ninguém pode amar ao próximo como a si mesmo enquanto ainda for egoísta, enquanto ainda tiver conceitos que precisam ser considerados como verdadeiros. Por conta da necessidade desta defesa a qual o egoísmo leva, existirá sempre a crítica e com ela o desamor.

Por isso saber qual o processo deve ser realizado para promover a reforma íntima é um carma que está fundamentado na posse moral (eu sei). Por isso, sempre que a mente lhe disser que sabe o que precisa ser feito para se aproximar de Deus o que realmente leva a esta aproximação é a declaração expressa de nada saber. Só no momento que o nada saber for alcançado não haverá necessidades de defesas e por isso não haverá críticas. Acontece, então, o amor ao próximo como a si mesmo.

Participante: devo não aceitar inclusive o que o ego fala a respeito dos seus ensinamentos?

Este ponto nós já ressaltamos há bastante tempo. Se vocês deixarem o ego aceitar o que digo como certo, verdade real e perfeita, estão criando um novo carma.

O trabalho de elevação espiritual é chegar apenas ao sei que nada sei, ou melhor, nem saber que nada sabe. É apenas nada saber. Para nada saber é preciso nem saber o que falo. Apenas nada saber.

Portanto, quando o seu ego lhe disser que agora você sabe o que fazer a partir de um ensinamento que tenha ouvido de mim, não acredite nisso. Você não precisa fazer as coisas que digo: precisa apenas nada saber. Se deixar a idéia gerada pelo ego sobre o que eu falo se transformarem em verdades, elas servirão para acusar os outros de errados e com isso você nada fez no sentido de aproximar-se de Deus.

Participante: você diz que a gente tem que fazer a reforma e depois diz que devemos esquecer tudo o que aprendemos. Fico mais perdido que cego em tiroteio

Esta é a intenção... Talvez, se você ficar perdido desista de buscar alguma saída.

Esqueça tudo, inclusive que tem que fazer uma reforma, pois isto é uma ilusão. Sentir-se obrigado a fazer a reforma intima é um carma.

Participante: É ter fé pura e simples. É ai que entra Deus. Deixá-Lo cuidar de tudo. É simples até demais. A complicação é dos homens apenas. É apenas deixar levar, não julgar e nem classificar nada.

Ele quem? Nós não acabamos de compreender que para fazer a reforma tem que nada saber a respeito de Deus. Então, não é aí que entra Deus...

Esqueça Deus... Deixe o nada lhe governar. Não deixe os valores de sua vida, ou seja, aquilo que você tem na memória, o seu conhecimento, inclusive sobre Deus, governar a sua vida. Se entregue ao nada e deixe que ele seja o seu guia. Ironicamente é neste momento que você realmente se entrega a Deus. Enquanto sua entrega fora a um deus conhecido, você não fez nada e por isso não O alcançou. Isso, porque ainda está se entregando a sua própria concepção de deus e não ao Senhor.

Sim, é simples demais, mas é mais ainda do que você imagina. Não é preciso conhecer Deus, saber como Ele age: é sim deixar o nada governar a sua vida. Quer exemplos? Alguém lhe pergunta se você vai a um determinado lugar naquele dia. Responda: ‘não sei, se for fui, se não for não fui’. Alguém lhe pergunta se você vai tomar banho. Diga: ‘não sei, se tomar tomei, se não tomar não tomei’.

Este é o trabalho de entregar-se ao nada e deixá-lo governar a sua vida, assumir o comando de sua vida. Ele é um nada porque não existe nenhuma convicção, nenhuma certeza, nenhuma verdade. Quando esta for a sua forma de conviver com os elementos deste e do outro mundo você terá realizado alguma coisa no sentido de aproximar-se de Deus. Entregando-se a uma idéia sobre Deus que tenha, ainda está entregando sua vida a esta imaginação e não a Deus.

Vejam como o estudo do carma é esclarecedor. Ele nos leva ao nada quando entendemos que toda compreensão racional é fruto apenas de um ego egoísta. É uma informação que visa criar uma provação a partir de possessões. Quando se estuda a existência do carma se compreende a vida: compreende-se que tudo que lhe vêem à mente é fundamentado uma posse, fruto do egoísmo. A vida muda completamente quando se conhece a ação carmática do espírito...

Participante: mas, e a afirmativa do espírito da verdade de que o nada não existe?

O nada que estamos falando é algo: a ausência de. O nada que estamos usando é a ausência de convicções, certezas, verdades. Já o nada que o Espírito da Verdade diz que não existe é o aquele que não seja coisa nenhuma.

O nada que estamos usando é alguma coisa, pois ele é a compreensão de que você se abstém de compreender. É um nada que surge pelo libertar-se de uma compreensão. O nada que o Espírito da Verdade cita é o nada haver. Isto realmente não existe, pois sempre há algo em alguma coisa.