Carmas humanos - Texto

Separação

Quando falamos do ciúme, já falamos um pouco de separação. Separação como carma, ou seja, como compreensão de que foi abandonado ou que quer abandonar alguém, está ligado ao que falamos no ciúme: a necessidade de possuir fisicamente bem amado, ou seja, uma posse de um elemento material.

Veja, quem ama, ama. Quem ama de verdade não precisa ter o objeto amado ou a pessoa à sua disposição. Pode amar mesmo longe e mesmo se esta pessoa não lhe ama mais. Isto porque amar não é ser amado. Então, quando o ego cria a ilusão da separação está lhe propondo um carma.

Todas as situações sentimentais ou de sensações oriundas da separação são ações carmáticas. Não estamos falando de saudade oriunda de uma separação rápida, mas sim de quando a separação ocorre contra a vontade de um dos envolvidos na relação. Isto porque na saudade os dois podem estar de comum acordo com a separação.

Portanto, toda a compreensão e emoção que envolve um ato de separação de casais ou de amigos é um carma. Ele é fundamentado na posse sentimental. Quem busca a elevação espiritual, precisa entender que não foi o safado que arrumou outra e lhe largou. Isso não é real...

Na separação nunca existem culpados, mas sim agentes carmáticos. Isso porque aquela situação é necessária para a vida espiritual daquele ser, já que sem a dramatização da separação, ou seja os atos, não haveria uma compreensão racional e com isso não haveria carma. Sem ele, não haveria uma prova.

Sem a ação da pessoa que causou a separação não haveria a grande oportunidade do espírito se libertar do egoísmo e com isso não alcançaria a elevação espiritual. Como alcançar isso é a razão da existência da vida humana, posso dizer que o ser nasce humanamente para vivenciar aquela separação.

Todo ser nasce (encarna) apenas para se libertar do egoísmo e por nenhum outro motivo. Por isso é preciso que seus desejos e anseios não sejam satisfeitos. Sendo satisfeitos, não haveria do que se libertar e com isso o espírito continuaria sendo egoísta e afastado de Deus.

Então, é por isso que todas as compreensões envolvidas numa dramatização de uma separação são fundamentais como ações carmáticas de espíritos. São fundamentais para aquele que precisa trabalhar a posse sentimental. Aliás, se repararmos bem, a maioria que se separa mostra exatamente esta característica. Separam-se aqueles que ao invés de amar possuem o parceiro(a) e exigem dele(a) que seus desejos sejam satisfeitos. Aqueles que comungam realmente uma vida a dois, ou seja, vivem libertos da posse sobre os outros, dificilmente se separam...

Portanto, é preciso libertar-se do ego quando este gerar idéias a partir do evento de uma separação. Sem a libertação o sofrimento é inevitável. Isso quer dizer que você deve ficar alegre ao se separar? Não foi isso que quis dizer...

O sofrimento recebido durante a dramatização de uma separação também é carma. Por isso ele precisa ser recebido por quem está vivendo sua situação carmática. Só que ao recebê-lo não se deve aceitá-lo, pois este sofrimento é irreal, é apenas fruto do apego à posse sentimental. Sendo assim, quando ele surge, existe um momento de se conquistar a elevação espiritual.

Quando durante o sofrimento o ser humanizado for bombardeado por compreensões de que o outro não presta e que agora está sozinho, aconteceu o carma. Este é o momento de se libertar da possessão.

Aquele que vence o seu carma no momento da separação recebe o sofrimento do ego, mas não deixa esta sensação lhe dominar, ou seja, não sofre com o sofrimento. Permanece em paz consigo e com o causador da separação e não teme o futuro.

Há um ensinamento de Buda que diz que a elevação espiritual (vencer os carmas) não garante a felicidade ou o prazer, mas sim a libertação do sofrimento. Esta é a diferença. Quem consegue vencer seus carmas não alcança aquela felicidade que vocês imaginam, mas alcança o não sofrer o sofrimento que o ego cria. Não sofrer é diferente de ser feliz.

Outro detalhe: vencer um carma não garante um futuro dentro das suas expectativas. Por isso, mesmo que venha lutando contra suas possessões sentimentais, não creia que jamais terá ciúmes ou sofrerá numa separação. Não acredite que não será bombardeado por sofrimentos sempre que alguma coisa contrária ao seu interesse acontecer. Isto não pode e não irá acontecer, porque todos os carmas precisam acontecer.

O carma é inexorável, não pode deixar de existir. Por isto não espere que ao trabalhar sua libertação das criações mentais vá mudar a sua vida. Ela não mudará. O que poderá acontecer é você mudar o jeito de viver a vida que lhe foi preparada como instrumento para a sua elevação.