Carmas humanos - Texto

Indução

Participante: o que vale é o pensamento. E a indução dos outros espíritos, é carma nosso ou carma conjunto? A indução de um espírito é carma de ambos?

Vamos aproveitar o que você falou e vamos criar um novo tema para nossa conversa, uma nova investigação da vida humana.

Será que a indução que outros espíritos, encarnados ou não, fazem a um ser é um carma? Usando a mesma linha de raciocínio que usamos para o tema doença (estar doente) diria que a indução de outros espíritos não é carma, mas sentir-se induzido, positiva ou negativamente, por outros seres é um carma. Lembre-se sempre: o ato não é o carma, mas sim a compreensão que você tem a partir do que está ocorrendo.

Lembrando-se disso, vamos a um exemplo para compreendermos melhor o carma indução. Digamos que dentro de um centro espírita um médium tenha a visão de que existe um ser fora da carne agindo sobre outro que está encarnado gerando nesse algumas induções. Esta compreensão é carma do médium, do espírito fora da carne e daquele que está sendo induzido a alguma coisa.

O carma do médium começa quando ele reage racionalmente à visão; a do ser encarnado que está sendo induzido pelo fora da carne quando ouve do médium que ele está sofrendo uma obsessão por outro. Se quem foi alertado não se apegar a idéia gerada pela mente sobre esta relação, terá vencido este carma. Agora, se depois do alerta se apegar às emoções geradas pela mente (medo, preocupação), não terá vencido-o.

O processo obsessivo, o processo onde um ser tenta induzir outro, é uma ação carmática. Ele não serve só ao encarnado, mas também àquele que está liberto do corpo humano. Sei que vocês imaginam que assim que exista o desencarne as provas se encerram, mas isso não é real. O que caracteriza o fim de um período de provações é o desligamento da personalidade humana e não da carne. Enquanto o ser estiver ligado a um ego humanizado, mesmo que já não possua mais corpo carnal, estará em provas.

Sendo assim, aquele que está fora da carne também está encarnado, ligado a um ego humanizado. Este está lhe mandando informações (pensamentos) e por isso, está gerando carmas. Neste caso, os carmas são a idéia de que está obsediando outro ser e o conteúdo desta indução.

Tudo o que a personalidade humanizada de um espírito lhe diz através de pensamentos, razões, esteja este ser ligado a um corpo carnal ou não, é prova. É algo que o ser que recebe a informação tem o livre arbítrio de aceitar ou não como real, verdade.

O ser fora da carne está numa prova muito grande, pois se acreditar no que o seu ego está lhe dizendo, estará acreditando que é capaz de agir livremente, que pode ser a causa primária de suas ações. Como disse, a prova é grande, pois sabemos que existe apenas uma Causa Primária de todas as coisas e quando alguém se imagina capaz de gerar livremente uma causa está desligado do Pai.

Repare como funciona esta provação. Deus dá ao espírito a idéia de que ele está decidindo o que fazer e a idéia de fazer alguma coisa num determinado momento. Depois pergunta: ‘e agora, você vai acreditar que foi você que decidiu fazer isso mesmo sabendo que existe uma Causa Primária? Será que para saber que sua ação foi causada eternamente você precisará Me ver causando primariamente a ação’?

A resposta depende da fé de cada um, ou seja, da entrega com confiança que se faz ao Senhor. Aquele que tem fé em Deus recebe o pensamento de que ele está decidindo o que fazer, mas não acredita nesta idéia porque tem a informação de que o Pai é a Causa Primária. Este exerceu a fé em Deus; já aquele que acreditou ser ele o causador do acontecimento teve fé no seu ego.

Isso vale também para quem está recebendo a indução. Este recebe a informação de que está sendo obsediado através da palavra do médium e neste momento tem o livre arbítrio de acreditar que realmente há um ser agindo espontaneamente sobre ele, e que por isso pode lhe fazer mal ou bem, ou pode crer que ali há uma situação gerada por Deus para que uma provação aconteça. Neste caso, reagindo também com fé, não vivenciará a idéia de que daquela relação pode advir o bem ou o mal.

Lembremo-nos que Buda ensina que o universo é interdependente, ou seja, que todas as coisas (pessoas, objetos e acontecimentos) se relacionam e se dependem. É por conta da interdependência das coisas que o carma é para todos que participam de um acontecimento e não apenas para um ou outro. Sendo assim, todos que participam da ação carmática, direta ou indiretamente, estão vivendo os seus carmas individualmente. Agora, cuidado: a ação carmática envolve muito mais pessoas do que você possa imaginar...

Vou dar um exemplo para que possa entender o que estou dizendo. Digamos que hoje pela manhã ao ler o seu jornal você leu uma notícia sobre um assassinato. Ao lê-la, a sua mente cria a idéia de que aquele foi um ato bárbaro, que o agente daquela ação, o assassino, é um monstro. Você nunca viu as pessoas envolvidas naquele acontecimento, não esteve presente no momento da ação nem depois no lugar que ela ocorreu, mas o que ali se passou também é um carma seu e não só das pessoas diretamente envolvidas. Isso porque aquele acontecimento gerou em você uma compreensão e tudo o que se compreende caracteriza-se como um carma.

Aquela ação que serviu como fundamento para a notícia do jornal é um acontecimento extremamente abrangente no sentido carmático, pois serve a todos os que tomam contato com ela, seja porque modo for, seja porque profundidade for. O acontecimento serve como ação carmática para todos os que estiveram presentes no momento, mas também possui a mesma serventia para todos aqueles que tenham notícia do que aconteceu, seja por que modo for, porque levou a que estes tivessem compreensões racionais sobre o ocorrido.

Não sei se ficou claro o que quis dizer. Se não ficou, por favor, tire suas dúvidas. Mas, antes de fazer suas perguntas, deixe-me complementar o assunto referente à sua pergunta.

No seu questionamento você se refere especificamente à indução de um espírito sobre outro, ou seja, de um espírito fora da carne sobre o encarnado. Isso eu lhe respondi, mas existe ainda a indução entre dois seres encarnados, ou seja, existe a ação de um ser humanizado tentando induzir o outro a agir de determinada forma ou em determinado momento. São os relacionamentos humanos que vocês chamam de aconselhamento. Quando alguém aconselha um ser a agir de determinada forma está induzindo-o a agir. Neste caso, vale tudo o que disse para os espíritos fora da carne, pois a provação é a mesma.

Sendo assim, quando uma pessoa lhe aconselha a agir de determinada forma ou em determinado momento, saiba que ela não está lhe ajudando, mas apenas criando uma ação carmática, uma ação que levará a uma compreensão racional que será o seu carma daquele momento. Além disso, quando esta pessoa fala está também gerando um carma a ela mesmo, pois pode vivenciar aquele momento aprisionado às razões que a mente dela criou ou não.

Pela lei da interdependência que já falamos, os dois participantes de uma ação de aconselhamento estão vivendo seus carmas na mesma ação carmática. A pessoa que lhe aconselha vivendo a oportunidade de acreditar ou não que conhece o que deve ser feito e que deve lhe induzir a fazer do jeito que ela quer. Você recebe o conselho tendo a oportunidade de achar bom ou mau o que ouvir, de elogiar ou criticar quem falou, ou não crer em nada disso e manter-se equânime naquele momento.

Portanto, resumindo o assunto indução, os atos onde espíritos querem induzir outro, encarnado ou não, são ações carmáticas, pois geram, tanto para quem praticar como para quem recebe a ação, conclusões racionais sobre o que está acontecendo.

Para que você possa entender perfeitamente o que é o carma para os espíritos, deixe-me fazer uma comparação. O universo é como uma máquina que produz determinado produto. O produto final da máquina universo é o espírito puro e simples.

Como toda máquina, o universo possui rolamentos. Cada ser do universo, encarnado ou não, é um dos rolamentos da máquina universo. Para a produção do produto final desta máquina, os rolamentos se encaixam e desencaixam várias vezes.

Deus é o operador desta grande máquina e o motor, o que movimenta a máquina encaixando ou desencaixando os rolamentos, é a lei do carma. O que faz os rolamentos se aproximarem ou se afastarem é aquilo que o espírito escolhe como gênero de provas antes da encarnação. Esta escolha é o que movimenta os rolamentos perfeitamente para que o produto final seja conseguido.

Compreenda isso e você compreenderá tudo o que lhe acontece. Tendo a consciência desta forma de funcionamento das coisas universais, você não deixa de viver nem um só acontecimento, mas não mais haverá agentes destes, pois para quem compreende o funcionamento da máquina universal tudo o que acontece é a máquina funcionando a partir de uma pré-programação e não a partir da ação de um rolamento.

Enquanto o ser não conseguir interpenetrar no funcionamento da máquina universal haverá para ele um agente da situação e por isso sempre haverá um culpado e uma vítima, não importa a que assunto se refira o acontecimento. Na hora que interpenetra no funcionamento da máquina universal, o ser sabe que é o carma que junta os rolamentos e que os faz girar de determinada forma. Aí ele consegue compreender que é Deus, o operador da máquina, que está fazendo-a funcionar de tal forma que todos tenham a oportunidade de alcançar a elevação espiritual.

Neste momento, ao invés de termos vítimas e culpados, viveremos num mundo justo, perfeito, um lugar onde não há nada do que reclamar. Neste mundo se vive em vigilância constante das compreensões que a razão forma para não se deixar levar novamente para um mundo onde a injustiça e a infelicidade existam.

Finalizando, então, a resposta a sua questão, a indução entre espíritos, encarnados ou não, é carma. Ele se fundamenta na posse moral, pois toda compreensão que surge durante os acontecimentos deste tipo está fundamentado na idéia de saber alguma coisa.