Carmas humanos - Texto

Interagindo durante os acontecimentos

Dissecado os dois elementos do mundo material (objetos e pessoas), podemos agora passar para a parte mais importante: os acontecimentos. Vamos ver agora como interagir com os elementos durante os acontecimentos da vida. Para isto vamos permanecer com o exemplo que demos: a mesa suja. Isto é um acontecimento do objeto mesa, mas como já vimos no estudo dos objetos, a mesa que não está suja, mas são vocês que chamam de sujeira ao acontecimento de elementos diversos se juntarem à forma mesa.

A interação com os acontecimentos da vida não deve se dar no campo material, ou seja, na ação carnal. Se o objetivo do espírito ao criar e vivenciar um personagem humano é vencer as tentações propostas pelo ego (certo ou errado, bonito ou feio) a ação durante os acontecimentos deve ser interna e não externa.

Interagir com o elemento objeto e pessoa é lutar contra todos os valores que o pensamento dá sobre as coisas que estão participando daquela ação carmática. Em nosso exemplo (mesa suja), ao invés de preocupar-se em limpá-la ou não, vocês precisam lutar contra o pensamento que diz que ela está suja. No entanto, como já vimos, o caminho da ação interna não é declarar que ela não está suja, mas que não existe sujeira. É diferente.

A partir, então, desta conclusão, como fica ação material: vocês limpam ou não a mesa? Qual a ação que vocês acham que é certa no sentido da elevação espiritual: limpar ou não? Tanto faz. Levantando-se e limpando é porque foi isto que o seu personagem fez e já estava prescrita esta ação como uma nova ação carmática. Se não se levantarem e não limparem, aí está mais uma ação carmática prescrita onde cada um terá que enfrentar os pensamentos que o ego lhe dará.

A liberdade do pensamento que obriga a prática da ação de limpar cada vez que ele mesmo lhe diz que está sujo, não pode ser alcançada através de um novo padrão de ação: ‘não vou limpar mais nada’. De nada adianta para a elevação espiritual lutar contra vocês para dizer que não existe sujeira e aí se obrigarem a deixar a mesa do jeito que está. Neste caso mudaram apenas o padrão individual, a sua verdade, mas não venceram nada. Continua ainda existindo um padrão ditado pelo ego ao qual cada um se subordina.

Exato: o ego se molda realidades diferenciadas transformando-as em padrões para vocês seguirem. Para ele não existe o certo ou o errado: o que quer na verdade é a escravidão de cada um ao que ele diz. Ele quer que acreditem nele, pois quando se ligam ao ego, se desligam de Deus.

A vitória na prova que vocês realizam durante a ação carmática que os seus personagens vivenciam é não ter padrão. Desta forma, no nosso exemplo, se o ser humano levantou e limpou a mesa foi isto que ele fez, era isto que tinha que acontecer, mas se esta não foi praticada, louvado seja Deus, pois ele sabe o que cada um de nós precisamos (Mateus, 5, 7 e 8): a ação carmática que acontecerá.

Portanto, a interação de vocês com os objetos do carma nunca pode ser decidida antes, não pode ser conhecida antes do momento o que cada um fará. De nada adianta fazer previsões sobre ações, pois elas acontecem independentes de nosso querer, mas seguindo o pedido do espírito feito antes da encarnação para as suas provas.

 Vocês imaginam que podem decidir o que vão fazer no próximo momento. Crêem que porque pensaram que tem limpar a mesa, só por isso levantarão e limparão, mas quantas vezes decidiram fazer alguma coisa, tiveram diversos desejos e não conseguiram realizá-los?

Para que a ação carmática sirva como instrumento para a elevação espiritual nós precisamos, na nossa interação com os objetos durante o acontecimento, vivenciar cada acontecimento, cada momento, sem culpa nem prazer. Para isto é imprescindível a consciência de que não sou eu que disponho a ação dos elementos, mas Deus que os emana levando-os a praticar aquilo que eu (espírito) preciso como prova.

‘Não existe sujeira. O que está sobre o móvel é o próprio móvel. O que chamo de sujeira é uma transformação dele de limpo para sujo e isto é uma impermanência emanada por Deus como prova para mim’. Esta é a compreensão da Realidade do momento. No entanto, ela não pode criar uma obrigação. ‘Não sou obrigado a mantê-la ou limpá-la. Tanto faz: o que acontecer será emanado por Deus que sabe do que preciso. Portanto, se estou limpando, estou limpando, mas se não estou, não estou’. Esta é a vivência que o espírito liberto do ego tem durante a ação carmática.

Viver a vida carnal, a interação com os objetos e as pessoas, é muito mais simples do que vocês querem. Exatamente pela sua simplicidade, pela sua singeleza, os homens, que querem possuir a sabedoria para se sentirem superiores, não aceitam esta forma de viver. Continuam imaginando que precisam conhecer intenções alheias, que precisam regras de sociedade, etiqueta e outras que definam padrões comportamentais e que embasem as ações. Tudo isto para poder sentir-se o conhecedor, o superior.

Mas a vida é simples: é vivenciar a glória de Deus. É louvá-Lo a cada segundo por proporcionar ao espírito uma oportunidade de elevação: vencer as provas propostas pelo ego e pedidas por ele mesmo.

Lembram-se do que a moça me falou agora pouco? ‘Eu não vou conseguir superar a questão de ver a coisa errada: vou querer colocar no lugar’. Mas, ela pode colocar tudo no lugar que imagina certo. O que não pode é sofrer se não conseguir ou ter o prazer (imaginar-se perfeita) se conseguir. É mais fácil do que ela imagina.

Pergunta: Eu estou tentando não sofrer com isto, mas continuo sofrendo mesmo assim.

Você já começou a sua luta, ou seja, está tentando acreditar que aceita as coisas no lugar que estão. Mas, ainda não lutou contra o padrão que determina onde ela deveria estar.

Ainda resta em você uma esperança de que, aceitando que a coisa está ali como vontade de Deu, o Pai emane uma ação onde coloque o objeto no lugar que acha certo. O padrão ainda existe e você está buscando a elevação espiritual esperando que o que quer se concretize. É este desejo que deveria estar matando. Mas, para que ele não exista é necessário que se elimine o padrão de certo e errado que ainda possui.

De nada adianta rezar a Deus pedindo que ele seja instrumento da sua vontade. De nada adianta você tentar vencer o ego para que com isto receba do Pai a sua própria satisfação. ‘Deus, eu vou aceitar a coisa onde está, mas em troca você a coloca onde eu quero’. Isto é submissão sua ao ego e pior: querer que Deus se submeta ao ele também.

‘Olhe Deus, eu queria de outro jeito, mas está assim. Se o Senhor mudar será bom, mas se não mudar, também permanecerei feliz’. Esta é a submissão à Vontade divina que é soberana e que, como já vimos, está sempre preocupada com a evolução do espírito.