Carmas humanos - Texto

Ciúme

Já estudamos traição e infidelidade e por conta disso, poderíamos dizer que o ciúme tem a ver com estes assuntos, mas isso não é verdade. O ciúme não é uma traição: nasce da presunção de uma traição. O ciumento não tem provas, mas imagina que a outra pessoa está lhe traindo ou sendo infiel. Portanto, o ciúme não é uma traição ou uma infidelidade, mas sim uma presunção de infidelidade ou traição.

Acima de tudo, o ciúme é uma possessão. Quem ama não precisa da posse física. O amor que é fundamentado na necessidade da presença física é posse. Se você precisa de uma pessoa ao seu lado para sentir-se amado isto é uma possessão.

O ciúme nasce exatamente da necessidade de possuir a pessoa ou um objeto amado, ou seja, da necessidade de que aquela pessoa ou objeto esteja ao seu lado, física, moral e sentimentalmente. Quem não convive com uma pessoa usando da posse, ou seja, aquele que ama independentemente da presença e do que o outro faz, vivencia o amor incondicional sobre o qual estamos conversando há algum tempo. Este não tem ciúmes nunca do outro.

Portanto, a compreensão que o ego lhe dá sobre a intencionalidade da ação dos outros é uma posse, um carma e um ato egoístico. É um carma fundamentado na posse sentimental (eu amo), na posse do algo material (da outra pessoa) e moral, pois parte da presunção de saber o que o outro está pensando ou querendo. Sendo assim, quando o ego cria a ilusão de que a pessoa com quem convive pode estar lhe traindo, aquele que busca promover a reforma intima luta contra a possessão e, por isso, não vivencia o ciúme.

Quando algum dos membros de um casal tem ciúme, imagina-se que ele deva lutar para se libertar desta sensação, mas isto é impossível de ser alcançado por um ser humanizado. Como já citei, Krishna nos ensina que todos vivem de acordo com a sua natureza. Sendo assim, aquele que possui um ego que tenha por natureza ser ciumento, o será sempre, ou seja, sempre será alcançado por pensamentos que denotem ciúmes. Por isso, o que é necessário não é se lutar contra o ciúme, mas sim para se libertar da posse. Aquele que se liberta da posse é assaltado por idéias ciumentas, mas não sofre o ciúme.

Ter ciúmes, então, é carma, mas ser objeto dele também. Aquele que é objeto de ciúme também deve lutar contra o ego que acusa o outro. Deve dizer: ‘ele/ela age de acordo com a natureza do carma dele/dela e do meu’. Ou seja, ao invés de reclamar ser alvo de um ciúme, o ser humanizado precisa compreender que se está junto a uma pessoa que possui esta natureza é porque ele tem também alguma prova vinculada a isso.

Mais uma vez a questão da possessão moral. Aquele que é alvo do ciúme e revolta-se com isso, muitas vezes usando até este ensinamento que estamos conversando – dizendo que ela não acredita nas razões da mente que levam ao ciúme porque isso é carma – vivencia uma posse moral, vivencia um determinado certo e errado. Ele também precisa se libertar e de sua posse e não só exigir que o outro se mude.

Portanto, aquele que sente ciúme do outro precisa se libertar de suas posses e aquele que é alvo do ciúme também. Estes são os dois lados do carma expressado através do ciúme: de quem recebe e de quem o pratica.