Carmas humanos - Texto

Traição

O próximo tema é traição. Não iremos tratar da traição no casamento porque isto já foi visto no item anterior. Vamos tratar deste tema como alguém lhe traindo...

O que é uma traição? É um acontecimento da existência onde o ser humanizado acredita que alguém, lhe trai... Quando alguém não age de acordo com a sua expectativa, dentro da sua norma ou padrão ou quando você espera que outra pessoa aja de uma determinada forma e ela não age daquele jeito, então, acredita que houve uma traição.

Mas, porque você se sentiu traído? Porque gerou uma expectativa, ou seja, quis prever determinado padrão de ação para o outro. Aquele acontecimento só é tratado como uma traição porque você espera que o outro aja para lhe satisfazer (satisfazer seu egoísmo, seus desejos) e isso não aconteceu. Portanto, se houve uma paixão (um padrão de certo) e uma expectativa de que ele ocorresse (desejo positivo) aí está uma ação carmática e não uma traição...

A compreensão de ter sido traído é uma ação carmática que visa expor ao espírito a posse moral que está presente no ego. Esta possessão é caracterizada pelo querer determinar o que o outro tem que fazer. Quem compreende isso, ou seja, quem compreende que ninguém trai, mas, por ação carmática, Deus faz os outros agirem de uma forma que não corresponde às suas expectativas, não vivencia traição (não se sente traído).

Quem conhece a Realidade sobre o carma sabe que foi o Pai quem fez o outro agir de determinada forma – e não que aquela pessoa decidiu agir daquele jeito - para que o ser entenda que não tem o direito de ditar normas e regras para o que o outro vai fazer. Quem compreende a ação carmática dentro desta forma que falamos não se sente traído, pois sabe que o outro está apenas lhe dando uma oportunidade para testar a sua fé.

A vivência dos acontecimentos acreditando nos carmas como realidades, ou seja, naquilo que o ego diz que está acontecendo, não denota uma fé em Deus, porque ainda existe a crença em seus padrões de certo e errado, bonito e feio, acima dos desígnios do Pai. Por causa destas crenças é que surge a posse moral sobre os outros. Quem possui os outros moralmente, acredita que eles têm que agir de determinada forma porque esta é a forma certa, boa, etc. e, com isso, não vê a Perfeição agindo.

É por conta desta vivência da perfeição que a Bíblia é clara. Durante a última ceia Cristo afirma: “um de vocês vai me trair”. Ou seja, ele diz que um dos apóstolos vai quebrar as expectativas do mundo sobre como deveria agir um seguidor do mestre. Quando Judas se levanta, Cristo diz “faça logo o que você tem que fazer”.

O mestre sabia que alguém tinha que delatá-lo para que pudesse ir para a cruz, que era o seu carma, mas não sabia quem era. Quando Judas se levanta para sair ele sabe que chegou o momento. No entanto, ao invés de conter aquele apóstolo que ia agir contras as expectativas do mundo, ele diz a si mesmo que não se trata de uma traição, mas sim alguém fazendo o que precisa ser feito. Por isso o chama de amigo, de alguém que está agindo em prol dele.

A compreensão de que a pessoa que age contrariamente à sua expectativa é um amigo gerando aquilo que é preciso para a evolução do próximo vale para o exemplo de Cristo, mas também para todos os momentos de uma existência carnal. Vamos ver algumas...

Traição no trabalho. Sabe, você são muito amigos e de repente aquela pessoa age em benefício próprio e consegue lhe ultrapassar na escala hierárquica. Ele ocupa o cargo que você acha que deveria ocupar. Aí você diz: ele é um traidor. Não, ele é o seu amigo, tanto desta existência quanto da eternidade, pois está gerando uma oportunidade para que vença seu egoísmo.

Quantas vezes alguém já não lhe traiu contando as suas intimidades para outros? Quantas vezes alguém já não traiu sua pátria? Quantas vezes alguém não agiu contrariamente ao que você esperava dessa pessoa? Tudo isso se resume apenas numa coisa: a posse moral, a possessão da verdade de achar que sabe o que o outro tem que fazer.

Quem vive para Deus, quem busca a elevação espiritual, reconhece estas ações como amigas e, por isso, não considera o outro um traidor, mas um agente carmático. Mas, só consegue chegar a isso porque compreende o seu carma.

Reconhecer o seu carma: este é o grande instrumento da elevação espiritual que estamos abordando nestas conversas, se vocês ainda não perceberam. O que estou querendo mostrar é que usando as informações que estamos conversando hoje você compreende a situação carmática e compreende, ainda, o que precisa fazer: libertar-se da posse moral.

Quem se liberta da posse moral não espera determinada atitude do outro. Quem não espera nada de alguém, não se sente traído nunca, pois só há traição quando há possessão de verdades. Quem consegue ver a provação gerada pelo carma reconhece a sua posse e assim pode se libertar dela. Só desta forma um ser consegue vencer os carmas de uma existência.

Então, se na vida você tem diversos momentos onde seu ego cria a compreensão de que está havendo uma traição, tenha certeza absoluta: está em prova de posse moral. Este gênero de provação tem muito a ver com a soberba porque o eu sei é um ato fundamentado na soberba, ou seja, ação do egoísmo. A soberba nada mais é do que o egoísmo se expressando a partir do eu com todas estas compreensões.

Eis, aí, neste estudo mais um elemento da vida humana dissecado à luz da ação da lei da causa e efeito. Você passa por traição? Você trai? Não tenha nem prazer e nem dor, não se diga nem certo ou errado e nem que o outro esteja certo ou errado: todos são apenas instrumentos carmáticos.

Participante: para vencer a possessão sentimental posso trocar o rótulo de meu pai para amigo de encarnação?

A questão da posse sentimental não está na denominação que se dá às pessoas, mas sim na forma sentimental com que se relaciona com as pessoas. Se você chama as pessoas de amigos da encarnação, mas por conta do vínculo sentimental deste relacionamento ainda espera algo coisa deles, há uma posse moral. Se os chama de irmão da encarnação, mas ainda espera que eles lhe tratem de algum jeito, ainda há uma posse sentimental.

Não se vence a possessão sentimental simplesmente trocando o rótulo que se dá às pessoas. A questão importante para a eternidade do espírito não está em chamar alguém de meu pai, meu amigo ou meu irmão. Ela se consiste na forma como você se relaciona com eles, pois é nesta forma que está a ação do livre arbítrio do espírito optando pelo bem ou pelo mal.

Chamando os outros de amigos da encarnação, mas ainda esperando deles alguma coisa, está fazendo a opção pelo mal, pois está vivenciando o momento preso em si mesmo. Agora, se os chama de inimigo, mas nada espera deste relacionamento e por isso não se ressente com nada que o outro lhe faça, optou pelo bem, pois amou aquela pessoa acima de seus próprios interesses.

O carma não está, na verdade do relacionamento em si, mas na forma como os seres se relacionam: ou o ser humanizado se relaciona com fundamentado no seu egoísmo, ou seja, relaciona-se vivendo padrões sentimentais fundamentados na defesa de seus interesses ou convive com os outros de forma universal e com isso dá a cada um o direito de ser estar e fazer o que quiser. Realizar esta opção é a ciência do espírito, que nós chamamos de espiritologia.