Carmas humanos - Texto

Deus

Neste estudo, temos investigado os elementos da vida humana. Já falamos sobre casamento, estudo, traição, etc. Ou seja, já falamos sobre muitos elementos da vida humana. Hoje, eu queria investigar um elemento do mundo carnal, da vida material, que, quando se fala em carma ou em provações, apesar de ser muito utilizado, não é investigado. Este elemento é Deus, o deus dos seres humanizados.

Para começar esta investigação pergunto: será que o deus que a humanidade acredita - e esta crença independe da religião - é real? Será que este deus que a humanidade venera é verdadeiro?

Participante: O deus da humanidade não é real porque o relativo jamais pode compreender o Absoluto.

Exato e foi justamente por este motivo que o Espírito da Verdade respondeu assim à Kardec:

“10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus? Não; falta-lhe para isso o sentido”. (O Livro dos Espíritos)

Mas, ele foi além:

“11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade? Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá”. (Idem).

Ora, aquele que não é mais obscurecido pela matéria não é mais um homem, mas um ser espiritual, um espírito. Portanto, enquanto humano, o espírito jamais poderá conhecer Deus. Este raciocínio encontra respaldo no ensinamento de Cristo: só o filho sabe quem é o pai. Isto porque, quem é humano não é filho de Deus, mas de pai e mãe.

Começo, então, esta nossa conversa afirmando: o deus que a humanidade acredita – e novamente repito que isto independe de conceitos religiosos – é falso, é ilusão, é maya...

Apesar de este ensinamento ser de conhecimento público, se perguntar a qualquer ser humanizado que se diga religioso – mesmo os espíritas que estudam o livro onde este ensinamento está – todos teriam uma definição para esta figura. Mesmo sabendo que é impossível conhecê-lo como afirmam os ensinamentos que seguem, cada ser humanizado não abre mão de possuir uma definição para Deus. É por isso que se afirma que existe um deus para cada um...

Cada ser humanizado convive com um deus, porque vive com a sua própria convicção sobre o Pai. Mesmo que este ser comungue com alguma doutrina específica, ele tem a sua própria convicção sobre quem é Deus e, com isso, individualiza o Senhor do Universo.

Agora, se cada um tem uma definição de Deus, ou seja, tem uma crença sobre Ele, eu perguntaria: o que é esta crença? O que é o deus com o qual vocês vivem? Voltando a conversa inicial deste nosso estudo onde é afirmado que tudo aquilo que o ser humanizado compreende e por isso cria uma realidade é a sua prova ou carma, diria, então, que o deus de cada ser não é Deus, mas um carma, uma provação.

O deus com o qual cada ser humanizado convive é um carma, porque não é real, mas sim uma compreensão individualizada que é fruto de um egoísmo.

Esta é uma consciência que todos os seres humanizados precisam alcançar: o deus que ele acredita não é real; a compreensão que se tem sobre este assunto é uma provação para o ser. Aqueles que se apegam à definição que possuem de Deus e dizem que O conhece e que sabem algo a respeito Dele, na realidade são seres egoístas, porque vivem a partir da sua cultura, ou seja, expressam o egoísmo através de uma posse moral. Sendo assim, o conhecimento que define Deus também é uma prova: é algo do qual todo ser humanizado precisa se libertar durante a encarnação.

Ele precisa se libertar do seu conhecimento individualista sobre Deus. Não de Deus, do Senhor do Universo, do Pai, mas daquilo que acredita que é deus.

O trabalho da elevação espiritual passa por isso: é preciso se libertar da compreensão individual que se tem sobre deus, assim como qualquer outra compreensão que seja individualista. Se o espírito encarnado não se libertar desta noção continuará a ser egoísta, continuará preso ao ego. Isto porque quem acredita num deus ou numa definição dele, na verdade está servindo ao ego, pois esta criação é fruto dele e não verdade.

Portanto, para se libertar do ego, ou seja, para alcançar a elevação espiritual, para fazer a reforma íntima, há a necessidade do ser humanizado não se entregar (acreditar como real) à idéia sobre Deus que a mente lhe dá. Só se libertando desta idéia, só não se entregando a ela, pode o espírito se entregar ao Deus verdadeiro.

Respondendo, então, à questão que dá o título a esta conversa, sabe quem é Deus? Nada, nada que você possa compreender... E a resposta só pode ser essa porque nenhum ser tem capacidade, enquanto humanizado, de conhecê-Lo.

Como venho afirmando constantemente, é preciso que o espírito encarnado se integre a um nada, a uma existência que não contenha valor algum sobre os elementos do mundo, para atingir a elevação espiritual. Esta afirmação vale para todos elementos da vida carnal, inclusive sobre a idéia que se faz de Deus, pois só nesta hora o ser estará realmente se entregando a Deus.

Desta forma, o seu deus é um carma... O seu deus, aquele ser que você considera através de uma definição racional o supremo, não existe. O que há realmente é um carma do qual você precisa se libertar.

Participante: Realmente Deus não pode ser um velhinho de barbas brancas...

Sim, não pode, mas muitos apostam nessa idéia.

Deus realmente não pode ser um velinho de barbas brancas, mas também não pode ser uma energia. Isso porque energia é matéria e matéria é não inteligente. Não pode ser coisas do mundo, porque elas são matérias (elemento não inteligente) e Ele é a Inteligência Suprema. Deus não pode ser apenas um espírito, pois este é uma inteligência em desenvolvimento enquanto Ele é o Supremo de todas as coisas. Enfim, eu posso enumerar milhares de coisas que Deus não é, mas nada posso dizer que seja Deus, pois falta ao espírito obscurecido pela matéria um sentido que não o deixa conhecer a Realidade sobre o Senhor.

É isso que estou querendo mostrar a vocês. Este é o nosso trabalho: levá-lo a compreender que por mais que vá trocando de definições ao longo da existência sobre qualquer coisa, sempre alcançará uma compreensão que não é verdadeira, porque a Realidade está além de qualquer imaginação sua. A partir deste entendimento, você precisa dizer a si mesmo que tudo que compreende sobre Deus, não é certo. E mais: que você é incapaz de definir Deus e sequer imaginar como, o que, por que e para que Deus age. Este é outro aspecto importante...

O ser humano cria uma verdade para definir Deus e a partir dela também cria individualmente um tipo de ação e uma motivação e atribui estas questões como sendo Dele. Mas, tudo isso é irreal, porque se o próprio conhecimento que define o Pai é fantasioso, tudo o que surgir daí será mera fantasia.

Por isso afirmo: é preciso matar o mal pela raiz... Ou seja, é fundamental declarar definitivamente que somos incapazes de saber quem é Deus, para que com isso não mais criemos mayas, ilusões, que nos fazem crer que sabemos a motivação ou a forma de ação de Deus.

Participante: Posso dizer que Deus é tudo o que acontece? É o que faz tudo acontecer, desde o nascimento de uma planta até a integração das pessoas?

Não, você ainda está pressupondo. Isto porque não existem as pessoas, plantas ou a integração entre elas que você usou para descrever Deus. Ou melhor, não existem estes elementos como você os compreende.

Digo isso porque, por exemplo, integração entre as pessoas para você é falar, estar, ter um contato... Mas, será só isso a integração que existe entre as pessoas? Quer dizer que as pessoas que estão no Japão não estão integradas a você? Estão sim... Lembre-se do ensinamento de Buda (interdependência): tudo no Universo se interdepende, mesmo que jamais tenha havido um contato direto entre eles.

Não, não declare nada sobre nada. Qualquer cultura que você mantenha vai gerar uma posse moral (posse da verdade, eu sei) e por isso se sentirá obrigado a defender esta idéia acusando o próximo de errado, ‘de não saber’. Com isso acabou o amor universal ensinado pelo Cristo: amar ao próximo como a si mesmo, ou seja, dar ao outro o direito de saber as coisas sem que para isso ele precise concordar com você.

O objetivo da declaração expressa de nada saber a respeito dos elementos do mundo é fazer com que você possa dar ao próximo o direito dele ter o seu próprio conhecimento sem ser alvo de julgamentos ou críticas por sua parte. Enquanto você tiver o seu, mesmo que seja no seu íntimo mais íntimo, a mente, que é egoísta por natureza e por isso defende seus interesses acima dos outros, dirá: ele não sabe de nada porque está diferente do que eu sei. É isso que precisamos compreender...

Defender alguma verdade ou criá-las com palavras mais soltas, mais genéricas ou criar idéias mais abrangentes não resolve nada porque ainda nos traz uma idéia, uma compreensão. Não diga nada. Só diga: eu não sei nada... Não sei quem é Deus, eu nada conheço do Senhor do universo. Esta declaração constitui-se no grande mistério do exercício da fé...

O grande mistério da fé é esse: você precisa se entregar com confiança absoluta a nada, a nenhuma coisa que conheça. Isto porque quando se entrega a algo que conhece não está se entregando a este algo, mas ao seu conhecimento dele. Assim você não se entrega a nada, mas a você mesmo.

O grande mistério do exercício da fé advém da compreensão de que Deus, para você, é nada que possa compreender e entregar-se a este nada com confiança absoluta. Eu acho que este exercício da fé é muito bem explicado através da história do alpinista que, balançando em um despenhadeiro seguro apenas em uma corda depois de ter escorregado, sem poder ver ou imaginar o que está abaixo dele ouve quando ora pedindo socorro: largue a corda...

Você não sabe o que tem embaixo, o que tem do lado, não vê nada e tem que soltar a corda sem saber onde vai cair. Na nossa história o alpinista morre seguro a ela, mesmo estando a apenas um metro do chão. E você, vai largar a corda ou continuará preso a ela?

Encerrando, então, acho que agora ficou claro que, sem dogmas ou mistérios, Deus e o exercício da fé na sua existência carnal devem ser vivenciados com a compreensão de que são elementos sobre os quais você nada pode entender ou saber e que, por isso, deve omitir-se de falar qualquer coisa a respeito, mesmo que seja para você mesmo.