Carmas humanos - Texto

Estudar

Participante: Como se gera carma quando nos conscientizamos de que dois mais dois é igual a quatro?

Boa pergunta; vamos começar nosso trabalho respondendo a sua pergunta, ou seja, vamos ver os carmas que acontecem quando o ser humanizado exerce na vida o papel de estudante.

Estudante é um papel que o espírito representa durante a encarnação. Se assim é, o ato de estudar e as compreensões advindas desta ação são carmas. Estudar é adquirir compreensões de determinadas verdades, que servirão no transcorrer da existência carnal como provações.

Se há um carma e uma provação, portanto, é objeto deste nosso estudo e, aproveitando a sua pergunta, vamos começar por aí. Ou seja, vamos ver em que posses, paixões e desejos se fundamentam o carma daquele que estuda que dois mais dois é igual a quatro ou qualquer outro estudo durante a existência carnal.

Antes de qualquer, me deixe dizer uma coisa: dois mais dois não é igual a quatro. Existem teorias matemáticas que comprovam o que estou falando, apesar de não saber, neste momento lhe dizer quais. No entanto, posso lhe dizer que a física moderna (quântica) eliminou as certezas e afirma hoje que tudo no Universo são apenas possibilidades. Portanto, mesmo cientificamente, posso lhe afirmar que dois mais dois têm uma possibilidade ser igual a quatro, mas não certamente será.

Mas, a teoria científica que você utiliza para estudar ou o assunto que está aprendendo não importa: o importante é compreender que se permitir que esta ação forme em você um conceito, uma verdade, uma certeza, transformará a compreensão em uma paixão vinculada a uma posse que gerará desejos. Vou lhe dar um exemplo.

Na antiguidade os seres humanizados que estudavam medicina não conheciam moléculas, células e DNA. Ou seja, eles tinham um determinado conhecimento que é diferente do que hoje existe. Hoje os estudantes de medicina têm outro conhecimento. Se colocássemos aqueles em contato com estes, cada grupo ia querer defender o seu conhecimento, ou seja, aquilo que eles deixaram estabilizar no ego como verdades.

Sei que estou falando de séculos atrás e que você diria que é impossível este contato, mas com a ‘velocidade’ do mundo de hoje será que isso é possível? Ou seja, se deixar estabelecer em você o que estuda neste momento como verdade, será que aceitará novas visões sobre o mesmo tema? Claro que não, porque o seu conhecimento virou uma paixão que espelha uma posse.

Esse raciocínio ou compreensão vale para qualquer campo do conhecimento que adquira através dos estudos. Hoje você tem um determinado conhecer, mas amanhã, com certeza, novas realidades aparecerão que alargarão os horizontes da antiga. Será que se você se apegar ao conhecimento atual aceitará esta evolução? Acho que não...

Portanto, o carma de estudar (as compreensões de estar estudando e dos assuntos que está aprendendo) não pode ser vivenciado com egoísmo, com a compreensão eu sei, ou seja, com posse moral. Para vivenciar este carma de forma universal, ou seja, libertar-se da ação carmática do aprendizado, no máximo deve entender o seguinte: ‘hoje eu compreendo dessa forma, amanha não sei a compreensão que terei’.

Isto porque se você conviver com o aprendizado como definitivo e as compreensões oriundas dele como certas, ou seja, tiver posse moral sobre elas, gerará uma paixão pelo seu conhecimento. Quando isto acontecer, com certeza chegará um dia em que alguém irá querer lhe provar que este conhecimento está errado. Neste momento, apegado às suas paixões e desejos você vai sofrer e, com isso, estará afastado de Deus.

Mas, pode acontecer o contrário. Alguém pode lhe escutar com muita atenção, concordar com os seus conhecimentos e lhe elogiar por isso. Neste momento, como vítima da ação do ego, você vivenciará o prazer de ter sido reconhecido, de ter sido elogiado, etc. Esta forma de reagir ao acontecimento também não o liberta do carma, pois também lhe distancia de Deus, já que está fundamentada no egoísmo.

Apenas a vivência da equanimidade – igualdade de ânimo em todas as situações – pode lhe aproximar de Deus. Nem o prazer nem a dor são elementos de elevação, pois eles se fundamentam no egoísmo - prazer, egoísmo contentado; dor, egoísmo descontentado.

Portanto, o espírito que encarna e que durante esta vida estuda, não importa o que seja, vive uma provação para o seu egoísmo através da posse moral do saber a verdade. Desta forma, a ação de estudar é um elemento para o espírito trabalhar o seu egoísmo. Para aproveitá-la e alcançar o objetivo da encarnação (elevação espiritual) é preciso vivenciar estes momentos com o seguinte pensamento: ‘ninguém sabe nada, só Deus sabe. Todos os outros seres do Universo têm noticias de algumas coisas, mas não sabem nada’.

Este é, portanto, o primeiro carma humano que estamos estudando: ser estudante. Nesta rápida análise aprendemos que o ser humanizado vive o papel de estudante, ou seja, vivencia durante a vida acontecimentos onde parece que está estudando, para que o seu carma do egoísmo, expresso através da posse moral, aconteça.

Desta forma, este acontecimento ocorre na encarnação para que o ser que já sabe que tudo é universal viva o estudar, ou seja, aparentemente tenha noticias sobre os elementos do mundo e tenha a oportunidade de libertar-se do seu egoísmo declarando-se incompetente para saber. Quem não aproveita esta oportunidade como instrumento da elevação espiritual vivencia os momentos de estudos fundamentados no egoísmo e aí declara que ele sabe.

Estudar, portanto, é um carma fundamentado na posse moral para que você, espírito, consiga provar a si mesmo que já compreendeu que a cultura, ou seja, o somatório do saber, o afasta de Deus porque é fundamentado no egoísmo. E é por isto que Cristo ensina: ‘louvado seja Deus que mostra aos simples o que não mostra aos sábios’.

A partir desta visão podemos dizer que quem não estuda (aquele analfabeto pobre coitado que não tem chance na vida) não é uma vítima da sociedade ou do governo. É apenas um espírito que não está vivendo, através deste papel, a prova para as suas posses morais. Ele apenas ou não precisa ou Deus não escolheu para que ele fizesse a sua provação de libertação das posses morais através desta ação (estudar).

Digo através deste papel, pois a posse moral (eu sei) pode ser exercida de muitas outras formas do que simplesmente através do aprender. A posse moral se distingue pela crença do que você declara que sabe com certeza e não pelo conhecimento de alguns assuntos.

Por isso afirmo que existem espíritos que estão em provação de posse moral e nunca sentaram em um banco de escola... Ou vocês nunca viram muitos analfabetos sobre qualquer assunto que discutem um tema como se fossem catedráticos?

Participante: Se houver uma mudança de sentimentos sobre os papéis da vida, como, por exemplo, aqueles que temos por pai, mãe irmão para amigo de jornada isto nos levará a gerar que tipo de carma? Falo em mudanças de sentimentos, pois o ego ainda verá os elementos em seus papéis originais, mas o sentimento será diferente.

O papel amigo ainda tem embutido em si alguns aspectos carmáticos (posses). Portanto, não basta apenas trocar o nome ou o próprio sentimento: é preciso libertar-se da possessão. (do carma). Quando você conseguir superar as posses sobre os papéis de pai, mãe, irmãos, avós, terá superado diversos carmas. Mas, se para isso você apenas trocou o nome da possessão, nada terá realizado.

É preciso se libertar de todas as posses e é por isso que, neste trabalho, quero conversar a respeito da maior parte dos papéis com os quais o ser humanizado se relaciona.

Participante: Quando a gente sabe qual é o nosso carma e em alguns momentos parece insuportável vivê-lo... O que fazer nestes momentos críticos?

Saber que aquela situação, que é composta por percepções, pensamentos e emoções, é só um carma e não uma realidade. Por exemplo: você acabou de passar por uma separação conjugal. Uma separação conjugal não é uma realidade (ninguém está se separando de ninguém), mas apenas um carma.

Na hora que entender o que está envolvido neste carma, ou seja, que desejos, paixões e poses estão ativas naquele momento, poderá saber como trabalhar para libertar-se da dor ou do prazer. Isto porque este ser entenderá a prova, o carma.

Neste trabalho, vamos falar exatamente sobre isto: reconhecer o que está acontecendo na Realidade (compreender a provação e reconhecer seus elementos) para poder se afastar do maya (ilusão) – a idéia pensada que se tem sobre o acontecimento; neste caso a idéia de que está acontecendo uma separação.

Vamos falar de muitos temas, mas em cada um deles vamos buscar sempre saber o que realmente está acontecendo para poder se libertar daquilo que se acha que está ocorrendo. Foi o que fizemos agora a pouco: mostramos o que acontecia ao ser humanizado (uma provação de posse moral) ao mesmo tempo em que ele imaginava estar estudando para aprender algo.

Outro exemplo do trabalho... Quando um ser humanizado vivencia uma situação onde alguém lhe diz que ele não sabe fazer de forma certa de alguma coisa, este espírito vivencia uma contrariedade e acusa o outro de ser o causador dela. Além de sentir-se mal numa situação desta, ainda sofre mais, porque passa a nutrir raiva ou ressentimento pelo outro, pois, dentro da sua ilusão de ótica, o outro está agindo contra ele.

No momento que este ser entender que a situação que está vivendo nada mais é do que uma ação carmática, uma provação para a sua elevação espiritual, ao invés de acusar o outro ou sentir-se mal, irá buscar dentro de si mesmo que elementos (posses, paixões ou desejos) construíram a contrariedade. Reconhecendo-os, poderá, então, silenciar a sua ação e com isso não mais vivenciará a dor neste momento.

Pelo contrário, encontrará a paz que advêm da sensação do dever cumprido. Além disso, também não precisará ter raiva ou ressentimento contra o outro, porque não o entenderá como agente de uma contrariedade, mas um amigo que lhe mostrou um trabalho que precisava ser feito para honrar a encarnação.

Reconhecer a realidade (a provação que está acontecendo) fugindo do maya (a compreensão racional que o ego expressa através de percepções, pensamentos e emoções) ajuda o ser humanizado a compreender a ação necessária para libertar-se do carma. Enquanto isto não for realizado, ou seja, o ser humanizado vivenciar a realidade criada pelo ego humanizado que é formada por fatores humanos, jamais se libertará do carma.

Para fazer isso, como ensinou Buda, é preciso estar sempre atento (atenção plena) às suas formações mentais ao invés de conectar-se apenas no mundo exterior (o que é percebido pelos órgãos do sentido). Isto porque o ego não dirá a este ser que o que está ocorrendo na realidade é um carma e não um fato. O ego não deixa o ser entender que o acontecimento é uma ação carmática para poder ficar instigando-o a sofrer ou sentir prazer.

Por isso, neste trabalho, vamos descobrir quais posses, paixões e desejos estão envolvidos em diversos carmas, ou seja, por que facetas o egoísmo impera para desacreditar a Realidade. Com isto estaremos buscando compreender o que cada ser está vivendo naquele momento e veremos, ainda, com que consciência (compreensão racional) cada um deve vivenciar os momentos de sua existência.

Por exemplo. Dissemos que estudar não é estudar, mas sim viver um carma. A partir do momento que alcança esta compreensão, o ser humanizado continuará indo a escola e participando das aulas. Apesar disso, ele não deixará o seu egoísmo dominá-lo naquele momento gerando a compreensão eu sei. Pelo contrário, quando isto acontecer ele responderá ao ego: ‘engano seu, eu apenas tive notícias’. Desta forma a possessão não existirá, porque este ser não deixou o egoísmo dominá-lo... Com isso venceu seu carma.

Lembram o que já falamos? O resultado da ação do egoísmo é uma posse; a posse dá origem a diversas paixões e estas levam aos múltiplos desejos... Mas, qual o resultado de um desejo? Viver no ciclo do prazer e da dor (quando o desejo se realiza é um prazer e quando não se realiza, é o sofrimento).

Quando se compreende o acontecimento como ação carmática, se reconhece o carma e liberta-se da ação egoística embutida na compreensão recebida do ego naquele momento, se extingui o dualismo do prazer e da dor e com isto se alcança a equanimidade, que é a bem-aventurança que Cristo ensinou.

Participante: Mas, parece que quando nos sentimos bem, vem o ego e começa a brigar com os nossos pensamentos.

Sim, o ego não aceita a derrota facilmente. Lembre-se do que ensina o espiritismo: são tantos milênios de encarnações agindo egoisticamente que não será apenas porque numa vez libertou-se desta forma de agir que tudo ficará a mil maravilhas...