Carmas humanos - Texto

Doação de órgãos

Participante: e a doação de órgãos? Se a pessoa estiver viva, mas para morrer, deve doar ainda viva e contribuir para a vida de outros? Isso não vai contra a vida dela?

Vamos aproveitar sua pergunta e analisar este tema à luz do carma, à luz do motor que move os acontecimentos do universo.

O que é um órgão? Uma parte do corpo físico. No entanto, se o corpo não existe, mas trata-se apenas de uma criação da mente, será que existe órgão para ser doado? Claro que não.

Na verdade o ser humanizado não possui olho, pois aquilo que materialmente é chamado de olho é apenas fluído cósmico universal. O mesmo pensamento aplica-se tanto para o coração, o fígado, o rim e qualquer outro órgão do corpo humano. É por conta desta não existência do órgão que o acontecimento do mundo humano onde alguém doa ou recebe um órgão não pode ser considerada como real, mas apenas como uma ação carmática, um acontecimento que gera compreensões racionais, que são os carmas dos espíritos encarnados.

Tanto faz se o ser humanizado está sendo o receptor ou doador do acontecimento doação de órgãos, a mente sempre gerará uma compreensão e esta é o carma do ser humanizado.

Para o doador o carma é de posse moral. Quando alguém se sente superior por fazer uma doação, elogia-se pelo ato que pratica está vivenciando soberba e com isso perde a equanimidade que leva o ser a aproximar-se de Deus. Quem recebe também está vivendo uma prova do mesmo tipo, pois passa a adorar aquele que fez a doação. Esta adoração, que é uma compreensão racional, o afasta do cumprimento do amar a Deus acima de todas as coisas.

Digam-me uma coisa: por que adorar quem é agente de um ato de doação para você? Será que este ser é o salvador da sua vida? Mas, se a vida é um dom de Deus, será que alguém pode interferir aumentando ou encurtando-a? Será que alguém tem o poder de iludir a Deus e dar mais vida ao ser humanizado do que aquela que foi conferida pelo Pai?

A vida só existe enquanto Deus a fizer existir. Se ela continua existindo por conta de uma doação de órgãos, isso quer dizer que não foi o homem que realizou o acontecimento que aparentemente prorrogou a vida, mas sim o próprio Pai. Sendo assim, porque adorar o homem?

Reparem quanta compreensão ilusória existe misturada a este tema da vida, como, aliás, a qualquer outro, simplesmente porque nos esquecemos de Deus. A soberba do ser humanizado de achar-se agente de qualquer acontecimento faz com que ele fira o poder de Deus. Todos os mestres ensinaram que o Pai é Onipotente, mas que onipotência é essa, se o homem tem potência para agir sem que Deus possa interferir?

Se levarmos em conta a existência de Deus e os atributos que os mestres atribuíram a Ele, temos que entender que a doação de órgão, seja em vida ou em morte, não pode ser certa ou errada. Mais: ela independe da decisão de cada um depois de encarnado. Um ser só doará ou receberá um órgão se isso for um acontecimento que esteja vinculado aos gêneros de provas escolhidos pelo ser antes da encarnação.

Doar órgãos não é bonito nem feio, valoroso ou não. Seja qual for a compreensão sobre este assunto, ela terá sempre embutida uma pergunta que Deus está fazendo ao ser: ‘e agora, você vai adorar mais a si mesmo por ter doado ou a quem lhe dou do que a Mim’?

Qualquer ação humana em benefício de alguém leva sempre o ser a viver a soberba, pois em cada compreensão que a mente cria está sempre embutido o egoísmo do ser humanizado que o faz imaginar agir livremente e desta forma interferir no dom de Deus: a vida do outro. Por isso aconselho que vocês percam a ilusão de que quem doa órgão é um santo. Se ele está vivendo este acontecimento e ao mesmo tempo está acreditando numa compreensão de elogio a si mesmo que a mente está criando, não existe santidade alguma neste ser.

Perca, também, a ilusão que foi o recebimento de um órgão que prolongou a vida de alguém. Isso porque em O Livro dos Espíritos é dito que ninguém morre antes da hora e que Deus sabe o momento certo do desencarne. Sabendo este momento, isso quer dizer que ninguém vive um segundo mais ou menos do que o previsto antes da encarnação. Portanto, se aparentemente o ser humanizado ia morrer e isso agora não vai mais acontecer, o que lhe salvou não foi a doação de um órgão, mas sim o fato de o momento de sua morte ainda não ter chegado.

O mundo é mais simples do que vocês imaginam. Com a compreensão que vivem o mundo torna-se complexo. No caso que estamos conversando, a complexidade da vida está no fato do doente precisar esperar que alguém faça uma doação para que a sua vida tenha prosseguimento. Isso é bem complexo, porque independe apenas do desejo do ser humanizado doente. Ele torna-se refém das ações de outros seres e viver deste jeito é uma complicação para quem espera um novo órgão.

Saibam de uma coisa: ninguém morre na fila de espera para receber órgãos porque outros seres humanizados não tiveram benevolência e doaram os órgãos de seus mortos ou os seus mesmos. Todos morrem no momento que estava pré-determinado antes do nascimento para morrer, estando na fila dos transplantes ou não, sendo o primeiro ou o último desta lista, havendo ou não doares disponíveis. Quantos vão para a fila, aparecem os doadores, conseguem o transplante e acabam morrendo da rejeição do seu corpo ao órgão recebido?

Da mesma forma ninguém continua vivo porque recebeu um órgão novo. Quem crê nisso está idolatrando a ciência. Segundo O Livro dos Espíritos ela é apenas um instrumento que Deus dá ao ser humanizado para o desenvolvimento em todos os campos e não apenas como mantenedora da vida. Apesar de já terem lido esta informação, os homens acreditam na ciência como tal. Por isso a utiliza apenas para outros avanços que não o moral.

Eis aí, portanto, mais um tema dos carmas humanos: a doação de órgãos. Este acontecimento é uma ação carmática e toda compreensão gerada a partir dela é o carma dos seres humanizados envolvidos ou que têm notícias sobre ele.