As reformas da reforma

Serviço ao próximo

Participante: entendi, mas aí surgiu uma dúvida. Nós não podemos ser egoísta. Devemos agir em função dos outros.Se eles acreditam nas normas, eu não teria que segui-las para servir aos outros?

Sim, servir ao próximo é um dos elementos da elevação espiritual. Mas, repare, quando você age em favor do outro porque acha correto agir desta forma, está agindo dentro da sua vontade e não dentro da vontade do outro. Por isso afirmo que quando serve porque acha certo fazer isso é escravo do que acha que deve fazer.

Participante: nós sempre nos preocupamos com que o outro vai pensar.

Isso é sempre o individualismo.

Você diz que deixa de fazer ou faz alguma coisa para não ferir ao próximo, mas isso é mentira. Não faz porque não quer que o outro fale de você.

É isso que precisamos entender: o mundo não existe da forma que vemos. Criamos tudo isso para nosso próprio benefício. No entanto, trata-se de um benefício falso, pois este tipo de ação leva a uma felicidade condicionada e não incondicional. Condicionada ao cumprimento das leis da humanidade.

Paulo diz assim: Jesus veio nos trazer a verdadeira liberdade. Viver realmente é viver como Cristo ensinou, ou seja, livre das regras do mundo. Vou citar um exemplo para vocês entenderem o que estou dizendo.

Então alguns fariseus e alguns professores da lei vieram de Jerusalém para falar com Jesus e perguntaram: porque é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos? Eles não lavam as mãos antes de comer e assim desobedecem nossa tradição.

Jesus respondeu: e porque é que vocês desobedecem ao mandamento de Deus e seguem seus próprios ensinamentos? Porque Deus disse: respeite o seu pai e sua mãe. E disse também: que seja morto aquele que falar mal do seu pai ou da sua mãe. Mas vocês ensinam que se alguém tem alguma coisa que poderia ajudar os seus pais, mas diz que dedicou aquilo a Deus, então não precisa respeitar os seus pais. Assim vocês desprezam a mensagem de Deus para seguirem os seus próprios ensinamentos.

Hipócritas! Isaías estava certo quando disse o seguinte a respeito de vocês: este povo – disse Deus – honrar-Me com suas palavras, mas na verdade o seu coração está longe de mim. Não adianta nada eles me adorarem, pois ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus.

Mateus, 15, 1 a 9

Essa é a verdadeira liberdade. É livre do mundo, ou melhor, das verdades do mundo que aceita, aquele que coloca sempre em prática o amor ao próximo acima das regras societárias que segue.

Este faz o que fizer sem se culpar ou sem se ofender com que os outros lhe faz. Isso é que ser livre.

Ser livre não se trata de fazer o que quer, o que acha certo ser feito, pois para viver isso é preciso desejar antes e ter um código de normas próprio. Isso acaba o universalismo. Para se viver a verdadeira liberdade é preciso viver cada segundo que está acontecendo sem preocupar-se em se mudar ou no que os outros estão pensando a respeito de você. Isso é a verdadeira liberdade.

Se você está de roupa, está com; se está sem, está sem. Não se acuse por isso nem deixe os outros lhe acusar pela forma como está vestido ou despido. Não se sinta nunca acusado pelos outros, pois ninguém lhe acusa de nada. Na verdade a acusação nasce em você mesmo.

Ser livre não é tirar a roupa ou estar com ela. Não é vivida na forma, mas na essência. É a intenção que o ser humano coloca ao acontecimento. É a essência que você coloca nas coisas. Esta é a segunda mudança: não importa se está de roupa ou sem, o importante é não colocar errado ou certo no que está sendo feito. Só isso.

Se uma pessoa faz o que você não gosta, este não gostar é interpretado como uma afirmação sua de que o universo está errado. Sim, é isso que você está dizendo quando afirma que exista algo errado, pois o que está acontecendo é o próprio universo. É a verdade, a realidade.

Universalizar-se é deixar o outro fazer o que quer sem críticas e fazer o que fizer sem sentir-se criticado com o que o próximo pensar sobre o que está fazendo.