As reformas da reforma

O objetivo da vida

A primeira reforma consiste-se em viver no universo, na realidade. A segunda em saber que a realidade é o que está acontecendo e não o que você acha e por isso precisa abandonar o seu achar. A terceira mudança parte da seguinte pergunta: o que você está fazendo aqui? O que você está fazendo nesta carne ou nesta vida? Está de férias? É um espírito freqüentando uma colônia de férias?

Participante: não

Então o que você acha que veio fazer aqui?

Participante: aprimorar, procurar a elevação, o amor ao próximo.

Certo, e com se faz tudo isso dentro do que estamos conversando hoje? Trabalhando...

Participante: promovendo resgates...

Por favor, não fale nisso, pois esta realização não pertence a encarnação, apesar de algumas correntes religiosas falar isso. Já vamos falar deste assunto, mas por enquanto lhe digo para tirar esta idéia da cabeça.

Você está aqui para fazer tudo o que foi citado anteriormente, mas o que é tudo isso? Um trabalho. Você precisa trabalhar para se aprimorar, procurar a elevação, o amor ao próximo. Um trabalho que provoque uma mudança em você.

Concordam comigo? Sendo assim, posso afirmar que vocês não estão aqui à passeio, de férias, mas vieram a este mundo para realizar um trabalho. Qual é este seu trabalho? Mudar a sua forma de se relacionar com o mundo.

Ao invés de relacionarem-se individualmente, devem fazê-lo universalmente. Isso é evolução.

Como é que você pode se relacionar universalmente com as coisas deste mundo? Vou dar um exemplo. Você não gosta de fazer algumas coisas. Isso é verdade?

Participante: acho que sim, porque no momento que a está fazendo é verdade

Não porque você não gostar é uma verdade só sua já que existem outros que fazem a mesma coisa e gostam do que fazem. No momento que não tem mais verdades, faz sem gostar ou não. No momento que tem verdades, elas lhe dirão se gosta ou não do que estão fazendo.

Gostar ou não depende de uma verdade individual. Simplesmente fazer, sem gostar ou não do que está acontecendo é viver o acontecimento com uma verdade universal. Concordam comigo?

Sendo assim, para atingir o universalismo – viver como ser espiritual, que é a primeira reforma – é preciso que aconteçam coisa que você goste e outras que não. Se durante o transcorrer desta vida acontecesse só o que gostam, vocês só fariam o que gostam e confundiriam este prazer com felicidade e imaginariam que já alcançaram a elevação espiritual, o universalismo. Portanto, nesta vida é preciso haver também coisas que vocês não gostem para que participem delas sem se prender ao seu gostar e com isso comprovem que executaram o trabalho necessário para merecer a elevação..

Isso ficou claro? Pergunto por que entender este ponto é fundamental para a vida humana e para respondermos a que me falou sobre resgate.

Em O livro dos Espíritos, Kardec conversa com o Espírito da Verdade sobre a vida humana e o mentor do espiritismo diz o seguinte:

“258. Quando na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena? Ele próprio escolhe o gênero de provas porque há de passar e nisso consiste o seu livre arbítrio”.

Se esta resposta ainda não lhe dá a certeza de que a vida humana foi preparada pelo próprio espírito para servir como instrumento do trabalho necessário para a elevação, ou seja, que ela é pré-programada antes do ser juntar-se à matéria carnal, ouça o que fala mais o Espírito da verdade:

“851. Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme ao sentido que se dá a este vocábulo? Quer dizer: todos os acontecimentos são predeterminados? E, neste caso, que vem a ser do livre arbítrio? A fatalidade existe unicamente pela escolha que o Espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. Escolhendo-a, instituiu para si uma espécie de destino, que é a conseqüência mesma da posição em que vem achar-se colocado”.

Ora, se toda vida é feita por momentos onde há contrariedades e outros onde acontece a satisfação, isso acontece desse jeito porque o espírito julgou que esta polaridade de situações é necessária para o seu trabalho de reformar-se. Se esta reforma trata-se de uma mudança interna, de uma mudança da forma de viver a vida, isso quer dizer que ele precisa passar por cada momento da vida sem apegar-se à contrariedade ou à satisfação.

É por isso que toda vida tem altos e baixos ou como ensina o Espírito da Verdade, em vicissitudes (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos). Sei que muitos ainda acreditam no castigo de Deus quando vivem contrariedades, mas a partir da leitura das duas questões que fizemos fica bem claro que isso não é real. Aliás, sobre este assunto o Espírito da Verdade também é líquido:

“258a. Não é Deus, então, quem lhe impõe as tribulações da vida, Omo castigo? Nada ocorre sem a permissão de Deus, porquanto foi Ele quem estabeleceu todas as leis que regem o Universo. Ide agora perguntar porque decretou Ele esta lei e não aquela. Dando ao Espírito a liberdade de escolher, Deus lhe deixa a inteira responsabilidade de seus atos e conseqüências que estes tiverem. Nada lhe estorva o futuro; abertos se lhe acham, assim, o caminho do bem, como o do mal”.

 Portanto, as contrariedades que se vive neste mundo são pedidas pelo espírito para que ele possa obrar no sentido de reforma-se. Elas não são dadas por Deus como castigo ou pena, mas são pedidas pelo Espírito quando este está cônscio de sua realidade. Mas, não é assim que a lógica humana diz.

Por ela, se podemos programar a nossa vida, é óbvio que todos iriam preferir escolher nascerem ricos, com felicidade e conseguindo realizar tudo o que sonha. Para responder esta questão o Espírito da Verdade ensinou o seguinte:

“266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? Pode parecer-vos a vós; ao Espírito não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar”.

Sim, a lógica humana afirma que seria óbvio que podendo escolher, o espírito optasse por uma existência carnal com mais tranqüilidade e sem contrariedades. Mas, para a lógica espiritual, isso não é real. Por quê? Porque o ser espiritual sabe que no universo nada é dado de graça.

Como Cristo ensinou, Deus dá a cada um segundo as suas intenções, ou seja, dá a cada um de acordo com o seu merecimento. Tudo que se conquista no universo é um merecimento, fruto de um merecer. Se não se merecer, o espírito não recebe nada.

Sendo assim, qual o merecimento para se ganhar a elevação espiritual? Ela foi ensinada pelo Espírito da Verdade na questão 115 de O Livro dos Espíritos que já vimos quando falamos do ser elevado, mas vamos repeti-la para poder nos lembrar do que foi dito lá e completaremos com a explicação sobre o merecimento necessário para se alcançar a elevação espiritual.

 “115. Dos Espíritos uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros só suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.

Eis aí a fonte do merecimento para se ganhar a elevação espiritual: não resmungar contra o que está acontecendo. Para fazer isso, o espírito encarnado não pode, então, ir contra o acontecido.

Por isso é que afirmo que o merecimento que leva o ser humanizado a alcançar a elevação espiritual consiste em viver a os acontecimentos da vida sem gostar ou não do que está acontecendo, sem sofrer. Para vencer suas deficiências da jornada espiritual, o espírito pede, então, acontecimentos que reflitam aqueles quesitos onde ainda sofreu em outras existências.

Por exemplo: um espírito ao longo de sua existência espiritual sofre por desejar o que não possui. Esta emoção nós chamamos de ganância. Cônscio de que ele sofre quando encarnado por este motivo ele pede que o ser humano que servirá como instrumento para a sua provação tenha vontade de ter o que não possui. Assim, assediado por esta dor, ele busca passar por ela sem vivenciá-la.