As reformas da reforma

O amor incondicional

Participante: é difícil falar sobre isso porque amar é algo muito pessoal... Só sei que amo meu filho acima de qualquer coisa...

Você diz que ama o seu filho acima de qualquer coisa, mas não acima de você mesmo. Afirmo isso porque você acabou de me dizer que ele tem que lhe deixar feliz fazendo o que você quer, ou seja, cumprindo as exigências que você faz para amá-lo. Se ele não as cumprir, você brigará com ele.

O amor não aceita brigas que tenham como finalidade dirigir a vida do próximo.

Participante: posso brigar, mas não vou deixar de amá-lo.

Não deixará de amá-lo no sentido que você compreende o amar, mas na verdade não o estará amando. Digo isso porque para se amar é preciso três coisas. O amor incondicional que acaba com o sofrimento que não deixa o ser evoluir necessita de três posturas para existir. Vamos a elas...

Primeira coisa: jamais você perca a sua felicidade. Quando você tiver uma emoção por alguém que não traduza um estado de ânimo feliz, você não estará amando. Sem felicidade, o amor é masoquismo, é individualismo.

Você não pode dizer que ama seu filho porque ainda tem momentos que fica chateada com ele. Neste momento perdeu a sua felicidade e com isso comprovou que não o ama verdadeiramente.

Para que você possa amá-lo verdadeiramente seria preciso que suplantasse as suas verdades que geram normas de comportamento que você imagina que são necessárias para a convivência. Se o que seu filho faz ainda lhe desagrada, mesmo que em pequenos momentos, você ainda não o ama.

Quem ama verdadeiramente, ama dentro do sentido amar que Cristo ensinou, jamais vê erros nos outros.

Participante: por exemplo. Agora a pouco ele fez uma coisa que não gostei e eu ralhei com ele. Isso não quer dizer que não o ame... Pelo contrário, ao orientá-lo estou expressando o meu amor.

Deixe-me explicar uma coisa.

O que é amar? É ter um sentimento. Sentimento não tem nada a ver com atos. O ato é uma coisa, o sentimento é outro.

Eu não estou dizendo que você não ama seu filho porque briga ou não com ele. Não estou dizendo que não o ame porque ralha com ele por ter quebrado uma coisa. Estou falando que não o ama porque fica chateada com o que ele fez. Quando existe esta emoção você prova que dá muito mais valor à sua verdade que afirma que queria aquela coisa inteira do que àquilo que sente pelo seu filho.

Você pode brigar com ele porque quebrou alguma coisa, porque fez algo errado, sem ficar chateada. Se fizer isso, o estará amando, mesmo que o admoeste. A consciência de que se está amando não é alcançada com o que se faz, mas com o que sente durante a ação.

Sei que vocês dizem que é preciso orientar. Sim, é preciso orientar os filhos, se orientar, mas não se deve agregar a esta ação uma emoção que não contenha felicidade, pois se isso acontecer o amor não existirá.

Sabe por que você perdeu a felicidade no momento que constatou que ele quebrou algum objeto seu? Porque você ficou sem a coisa. A chateação que você vive não tem nada a ver com o seu filho, mas sim com a sua contrariedade.

Ele quebrou alguma coisa que você imaginava sua e que queria que estivesse inteira, pois gostava tanto muito daquele objeto. Isso é posse, isso é prova. É por causa do deste sentimento com relação ao objeto, que, como já vimos, está vinculado ao gênero de provação pedido pelo espírito antes da encarnação, que você chateou-se com seu filho naquele momento. Ou seja, você não passou na sua provação e ainda por cima gerou uma nova necessidade de um novo resgate.

A sua briga com seu filho não tem nada de amoroso, porque ela em momento algum espelha uma busca de orientá-lo, mas de repreendê-lo porque ele não tinha o direito de quebrar aquilo que você não queria que quebrasse. Você pode brigar. Pode orientar seu filho a não pegar um objeto para evitar que ele quebre, mas o que não pode é se chatear porque ele lhe desobedeceu e com isso quebrou o que você queria e gostava.

É isso que estou falando. Na verdade, olhando mais de perto a situação e usando as concepções que vocês têm sobre amar, posso dizer que você tem muito mais amor a si mesmo, àquilo que ama, do que ao seu filho. Digo isso porque ainda está preso a um querer individual e defendeu-o.

Compreendeu esta questão? Não estou falando de atos, de deixar de educar seu filho, de falar com ele a respeito dos acontecimentos da vida, mas jamais perder a sua alegria. Não perca. Ao perder a felicidade em qualquer momento que estiver relacionando-se com ele estará acabado o amor.

Se o amor se acaba, isso é sinal que ele nunca existiu, pois o amor verdadeiro jamais acaba.

Repare: você me diz que ama o seu filho incondicionalmente, mas esse mesmo amor acabou quando uma condição passou a existir para que a felicidade existisse. Se a felicidade deixa de existir, não há amor.

Quem ama incondicionalmente não deixa a sua felicidade dependente do que o filho ou qualquer outra pessoa faz. Quem ama incondicionalmente é feliz pouco importando o que aquele com quem se está relacionando faça. Quando existe a felicidade independente do que o outro esteja fazendo, neste momento o amor está presente.

Manter-se feliz sempre: está é a primeira condição para a existência do amor. Segunda: a existência da compaixão... Para se amar, é preciso ter compaixão pelo seu filho ou por qualquer outra pessoa.

Mais uma vez volto à questão dos conceitos que se ligam a determinadas palavras. Para vocês ter compaixão é sofrer o sofrimento dos outros. No entanto, a compaixão que caracteriza o amor universal não tem nada a ver com isso.

A compaixão que denota a existência do amor existe quando se tem a consciência do sofrimento dos outros, mas não se sofre por conta deste. No exemplo da orientação aos filhos que estamos usando, a compaixão estará presente quando você o aconselha a agir de uma forma que possa provocar sofrimento nele, mas não sofre por conta disso.

O que estou falando, aliás, é ato corriqueiro. Quando você proíbe, por exemplo, o seu filho de brincar porque ele tem que estudar para uma prova que está próxima, você sabe que está causando sofrimento nele, mas não sofre por causa disso. No entanto, em outros momentos esta compaixão não existe.

Quando alguém se aproxima amorosamente de uma pessoa que está sofrendo, invariavelmente ela também está em sofrimento. O que isso provoca? Mais sofrimento em quem já está sofrendo. Será que levar dor a quem já está em sofrimento é amar?

A compaixão não pode ser vivida com sofrimento. Quem se aproxima de alguém que está em sofrimento de uma forma amorosa deve sempre buscar retirar o outro do estado que está e não afundá-lo mais na dor. Por isso digo que a compaixão tem que ser vivenciada com a consciência do sofrimento que o outro está tendo, mas sem vibrar dentro desta mesma emoção.

Voltando ao caso dos seus filhos, lhe digo que você deve tratá-los com a mesma compaixão, ou seja, deve ter consciência do sofrimento que algumas vezes pode levar a eles com suas atitudes, mas você não deve estar com o mesmo estado de espírito. Estando, estará castigando-o duplamente: com a reprimenda e com o sofrimento.

Portanto, você precisa manter a sua felicidade e ter a verdadeira compaixão para poder ter a consciência de que está amando verdadeiramente. No entanto, apenas isso não basta. O amar incondicionalmente exige ainda outra postura de quem ama: a igualdade...

Você tem todo o direito de agir como quiser com seu filho, mas não tem o direito de obrigá-lo a nada. Por que isso? Porque o amor que gera obrigações é dominação. Também não deve se submeter por amor a nada, pois isso é submissão e não amor. Só existe realmente amor quando há igualdade, ou seja, quando os que se amam dão ao outro o mesmo que exigem para si.

Quem ama verdadeiramente pode até orientar o outro, mas dá a ele o direito de seguir o caminho que quer. Isso porque ele dá ao outro o direito de seguir ou não aquilo que aconselha que seja feito.