As reformas da reforma

Reforma íntima

Vamos, então, falar da reforma íntima. O que é se reformar?

Participante: se mudar.

Perfeito. Mas, mudar-se do que para que?

Participante: não entendi...

Veja bem, você veio aqui para fazer a reforma íntima. Isso você sabe. Agora, lhe pergunto: está procurando isso? Acho que a sua resposta é sim, pois senão não estaria presente aqui em nossa conversa. Estando procurando, deve saber o que precisa fazer para realizar a reforma, não?

Por isso lhe pergunto: você tem que se mudar do que para que?

Participante: estou tentando me tornar alguém melhor...

Buscar ser alguém melhor é algo que é difícil de saber, pois cada ser humanizado se sente o melhor, aquele que está sempre certo. Por isso acha que não precisa se mudar e como acha que os outros estão errados, acaba exigindo mudança deles.

Além do mais, tornar-se melhor dentro dos critérios de quem? Digo isso porque a questão de se melhorar depende do critério que as pessoas usam para julgar o que é melhor. Para muitas pessoas o que você é hoje pode já ser o melhor. Se isso for verdade, você, então, não teria mais nada para mudar-se...

Portanto, a reforma íntima precisa ser algo mais do que melhorar-se. O que será que é preciso fazer, então?

A partir do silêncio de vocês posso imaginar que não sabem o que precisam fazer para reformar-se. Na verdade, todo ser humano sabe que é algo além da carne que está para promover a reforma, mas na verdade não sabe que reforma é esta.

Por que ele não sabe o que reformar? Porque não sabe onde está nem para onde vai. Por isso digo claramente – e desculpe se isso doer, mas se não encararmos a verdade ficaremos sem saber nada da vida – que o ser humano é um zumbi.

Zumbis são aqueles que andam sem saber para onde vão, onde vão parar, sem saber por que estão andando. O ser humano é isso. Ele não sabe de onde veio nem para onde tem que ir e quer se reformar. Por não saber o que fazer, não faz nada. Só fica andando de um lado para outro, ou seja, vivendo esta vida sem objetivos para a sua existência depois dela.

O ser nasce para reformar-se, mas vive esta vida sem fazer nada pela sua existência eterna, pois não faz o que veio à carne fazer. É por isso que estou querendo conversar com vocês sobre as reformas que são necessárias para quem acredita ser algo mais do que a própria carne. Entender isso é como colocar um trilho na vida para poder caminhar nela no sentido da elevação espiritual.

Isso é o que pretendemos fazer hoje, mas para começarmos a falar de reforma íntima, temos que saber onde estamos e onde pretendemos chegar para então saber o que reformar. É preciso saber quem se é e o que se pretende ser para podermos saber o que mudar no que se é agora. É preciso conhecer o que se é agora e o que se pretende ser para descobrir o que colocar ou tirar de quem se é hoje para poder chegar a outro lugar.

O que vamos falar hoje, na verdade, compõe um manual para aquele que quer promover a sua reforma íntima.

Você compra uma televisão e junto não vem um manual para aprender fazê-la funcionar? Pois é, você comprou este corpo, mas ele não veio com manual para aprender a usá-lo para realizar o seu trabalho enquanto estiver nele.

Por causa disso busca respostas nas doutrinas religiosas o manual de funcionamento do processo de reforma. No entanto, elas só dizem que você precisa se reformar, ou seja, precisa trabalhar, mas não explicam como realizar o seu trabalho.

Na verdade, o que elas dizem que você precisa fazer está de acordo com a resposta que me deu: afirmam que você tem que ser melhor. No entanto, pergunto: o que é ser melhor? Será que ser melhor é dar um prato de comida para o pobre, levar um cobertor para quem tem frio?

Será que é isso que é ser melhor? Será que você nasceu só para isso? Acho que a reforma íntima tem que ser realizada através de outras atitudes e não apenas se transformar num doador a quem tem carências.

Pense: se o melhorar-se consiste em apenas dar um cobertor para quem tem frio ou um prato de comida a quem tem fome, será que era preciso que os mestres da humanidade viessem a terra e transmitissem tantos ensinamentos? Acho que não. Não seria preciso que Cristo viesse a Terra e transmitisse todos os ensinamentos que estão na Bíblia. Não seria preciso que Buda aqui estivesse e fizesse todos os seus discursos. Não seria preciso que Maomé decorasse os versos que hoje compõem o Alcorão. Não seria preciso que Krishna viesse e levasse anos transmitindo ensinamentos.

Não era preciso tudo isso para que você apenas concentrasse seus esforços em dar um prato de comida a quem tem fome ou um agasalho a quem tem frio. Exultar a prática destas ações não precisa de tanto esforço do mundo espiritual: qualquer jornal, televisão ou emissora de rádio faz. Porque, então, Cristo e todos estes mestres precisariam despender tanta energia para poder estar presente no mundo material e transmitir tantos ensinamentos?

Não, reforma íntima tem que ser alguma coisa mais do que isso. Tem que ser mais do que ser bom no sentido que as religiões dão a este processo. É preciso que surja uma transformação muito mais profunda do que aprender a abrir a carteira para doar a quem não tem.

É por causa desta amplitude que deve ter o trabalho da reforma íntima que volto a questão que vinha falando: para se transformar é preciso saber onde está e o que deve ser mudado... Por causa disso, vamos falar destas duas coisas.