Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Outras questões

Participante: Se minha consciência soubesse algo, não se chamaria mente, porque quem mente é mentiroso.

É exatamente por isso que você não deve compactuar com ela. Apesar disso, não deve querer muda-la. Por quê? Porque a verdade não pode ser conhecida.

A mente, mente, mas se você quiser conhecer a verdade, a punica coisa que conhecerá é uma nova mentira. Isso acontece dessa forma porque qualquer verdade que souber será a mente que lhe dirá.

Participante: O que o senhor está ensinando me parece como uma forma de viver a vida sem criar motivos para sentir culpa de ter feito alguma coisa. Pode ser isso?

Não. Isso é uma forma de viver onde, quando a mente criar a culpa de ter feito alguma coisa, você não sinta culpa. Ao invés disso deve dizer a ela: ‘você quer sentir, culpa, pois sinta. Eu não me sentirei culpado de nada’.

Não se trata de um processo onde você consiga extinguir a culpa. A mente continuará lhe dando esta sensação. Só que quando isso acontecer você não a viverá, pois não compactuou com o que a mente criou.

Participante: A pessoa que vive deprimida, indiferente a tudo, parece que se encaixa no que o senhor fala.

Estar em depressão é viver um sofrimento.

Indiferença é uma coisa; depressão é outra. A indiferença se encaixa no que estou falando; a depressão não.

Participante: Citando a Bíblia, lá é dito que houve uma guerra no reino do céu e que este reino está dentro de nós. Esta guerra, então, é esta que o senhor está falando: os conflitos mentais internos?

Sim, mas você precisa entender o que é o céu.

Quando se fala em céu, para vocês, humanos, estamos falando disso que existe acima do planeta de vocês. Para vocês, o céu nada tem a ver com o mundo espiritual.

Por isso, precisa entender que se houver uma guerra no céu o que cairá sobre você não é o reino do céu, mas avião ou nave de extraterrestres. Estou falando assim porque você se referiu a uma guerra e os elementos do universo (asteroides, cometas) não fazem guerra. Por isso, apenas o que participa da guerra poderá cair sobre você.

Quando falamos de céu no sentido espiritual precisamos compreender que ele não está acima de nada. Como cristo ensina através do Evangelho de Tomé, o reino do céu está dentro de cada um. Portanto, quando se fala na Bíblia sobre reino do céu está se falando da luta interna de cada um.

Que luta é essa? É a luta para ser o melhor, para querer ter o prazer, para querer ganhar sempre. Essa é a guerra que você tem que enfrentar diariamente. Todo dia a mente gera pensamentos fundamentados no egoísmo e nas quatro âncoras (características primárias do pensamento humano – querer ganhar, ter o prazer, buscar a fama e o elogio) e você precisa travar uma batalha interna para não se deixar levar por estas ideias.

É uma batalha onde, mesmo instigado pelo inimigo, a mente, através das ideias geradas pelos pensamentos, você não deve querer ganhar sempre. É uma batalha onde você vence quando consegue aceitar a derrota e a perda com naturalidade, sem sofrimento.

Aliás, se o reino do céu é tudo, o seu mental é o reino do céu. Ele é, mas o que ele gera (as consciências da vida) não. Por isso é preciso que você trave esta batalha diariamente.

Participante: o distanciamento que o senhor propõe nos torna pessoas mais frias, não? Posso observar a mim, mesmo xingando alguém e interiormente manter-me calmo?

Não, o distanciamento não lhe torna mais frio emocionalmente. Como eu disse, a felicidade é um estado de espírito, ou seja, uma forma de viver uma emoção e não um sentimento.

Sendo assim, se a sua mente está criando raiva, você vai ter raiva. Só que ao invés de relacionar-se com a raiva de uma forma raivosa, estará em estado de espírito de felicidade.

Como se faz isso? Dizendo: ‘mente, você está com raiva, pois então que fique com ela. Eu não vou entrar nesta raiva’. Neste momento, você observa a raiva, mas não a vive.

Participante: Quando estava formulando esta pergunta, você disse que devemos esquecer de outras vidas. É exatamente sobre isso que quero comentar. Tenho observado o meu aqui e agora e encontrado o mesmo presente que venho vivendo sei lá há quantas eternidades. Ele até já me foi apresentado como vidas anteriores. O que me parece é que se eu me apegar a certas vivências, elas me acompanharão sob a forma de inúmeros presentes diversificados em fatos diferentes. Isso abaixa muito a ansiedade que a identificação do presente trás, ou do presente que eu vivo, seja como for que se apresente. Comente isso, por favor.

Repare numa coisa: você está achando que é consequência do passado. Que passado você imagina que tem? O presente acaba quando se transforma no passado.

O passado não é um presente que vai para o passado. O passado não é um arquivo de presentes. Não existe um passado, pois só existe o presente que se sobrepõe a outro presente.

A mente está lhe dando a ideia de que você está se sentindo melhor e você, quando acredita nesta formação mental, cai nela, a vive. Só que este melhor que imagina estar sentindo não é real, mas apenas uma propositura mental.

O que estou falando não tem nada a ver com lembranças de outras vidas. Se você ligar o seu presente como consequência da sua infância, jamais conseguirá ser feliz agora: viverá apenas no prazer ou na dor. Se ligar o seu presente de hoje como consequência de ontem ou mesmo de hoje de manhã, vai estar preso à conceitos formados anteriormente, à valores que a mente atribuiu àquele presente, e não conseguirá ser feliz agora.

Esqueça tudo o que você me perguntou. Viva cada momento a cada momento, com as coisas que estão presentes nele e pelo próprio momento e não por qualquer esperança futura. Isso quer dizer a mesma coisa de viva o presente pelo presente no presente.

Participante: Vou voltar a uma palestra anterior. Naquele momento o senhor disse que quem perdesse acharia e quem se achasse, perderia. É isso?

Perder-se é não saber o que está acontecendo. Achar-se é saber o que está acontecendo. Portanto, quem perde acaba conseguindo a felicidade e quem acha a perde.

Participante: Seria isso: a mente relaciona-se com o mundo externo representando o ego e nós, o eu, relaciona-se somente com a mente?

Sim, porque a mente se relaciona com o externo. Aliás, a mente é o externo.

Participante: Quando falei anteriormente, não me referi a vidas passadas, mas sim que vivo apenas os mesmos presentes eternamente.

Me diga uma coisa: como você vai saber se vive o mesmo presente eternamente, se não comparar o seu presente com o passado? Quando comparou e disse que era igual, mesmo que não esteja vendo, está vivendo o passado. Repare que a mente está criando histórias. Por isso, simplesmente não compactue com isso.

Faça a pergunta que você fizer, diga a si mesmo: ‘eu não estou esperando resposta alguma, não quero saber de nada’. Se esperar uma resposta que lhe convença de alguma coisa, pode ter certeza que a mente não dirá que isso aconteceu. Ela sempre lançará dúvida sobre a resposta.

Para que ela faz isso? Para você ficar preso na agonia esperando a próxima palestra para saber a resposta, ou seja, para lhe prender ao futuro. Com isso ela lhe tira do presente.

Participante: Como poderia voltar ao estágio de total desentendimento depois de achar que entendo?

Só não compactuando com o que a mente diz que você entende.

Não estou falando em deixar de entender as coisas, mas sim de não aceitar a afirmação onde a mente diz que houve um entendimento. Se a mente disser ‘é isso’, responda: ‘não sei’. Também não estou falando em não saber. O que estou dizendo é simplesmente para duvidar da criação mental.

Participante: A mente, mente. Ela é constituída por valores humanos. Então, podemos dizer que o humano é uma mentira?

Na verdade, eu venho dizendo que as coisas que a mente cria é mentira há dez anos. Tudo o que ela diz não é real, é irreal. Já cansei de dizer isso e você já cansou de me ouvir. Porque agora essa estupefação?

O problema é que me ouviram falar que tudo que a mente cria é irreal, mas ainda continuam achando que podem saber o que é real. Por causa disso, vivem procurando alguma coisa que seja dessa forma. Se tudo que sabem é gerado pela mente, tudo o que sabem tem que ser irreal, ilusório, uma verdade individual.

Veja. Eu disse centenas de vezes no estudo monista que a mente só cria coisas irreais. Você estava presente e me ouvia sempre falar isso e até acreditava no que eu dizia. Só que a partir do momento que a mente disse que acreditava, você estava dormindo e por isso acreditou também. Por causa disso, deixou-se levar pela busca que ela iniciou para encontrar o que era é real, verdadeiro.

Por isso, lhe deixo um conselho agora: ao invés de se preocupar com o que é real, o que é verdadeiro, não queira saber de nada. Se quiser saber alguma coisa, saiba apenas que tudo é irreal.

Quando a mente lhe disser que existe algo que seja real, verdadeiro, não acredite nisso. Diga a ela: ‘não, mente, nada neste mundo é real’. Se a mente neste momento lhe disser, então, que tudo é irreal, responda novamente: ‘também não sei se tudo é irreal. Apenas sei que não posso compreender a verdade, a realidade do universo’.

Por mais que a mente minta para você, não saiba que ela está falando mentira. Diga apenas que não sabe se o que ela fala é verdade ou mentira.

Participante: A mente é mito?

Eu poderia até dizer que é, mas não posso falar isso porque você acabaria imaginando que essa é uma verdade. Com isso estaria exposto a aceitar outras coisas que ela propusesse como real. Por isso vou lhe dizer que a mente é um mito para quem acha que ela é.

Apesar de ter afirmado originalmente que ela é, vou lhe dizer outra coisa: ela é assim para mim que estou desencarnado. Para você ela é real. Digo isso porque você sente a presença dela, ouve as coisas que ela fala. Por isso, você não pode trata-la como um mito, mas eu posso.

Participante: O senhor está propondo, então, travarmos uma batalha contra nossos pensamentos, como gato e rato? Conseguindo essa equanimidade não estaríamos entrando em alienação?

Eu não proponho uma batalha contra o pensamento de jeito nenhum. Batalha é guerra, luta, para dominar, para subjugar. Eu não proponho isso. O que proponho é uma desvinculação.

Não se trata de uma batalha. Não se trata de dizer que a mente está errada, que ela não presta, que ela está dizendo mentiras. O que estou falando é de desvinculação, é dizer: ‘não sei se o que você está falando é verdade e por isso não vou me guiar pelo que você afirma’.

Isso não leva a alienação alguma, pelo menos no nível mental. A mente continuará a mesma. Na verdade com este processo quem se alienará é você. No entanto, se alienará de que? Das coisas materiais. Mas, essas coisas não existem de verdade mesmo. Então, qual o problema de ser alienado delas?

Só que você nem vai saber que está alienado. Para que pudesse saber seria preciso que a mente lhe dissesse, já que apenas o que ela cria é real para você. Na verdade ela pode até dizer, mas como você não acreditará no que ela disser, não vai viver sentindo-se alienado. Lembre-se: só se torna um alienado aquele que acha que está alienado. Quem não se vê desta forma, não se considera como.

Vou repetir uma coisa que já falei centenas de vezes: quem quiser lutar contra mente para subjuga-la ou muda-la, está com os dias contados. Brevemente estará morto, ou seja, será infeliz. Isso porque ela nunca deixará de ser quem é.

A sua mente pode até gerar uma ideia de que está se subjugando à você. Só que isso não é verdade. Será uma tática de guerrilha que ela usará para lhe adormecer e assim lhe fazer aceitar o que ela propõe.

Participante: A psicologia divide a mente em inferior (mente concreta) e superior (abstrata). Devemos viver na mente concreta ou inferior?

Que bom que eu não sou psicólogo. Por isso não preciso lhe responder esta questão.

Eu não sei em que mente você deve viver. O que digo é que não tem que viver nem numa nem noutra, se existem estas duas mesmos como a psicologia afirma. O que digo é que deve observar a mente, seja ela a de baixo ou a de cima.

Participante: Qual o instrumento para se obter conhecimento se a mente conta mentiras?

A mente. Só a mente conhece ou sabe alguma coisa. Só que tem um detalhe: ela não obtém conhecimento em lugar algum. Tudo o que sabe foi ela mesmo quem criou.

Já falei sobre isso, mas vou falar novamente. Ninguém lê um livro que outra pessoa escreveu. Quando a mente humana lê um livro cria uma percepção, um entendimento, individual sobre o que está escrito. Esta interpretação dificilmente contemplará a do autor ao escrever, porque será permeada pelas experiências e crenças da mente de quem está lendo.

Portanto, você, mente, não pode conhecer nada que tenha sido afirmado por outra pessoa. Tudo que ela conhece, sabe, nada mais é do que uma interpretação do que foi captado pelos órgãos dos sentidos do corpo físico. Tudo que ela conhece e sabe é, então, uma criação dela mesma.

Por isso lhe dou um conselho: esqueça qualquer busca de conhecer, de saber. Pare de buscar verdades, pois nunca as encontrará. O que achará são afirmações que a mente diz que são verdades, mas como já vimos, não são.

Por isso, nunca aceite uma afirmação que a mente diga como verdadeira. Divirja de todo conhecimento que lhe for oferecido pela mente. Não estou falando em divergir sendo contrário ao que ela fala, mas apenas não compactuando com a ideia de que aquela ideia é uma verdade.