Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Planejamento de vida

Participante: Já que temos que viver o presente, onde entra o planejamento da nossa vida? Exemplo: fazer economia para comprar casa, planejar uma viagem, etc.

No mundo da presunção, no mundo da probabilidade.

Quem já não fez economia para comprar uma casa e teve que gastar o dinheiro com médico? Quem já não planejou fazer uma viagem e teve que gastar o dinheiro para consertar o carro? Mundo das probabilidades.

'Estou guardando dinheiro para ir para à praia agora; será que vou? Não sei, conseguir ir é apenas uma probabilidade. Pode ser que não consiga'. Pensar assim é viver o mundo da Realidade.

Se quiser continue planejando a vida, mas espere sentado que ela irá seguir o que quer para ela, senão você se cansa.

Participante: Posso me planejar sem ter apego ao planejamento? Se acontecer, aconteceu, se não acontecer, não aconteceu.

Pode, mas cuidado, porque isso é muito difícil.

É mais fácil negar o planejamento do que conseguir viver harmonicamente com o planejamento sem esperar que ele dê certo. A mente é muito traiçoeira: ela lança o planejamento e ao mesmo tempo lança a ideia de que aquele planejamento vai dar certo.

Sobre essa questão houve, há algum tempo, um debate muito grande entre nós. Eu sempre disse que vocês não deviam planejar nada. Quando disse isso, fui cobrado: 'você diz que é para não planejar, mas marca datas para viagens. Não está planejando'?

Eu respondi: 'a grande diferença é que quando digo marque em tal lugar para estarmos, não sei se eu vou estar. Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer'. Quando assumo algum compromisso, não presumo que vou cumpri-lo, mas vocês quando agem dessa maneira, presumem. Acham que porque se compromissaram, aquilo tem que acontecer.

Por isso lhe digo que dá para se fazer programações e conseguir viver com elas sem apego. Mas cuidado: isso é muito difícil. O ego trabalha silenciosamente lhe dando a certeza de que vai acontecer e desapegar-se disso é difícil.

Participante: O planejar a vida não faz parte do destino humano?

Sim, mas você pode viver o planejamento da vida sem apego a realizá-lo.

Planejar a vida faz parte dela, mas o planejamento pode ser vivido no prazer, na dor ou na felicidade. Por causa dessa possibilidade, evite planejar. Se você se arrisca a planejar, está apostando no prazer e pode receber a dor.

Deixe-me completar. Paulo diz o seguinte: você pode fazer tudo, mas nem tudo o que faz é o melhor para você. Sendo assim, pode planejar, mas planejar não é o melhor para você.

Participante: Se estivermos planejando a vida, então devemos planejar. Portanto, devemos estudar o mundo das probabilidades e nos entregar a esse planejamento?

Podemos planejar, mas não devemos nos apegar ao planejamento. Esse é o ensinamento.

Agora, tenha a certeza que planejar para o ser humano que não está completamente vigilante, que não sabe a diferença entre planejar e realizar o que é planejado, é um risco muito grande. Planejar é um ato da vida, por isso você pode planejar. No entanto esteja atento, pois se não tiver alcançado a capacidade de planejar sem sonhar que aquele planejamento aconteça, acabará sofrendo.

Nesse momento, vocês não estão preparados para isso. Portanto, é melhor libertarem-se do planejamento, pois correm menos risco. É isso que estou deixando bem claro.

Participante: Como exercitar o não planejar ou a equanimidade na realização do que se planeja se tudo que planejei deu certo até hoje?

Então, você é um sortudo. Por isso lhe digo: não se preocupe com nada do que falei até agora.

Se tudo o que você planeja dá certo, não se preocupe em me ouvir.