Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Nas comunidades existem atritos

O que é uma Sangha?

Participante: É uma comunidade de afins.

O que é uma comunidade de afins?

Participante: Reunião de pessoas que têm o mesmo objetivo.

Um grupo de pessoas que possuem um objetivo semelhante, um objetivo igual. Está certo isso?

Participante: Sim.

Agora, serão que são pessoas iguais?

Participante: Nunca.

São pessoas o quê?

Participante: diferentes.

Isso, são pessoas diferentes, mas iguais no objetivo.

É só no objetivo que vocês são iguais. Isso é um ponto que precisam entender.

Quando começamos a falar de sangha, vocês pensaram que iriam organizar um grupo de pessoas que apenas ririam um da cara do outro, que somente iriam brincar. Não é isso. As comunidades são formadas por pessoas diferentes.

Têm um detalhe que você se esquecem: sempre que se juntam pessoas diferentes, há atrito.

Isso precisa ficar muito claro isso: nas sanghas existem atritos. Nunca vai haver uma comunidade, dentro do sentido Sangha (afins com a busca da elevação espiritual, em busca da felicidade), onde não haja atritos.

É importante que se tenha muito clara essa consciência para poder frequentar a Sangha, porque senão, no primeiro atrito, as pessoas agem como muitos agiram: ‘eu não estou indo na sangha porque se formaram muitos grupinhos; cada um pensando diferente’. Por esse motivo, muitos se afastaram.

Claro: tudo isso previsto. Mas, humanamente falando, essas pessoas se afastaram por esse motivo.

Portanto, para participar de uma comunidade é preciso que se tenha essa consciência. A interação de seus membros não vai ser um céu ou um mar de rosas. Vai haver atrito.

Mais: precisa haver atrito. Isso porque é no atrito que você vai exercitar o seu amor ao próximo. É necessário que toda a sangha tenha atritos, é preciso que em toda Sangha o atrito esteja presente. Por isso é preciso que ele seja esperado. Mais: que seja entendido como uma oportunidade de trabalho.

Isso é o que faltou. Isso é o que falta nas nossas comunidades.

As pessoas vão a uma atividade da sangha ou se conversam, se falam, esperando uma amizade colorida, uma amizade simples, uma amizade bonita, um mar de rosas. Isso jamais vai acontecer. É preciso que todo mundo esteja consciente que nas atividades da Sangha, sejam elas quais forem, vai haver atritos. Mais: é importante que se tenha consciência de que esse atrito é necessário para haver uma oportunidade de trabalho.

Teoricamente, seria mais fácil trabalhar na sangha o amor ao próximo do que na vida particular, pois nela espera-se que as pessoas vão com a consciência de que estão ali para amar. Seria mais fácil um ser humano aceitar uma provocação, uma ofensa, dentro da sangha, do que aceitar a mesma provocação em um relacionamento com seu familiar, com seus amigos ou no seu trabalho.

Por que seria assim? Porque, imagina-se, você vai a uma sangha com a consciência de que ocorreriam atritos. Só que as pessoas não estão indo com essa consciência. É por isso que as pessoas não estão conseguindo suportar os atritos que estão acontecendo na sangha.

Participante: Elas vão achando que vai ser uma festa, brincadeira, confraternização. Se for para ser isso não precisa ir para a Sangha; pode fazer fora dela.

Isso. Ver essa pré-disposição de saber que o atrito pode e vai acontecer e a pré-disposição de se expor a ele como uma ferramenta de trabalho, facilita a vencer esses atritos.

Você já usou pá ou enxada? Se usar muito tempo enxada ou pá, o que acontece? A mão fica cheia de calo. O trabalho constante dentro da sangha vivendo os atritos normais do relacionamento de pessoas diferentes é para calejar vocês no convívio com os atritos da vida.

Lá deveria ser mais fácil, porque cada um deveria ir com a pré-disposição de amar. Indo constantemente e executando o seu trabalho, isso vai calejando o ser humano, até que, em determinado momento, fora da sangha, ele estará com a mão com o formato da enxada para poder capinar. Se o ser humano não tem a mão com o formato da enxada, não vai pegá-la para capinar na hora do atrito fora da Sangha.

Então, esse é o primeiro ponto que eu gostaria que você passasse para as pessoas: a pré-consciência de que a sangha é formada por pessoas diferentes e, por isso, o atrito é inevitável. Falasse isso para eles e dissesse que precisam estar preparados para que isso aconteça, para que possam calejarem as mãos e, depois, poderem viver felizes mais facilmente do lado de fora.

O atrito na sangha não é novidade, não é algo inesperado. Não se trata de algo que nós pensamos em uma coisa e deu outra. Apesar disso, muita gente pensa isso: ‘ah, Joaquim, você falou de sangha, mas deu problema em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em todo lugar’. As pessoas pensam que nós fomos pegos de surpresa, de calça curta, mas sabíamos que isso ia acontecer. Não por sermos adivinhos, mas porque sabemos o que acontece quando se juntam dois seres humanos, duas personalidades diferentes.

Agora a reação, isso sim, foi surpresa para nós. A partir do momento que se ouve todos os ensinamentos que vocês já ouviram, isso seria de se espantar não? Todos os que frequentam já ouviram, já leram, já pensaram no que eu ensinei. Dizem que já entenderam que a única coisa que precisam fazer é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, mas aí chega na hora do atrito e não faz nada do que leu, nada do que ouviu. Não coloca em prática o ensinamento.

Esse é o primeiro aspecto que quero ressaltar hoje: as pessoas precisam começar a perceber que reunião da sangha não é um mar de rosas; pode e vai haver atritos sempre. Mais: que esses atritos são necessários para dar a oportunidade de cada membro trabalhar a sua elevação espiritual, a sua busca ela felicidade.

Devemos ir para a Sangha com essa consciência e não ir esperando encontrar uma festa de aniversário de criança com um monte de brinquedinhos para brincar. É assim que vocês têm ido. Lá não é local de diversão, mas sim de trabalho. Então, é preciso trabalhar e o único trabalho que têm para fazer é amar a tudo e a todos.

Participante: Aprender a respeitar o outro.

Isso, mas você só vai conseguir respeitar o outro quando estiver consciente de que vai haver atrito e de que ele (o atrito) é necessário para você trabalhar. Se não forem para a sangha com essa consciência, no primeiro atrito se afastam. Se você vai para brincar e alguém diz que não pode brincar com aquele brinquedo, você vai embora.

Então, esse é o primeiro recado que gostaria que você levasse para a sua sangha: ‘Joaquim pediu para nós pensarmos sobre sangha. Pensarmos e entendermos que ela é feita de pessoas diferentes e por isso o atrito é inevitável. Pensarmos que devemos ir às atividades preparados para a existência do atrito e para trabalhar nesse momento’.