Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Questões sobre a felicidade

Participante: Poderíamos dividir o estado de espírito também em relaxamento e tensão?

Não, relaxamento é quando se está no prazer; tensão é quando se está na dor.

Participante: Como se dá a prática da prática disso? Como se harmonizar com as emoções? Apenas aceitando-as?

Até o final do ano você saberá. Estamos começando o trabalho e por enquanto só definimos a felicidade.

Participante: Não seria muito chato viver assim sem prazer nem dor?

Para quem vai ser muito chato viver assim? Para quem quer prazer e dor.

Veja, você não é obrigado a buscar a felicidade. Precisa entender que tem todo direito de viver entre o prazer e a dor agora. Mas, além disso, tem que compreender que quem vive entre prazer e dor vai ter momentos de sofrimentos. Por isso, não reclame do sofrimento.

O problema é que vocês só querem o prazer e não querem a dor e isso não existe.

Participante: O senhor fala em viver o momento com o fim nele mesmo?

Não sei qual a finalidade do momento e nem interessa. Por enquanto estou dizendo apenas que você precisa estar harmonizado com o momento, só isso. Ainda não falei em viver o momento; falei apenas em harmonizar-se com o momento.

Mas saiba, se buscar uma finalidade para o momento, estará fora da harmonia.

Participante: Existe uma manifestação física no corpo humano quando nos realizamos em Deus? A energia da Kundalini pode ser isso?

Se você realizar-se em Deus materialmente, vai realizá-Lo no ego, pois o seu Deus é o seu ego, é o que ele diz.

Se realizar-se através da Kundalini, vai estar realizando-se materialmente, pois você não sabe o que é Kundalini: tem apenas ideias humanas sobre o que é.

Portanto, esqueça essas coisas, pois se for por este caminho, vai entrar num labirinto no qual não logrará sair e enquanto estiver lá, não vai fazer o que tem que fazer.

Participante: Mas, as emoções não são a manifestação da insatisfação, manifestação da não aceitação?

Não, as emoções são naturais, elas surgem espontaneamente em você.

Você não escolhe ter raiva de alguém, quando vê está tendo; não escolhe gostar de alguém, quando vê está gostando. A emoção surge em você.

Agora pergunto: é Deus quem cria? Não, não existe Deus. Vamos acabar com isso; vamos viver na realidade. A realidade é que as coisas surgem em você. De onde elas vêm? Isso não interessa.

As emoções surgem em você e quando isso acontece, não tem como mudar. Agora, pode aprender a conviver com o que surge, já que não pode mudar o que surge.

Participante: Podemos viver intensamente o prazer? Posso me integrar totalmente quando há prazer?

Pode e deve, se quiser. Mas, antes de fazer isso, deve ter uma certeza: vai sofrer no momento seguinte.

Vou dizer uma coisa muito clara: tudo nessa vida tem um custo. Quem se entrega ao prazer tem um preço a pagar por isso: viver o sofrimento. Isso porque o mundo é formado por vicissitudes.

É só isso que você deve ter consciência. Não é preciso buscar a felicidade: você tem todo o direito de se entregar ao prazer, de nunca mais querer falar o nome de Deus ou de buscar qualquer coisa. Isso é um direito seu. Pode fazer isso porque, como acredita, possui o livre arbítrio, ou seja, o direito de livre arbitrar a sua vida.

Se você acredita que tem o livre arbítrio e que quer se entregar só ao prazer, pode optar por isso. Opte e ninguém vai lhe chamar de errado, pelo menos eu não vou.

Agora, saiba que isso tem um custo para você: o sofrimento futuro.

Participante: Completando a minha pergunta, convém me deleitar por exemplo na alegria de sentir o frescor da manhã ou na risada de um amigo, sem medo de esperar o sofrimento seguinte?

Deleitando-se com o frescor de uma manhã, quando o amanhecer for bem ensolarado, bem quente, você vai sofrer. Por que? Porque quer se deleitar no frescor.

Se você gosta do frescor, se deleite, mas saiba que nem todo dia vai ter frescor na manhã. Haverá dias que amanhecerá calorento e, por estar preso ao gostar do frescor, neste momento sofrerá.

O mundo não é certinho e sempre a mesma coisa, ou seja, absoluto. O planeta Terra é feito por vicissitudes: um dia é de um jeito e no outro é de outra forma.

A mesma coisa serve para o sorriso de um amigo: haverá um dia que ganhará uma mordida dele. Preso ao seu sorriso como algo certo e bom, neste momento vai sofrer. Não por causa da mordida dele, mas porque quer se deleitar no sorriso.

Se você está na felicidade, quando o amigo lhe sorri ou lhe morde, não terá prazer nem dor.

Participante: Mas, posso viver no prazer consciente de que também há dor. Posso viver o prazer e me deleitar nele consciente de que também poderei sentir dor.

Sim, pode, ninguém vai lhe impedir e pelo menos eu não vou lhe dizer que está errado.

Participante: Então é possível viver plenamente na felicidade, pois para isso basta se harmonizar o tempo todo com o momento, com todas as vicissitudes inerentes, certo?

Dentro da utopia de vocês, sim. Dentro da realidade, não.

Por que? Porque tem horas que não vai conseguir estar atento, pois o mundo é feito de vicissitudes, ou seja, uma hora consegue e em outra não.

Dentro da utopia de vocês, sim, podem, mas não estou aqui para sonhar: estou aqui para falar da realidade. E a realidade é essa: algumas vezes vão conseguir estar atento e não viver o prazer nem a dor, mas, em outras vezes, não vão conseguir. Quando não conseguir, harmonizem-se consigo por não ter conseguido.

Como Paulo diz: você pode fazer tudo o que quiser, mas nem tudo o que faz é o melhor.

Participante: Você uma vez disse que não se preocupava com o que nós fazíamos, mas sim com a capacidade que temos de sofrer.

Sim, eu me preocupo com a capacidade que vocês tem para sofrer, pois a vida não foi feita para ser vivida em sofrimento.

Sofre quem quer sofrer, ou melhor, sofre quem quer ter prazer. Quem quer ter prazer vai sofrer, com certeza.

Participante: Não vem ao caso se estou certo ou não, mas vou ter que viver uma vida morna sem ao menos poder desfrutar quando há prazer? Eu posso ter prazer consciente de que ali também poderia haver dor.

Foi o que eu já disse: você pode ter o que quiser, não há o menor problema. Apenas tenha consciência do preço a pagar pelo o que você quer, só isso.

O problema é querer uma coisa e depois chorar quando vier outra. Vamos falar agora sobre isso.