Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Perguntas sobre o trabalho

Participante: E se a minha felicidade for compreender o que é ser o Espírito, já que o humano que sou, pelo que o senhor ensinou, nem sequer existe? Como ser feliz na realidade se o sonho não se desfaz?

Se a sua felicidade depender de conhecer o Espírito para ser feliz, meus pêsames: vai morrer infeliz. O Livro dos Espíritos é claro com relação a isso: não se entende o Espírito.

Eu sempre disse: você não é nada para o Espírito. Mas, para você, é alguma coisa. O Espírito é que não é nada para você.

Vocês acham que podem entender o Espírito, mas nunca conseguiram acertar as minhas perguntas. Por que isso? Porque nunca entenderam o que eu disse. O máximo que fizeram foi ter uma ideia humana do que é um Espírito.

Acontece que a ideia humana do Espírito não é o próprio e sim o mundo dos devas: são os seres humanos sem carne.

Participante: Isso significa ouvir a voz do coração e seguir sem medo, com confiança, mesmo que isso represente se soltar e se entregar totalmente a vida?

Não. Para com esta história de coração.

Para vocês humanos, coração é apenas um músculo que bombeia o sangue. Estou falando de razão, em trabalhar pensamento para ser feliz, em viver de uma forma diferente da que vocês vivem hoje.

Lembre-se que viver não é uma atividade física, mas mental. Você pode ter uma vida extremamente bagunçada, mas se vivê-la de uma forma não bagunçada, não terá bagunça nela.

Participante: Se só o Espírito pode fazer a evolução espiritual, o ser humano pode fazer a evolução material. Então, podemos dizer que evoluir materialmente é evoluir no ter, no sentir e no pensar. A partir disso, pergunto: o que seria evoluir no sentir e no pensar?

Você fala em evoluir no ter, mas eu lhe pergunto: em que pode evoluir no ter? Você constrói castelos materiais e aí aparecem as chuvas, os terremotos e um tsunami e acaba com tudo. Portanto, não pode evoluir no ter;

Evoluir no sentir? Sentir o que? Como pode escolher o que sentir se um dia você se sente bem e no outro se sente mal, sem saber o porquê disso? Como poderá evoluir no sentir se nem sabe o que está sentindo ou o porquê de estar sentindo tal coisa?

Evoluir no pensar: esta é a única evolução que pode ser feita. Mas, não uma evolução no pensar simplesmente, mas no pensar a vida.

Evoluir no pensar não se trata de uma evolução cultural, ter mais conhecimento ou pensamentos mais sábios, mas sim saber pensar a vida de uma forma diferente. Esta é a única evolução que o ser humano pode fazer.

Participante: Mas, Deus não está dentro de cada um, ou seja, não somos energia de Deus?

Sim, Deus está dentro de você, mas está tão escondido que não foi achado até hoje. O único Deus que achou dentro de si foi aquele criado por você mesmo.

Exatamente por isso estou dizendo agora: esquece esse Deus e vamos fazer o que pode ser feito.

Participante: Não entendo. Uma hora eu sou Deus e em outra Ele está muito distante. Em que me guiar?

Você é Deus ou melhor, Deus é você. Isso é verdadeiro. Só que para você Deus está distante. A diferença entre ser e saber que é, é imensa.

Saber que é, é uma informação cultural: ‘eu sei que eu sou Deus’. Se sabe que é, porque não vive como Ele?

Desculpe-me, mas aqui não temos nenhuma criança e não estou falando direto com você, mas preciso dizer uma coisa. Se vocês sabem que são Deus, porque ainda continuam tendo relações sexuais? Deus não tem relação sexual com ninguém.

Você me responderia: ‘ah, mas eu tenho o meu lado humano’. Pronto, deixou de ser Deus.

Deus está longe de você porque antes de ser Ele, você é humano. Por isso o Deus que diz que é, nada mais é que uma projeção Dele feita pela sua mente. Você faz um Deus para si, por isso não é Ele.

Eu vou dizer uma coisa: não foi à toa que corremos com as transcrições dos estudos das Cartas de Paulo. Daqui para frente, vamos usar muito Paulo. Neste exato momento, vou falar agora de um ensinamento do apóstolo.

O que está acontecendo hoje aqui é que vocês estão saindo da escola primária e estão entrando no ginásio. Eu estou deixando de tratá-los como criancinhas, estou deixando de ser a tia e estou falando como um professor para adolescentes. Enquanto vocês eram criancinhas eu contava estórias da carochinha, ou seja, o que falamos nos últimos dez anos.

Agora você é adulto. Vamos conversar de homem para homem?

Participante: Tudo o que foi feito até hoje não foi uma tentativa de nos fazer entender o mundo espiritual ?

Não, nunca tentei lhe fazer entender o mundo espiritual. Pelo contrário: sempre disse que o meu trabalho era abrir tanto o leque de opções de verdades para que você jamais tivesse condições de optar por uma.

Portanto, o meu trabalho até hoje não foi ensinar o que é o mundo Espiritual. Pelo contrário: foi mostrar que você não sabe o que é o mundo espiritual.

Participante: mas o ser humano não conseguiu. E aí, houve uma mudança de planos? Seria isso? Enquanto ser humanos nós temos alguma chance de entender o Espírito ou isso jamais acontecerá?

Não houve mudança de plano nenhum. No Universo não existem mudanças de planos: o plano sempre foi esse.

Você humano tem condição de entender o Espírito? Nenhuma. Só pode conhecer os devas. Esses vocês podem conhecer e conhecem.

Quem são os devas? São os que estão nos romances espíritas. São aqueles que vivem nas cidades espirituais, que vivem no umbral, que ainda são homem e mulher. Esses são Devas, não Espíritos.

Participante: Como é saber pensar a vida de uma forma diferente?

Até o final do ano nós saberemos, pois esse trabalho vai durar o ano inteiro.

Participante: Como devo proceder para começar a entender o humano que não sou?

É isso que vamos conversar nesse trabalho.

Participante: Como o apóstolo Paulo falou tanta coisa se nada existe? Então, o que existe é o que fazemos? Tenho que desmentir e desmistificar toda essa fantasia que o mundo sistematizado construiu como fuga?

Primeiro: tudo o que Paulo falou é o que vocês fazem e como deveriam fazer. Ele não falou de Reino do Céu. Ele não explicou das cachoeiras do céu, não falou de como os santos vivem. Falou de vida na Terra.

Segundo detalhe. Mesmo quando falou de vida na Terra, Paulo disse: eu falo com vocês assim porque ainda são crianças; no dia em que forem adultos ouvirão palavras de adulto.

Terceiro aspecto da sua pergunta. Sim, você tem que destruir toda essa busca inútil pelo mundo dos devas e se concentrar na única coisa que pode fazer: viver a vida que tem.

Isso porque se essa vida é a missão e nela atingir a perfeição, ou seja, alcançar a felicidade, irá evoluir, chegará perto de Deus, amará a Deus. Agora, se nesta vida quiser compreender o que é amor, o que é Deus ou o Tudo, para aí poder amá-Lo sobre todas as coisas, não vai conseguir, pois não conseguirá compreender estas coisas, já que lhe falta um sentido para tanto.

É isso que estou mostrando para vocês. É por isso que esse trabalho se chama ‘Em busca da felicidade – a verdadeira elevação espiritual’. Este trabalho, digamos assim, é um atalho para aquilo que você jamais vai poder conhecer enquanto humano.

O problema é que vocês estão querendo atingir uma coisa por um caminho que desconhecem. É como se nunca tivessem sido alpinistas e no meio do caminho houvesse um morro e quisessem subir escalando-o. Não vão conseguir: vão cair e morrer.

Neste trabalho o que estou fazendo é chamá-los para contornar o morro para chegar onde querem chegar. Agora, se quer tentar a escalada, vá, mas tenha a certeza que vai quebrar a cara.

Participante: Seria possível ouvirmos, como humanos que estamos, em que acreditar, em se posicionar frente à vida ou como viver em paz, visto que você tem nos dito que não nos leva a nada. Diga por favor o que nos leva à paz na atual condição humana? Não digo em viver num mundo onde não haja guerras, mas em como alcançar a paz no meio dessa guerra toda.

É exatamente o trabalho desse ano. A cada conversa vamos falar sobre alcançar a felicidade e, saiba: não há felicidade sem paz, sem harmonia.

Na verdade vamos falar de felicidade sem falar dela. Isso porque felicidade é algo que vocês também não sabem o que é.

Na verdade o que eu vou falar não é sobre ser feliz, mas sim de não ter prazer nem dor. Prazer e dor vocês sabem o que é, por isso posso falar destes assuntos.

Estes elementos, como são conhecidos, você pode atacar, acha que pode vencer. Então, vamos atacar o prazer e a dor. Quando extirpar estes elementos da sua vida, a felicidade surgirá.

Não vou falar mais nada que seja mágico e que não possa ser comprovado materialmente. Isso porque vamos falar a seres humanos e de uma forma humana. Vamos trabalhar com valores humanos, pois se não for assim, continuaremos apenas falando do mundo dos Devas.

Participante: O seu trabalho é só destruir, destruir qualquer compreensão ou entendimento. Este trabalho é para chegarmos realmente ao não sei?

Na hora que você chegar ao não sei, vai ser feliz. Enquanto souber algo, vai continuar subordinando a felicidade à realização de suas verdades. Aí, então, só terá prazer e dor.

Participante: Meu pai só me dava porrada e cresci compreendendo o sofrimento alheio por causa do meu passado. Então, aquilo era o assobio e o senhor vai cantar a música?

Olha, se eu fosse pelo menos afinado, cantaria música. Mas, como não posso cantar música, vou apenas bater no tambor.

Participante: Será que existe entre nós humanos alguém que não mereça esse mundo dos devas?

Que não merece? Todos. Nenhum de vocês merece, mas todos buscam isso: o que fazer?

Se você está colocando a questão do merecer como resultado das ações mentais, realmente concordo: merecem estar no reino dos devas. Mas, pela natureza de vocês, não mereceriam, pois não vieram aqui para ir ao mundo dos devas. Pelo contrário: vieram aqui para se libertar da humanidade, na matéria ou no próprio mundo dos devas.

Participante: Para que tudo isso se não vamos ter tempo nessa transição? Como agir no desencarne?

Vou lhe dar um conselho. Não só a você especificamente, mas a todos que acham que não vão conseguir: desistam agora. Não estou falando em desistir de Joaquim, mas desistir da vida: encoste-se num canto e espere a morte chegar.

Quem lhe disse que não vai dar tempo? Vocês acham que esse é um trabalho de anos, de milênios. Não, esse é um trabalho de só cair uma ficha. Na hora que cai a ficha isso se faz em um segundo.

Por isso lhe dou um conselho: não desista da vida e lute para chegar a esse momento. Como diz Krishna, ele pode chegar até no seu último minuto de vida. Chegando, neste momento resolveu tudo.

Participante: Eu entendo pelo coração o que você fala. Lembra-se de mim? Nos vimos na palestra de São Paulo e você me disse que eu devo reconhecer tudo isso como um presente. Lembrou? Bom, então, eu entendo o que você diz e por causa de entender eu não sei nem o que dizer, não sobrou nem planos para essa vida. Estou quase, quase vazio.

Eu lembro de você não só dessa conversa. Lembro-me de você chorando aqui porque a vida estava sendo muito injusta com você. Lembra-se disso?

Pois é, agora você sabe que quando se chega no vazio, retirando inclusive todos os aspectos espirituais que queria entender com aquelas suas perguntas, alcança a felicidade, a paz.

Participante: Então não vai mais ter teoria ou doutrina para segurar a gente. Só fé em Deus, que para nós humanos é nada?

Nem fé em Deus.

Neste trabalho só vai ter a realidade humana e a forma de como lidar com ela. Mais nada que isso. Acabei de dizer que vocês não tem fé: criaram uma fé humana, ou seja, a ideia que Deus vai lhes dar tudo aquilo que acham que é bom e o que querem.

Costumo dizer que Deus não é justo, mas sim a Justiça. Apesar disso, vocês ainda acham que Deus é justo, ou seja, vai aplicar a justiça. Só que a justiça que esperam que Ele aplique não é a justa, mas aquilo que você acha justo.

Ele não vai fazer isso. Na hora que não fizer, vocês vão chamá-lo de injusto e nem vão querer ficar ao lado Dele.

Onde está a fé?

Participante: O que dizer de um estranho estado de inércia, um estado de entrega que pode estar levando a uma falta de ânimo para as coisas do mundo e a um conformismo. As coisas são e serão o que tiverem que ser, a mim cabe apenas vivê-las como se apresentam, sem ilusões nem projeções. É a letargia?

Não, é a felicidade.

Depois deste trabalho, praticando o que conversarmos, você vai ser frio e vai andar com cara de bobo, ou seja, vai ser feliz porque não vai ter prazer nem dor.

Já disse isso e vou repetir: a felicidade de que falo não é rir, não é mostrar os dentes, não é dizer que maravilha; ela existe quando se é apático.

Participante: Se através dos nossos méritos conseguimos abandonar a sansara, o ciclo de reencarnações, não reencarnaremos mais nem mesmo no novo mundo de regeneração?

Não é isso. Para cada sentido de encarnação existe uma sansara.

Sendo assim, neste momento você só vai poder abandonar a sansara de provas e expiação. Depois vem a outra.

Só que para esta nova roda chegar, é preciso antes se libertar dessa. Para isso é preciso libertar-se das coisas humanas. Os devas, encarnados ou não, não se libertaram dessas coisas, por isso vão continuar a atual sansara no novo planeta.

Apenas uma observação: acho que a partir de agora eu só vou chamar vocês de devas, espíritos desse mundo.

Participante: O que é um deva?

É um Espírito humanizado, encarnado, ou seja, num corpo de carne, ou desencarnado. É um Espírito que ainda pensa com verdades humanas.

É um Espírito que ainda é humano, mesmo fora da carne.

Participante: A maioria dos devas são também capazes de construir formas ilusórias pelas quais eles podem se manifestar diante de seres de mundos inferiores. Devas superiores e inferiores têm inclusive de fazer isso entre eles?

Não existe deva superior ou inferior, assim como não existe ser humano melhor ou pior.

‘Os devas são capazes de criar formas pelas quais se manifestam diante de outros seres’: esta ideia é uma ilusão.

Os Devas não são capazes de criar nada. Se alguém não olhar para eles, não os verá.

Eles não são capazes de lhe dominar, a não ser que você queira ser dominado ou aceite o domínio deles. Eles não podem se apresentar: você tem que procurá-los. Se não procurá-los, jamais os encontrará.

Se fosse como você fala, não existiria livre arbítrio. ‘Eu não quero encontrar os devas’ - isso é um livre arbítrio seu. Mas, se mesmo assim, o deva pudesse lhe encontrar sem que quisesse, o seu livre arbítrio iria para a lata do lixo.

Não existe isso: ninguém pode fazer nada para o outro sem ferir o livre arbítrio.