Em busca da felicidade - Textos - Parte I-Técnica

Mais questões sobre o aqui e agora

Participante: A condição natural do nosso mundo fenomênico ou das probabilidades é sempre a incerteza. Isso não é lógico?

Sim, é lógico. Mas, o que lhe reserva a incerteza? O prazer ou dor. Na hora que você vive o presente no presente pelo presente, está vivendo tudo com certezas.

Participante: No caso, não criar nenhuma expectativa para o futuro e sim esperar pelo presente?

Se esperar pelo presente, já criou expectativa e já está esperando alguma coisa.

Não é esperar pelo presente, é viver o presente e jogar no lixo toda expectativa de futuro. Isso porque o futuro é sempre uma probabilidade e, esperar por um futuro, leva você a um prazer ou a uma dor.

Participante: Esperar o futuro é ter esperança no futuro.

É exatamente isso. Quem espera pode um dia alcançar, mas isso é apenas uma probabilidade de um dia alcançar.

Na realidade, a probabilidade de não alcançar é muito maior. Quando isso acontecer, a queda será inevitável, ou seja, o sofrimento será inevitável.

Agora, se você gosta de sofrimento, viva a expectativa do futuro.

Participante: Vamos cair na mesma história: se fizer fez, se não fizer não fez.

Não existe nenhuma outra história para se cair. Para a perfeita compreensão disso, vou falar algo muito interessante.

A vida é fatalista. Reparem que ela vive por si mesma e não depende das ações dos humanos.

Caso conseguissem tudo o que quisessem, tudo que se esforçam para fazer, eu poderia aceitar que as vidas fossem construídas por vocês. Mas, não é isso que acontece. A maioria se esforça para fazer alguma coisa e não consegue. Por quê? Porque a vida tem o seu próprio ritmo, tem o seu próprio destino.

Portanto, não se preocupem em fazer, pois se vocês acharem que podem fazer vão estar presos entre o prazer e a dor.

Participante: Emoção sem prazer ou dor. Teria um exemplo disso? Não seria outra coisa?

Emoção sem prazer ou dor, é: 'estou com raiva da sua pergunta? Estou, e daí'. Viver dessa forma é alcançar a felicidade.

Como seria viver o prazer? 'Estou com raiva, pois essa porcaria dessa pergunta não deveria ter vindo'. Neste caso eu vivi com prazer, porque vibrei com a raiva.

E a dor? 'Que droga, ele fez essa pergunta; eu não acredito que ele conseguiu fazer. Não queria que ele fizesse’. Quem vive dessa forma está sofrendo com a pergunta.

Viu como pode se viver com a raiva de três formas diferentes?

Só um detalhe: estou ilustrando em palavras, mas o que quero lhes transmitir não se consiste em falar sons, mas sim mentalmente. O que estou falando é que deve falar uma destas frases de você para você. A ilustração em palavras é só para entenderem o que quero dizer.

Participante: Tudo de uma maneira espontânea é não pensar como no jogo, ou seja, sem premeditar as consequências da ação?

Veja: a premeditação acontece na mente; portanto, ela participa do mundo das probabilidades.

'Eu vou lá e matar aquela pessoa'. Quantos já não saíram com essa premeditação e não chegaram lá para matar ou, então, foram mortos antes ou aconteceu alguma coisa que acabou a raiva? Não premedite nada. Ou melhor, não acredite nas premeditações que a sua mente cria.

Quantas vezes você premedita fazer alguma coisa e não consegue?

Participante: Viver sem antever as possibilidades futuras, não seria viver sem plano nenhum ou uma irresponsabilidade?

Aqui existem diversas pessoas que já viveram muito. Para esses, pergunto: onde foram parar todos os planos de vocês para a vida? De tudo o que planejaram para essa vida, o quanto aconteceu, o quanto conseguiram realizar?

Fazer planos é o primeiro caminho para sofrer, pois a vida vive a vida e, quando você a planeja, na maioria das vezes ela não sai de acordo com o seu planejamento. Ela vai viver a si mesma e lhe diz: 'planeje o que você quiser; mas vou viver eu mesma e enquanto estiver vivendo eu mesma, você vai sofrer, pois está planejando viver outra coisa'.

Planejar a vida, sonhar, premeditar o que vai fazer, só leva a uma coisa: sofrimento. Isso porque a vida não acontece dentro dos seus sonhos, dentro da sua premeditação, dentro do seu planejamento. Todos esses sonhos, premeditações e planejamentos só pertencem ao mundo das probabilidades.

Quando você sonha alguma coisa, há uma probabilidade de alcançar. Quando se apega a esse sonho, arriscou muito alto na banca da vida e vai perder tudo que tem.

Participante: para quem faz o ato, no caso do assassinato, como é para ele viver em Deus matando?

É dizer: 'matei, e daí'? É apenas constatar o momento e dizer que matou'.

Quantas vezes pessoas saem de carro para ir até a esquina e matam uma pessoa? 'Eu não queria matar, não tinha esta intenção’, mas matou.

Portanto, é simplesmente constatar a vida: 'eu matei'. Mas, vou lhe fazer uma pergunta: se a vida vive a vida, quem mata quem? É a vida que mata alguém.

Não existe assassino que mate alguém. A vida mata a si mesma, pois a vida é aquilo que você vive; a felicidade, o prazer e a dor, são a forma como vive aquilo que a vida faz você viver.

Participante: Quando tenho fome, como; quando tenho sede, bebo; esta é toda a realidade?

Não. Quando você tenha fome, não coma: apenas tenha fome. Agora, quando estiver comendo, aí sim pode comer. Quando tiver sede, tenha apenas sede. Quando for beber água, beba-a.

Você não pode viver a fome com a presunção de comer, pois pode não ter nada para comer. E se isso acontecer? Dor, sofrimento é o que você viverá.

Não pode viver a sede com a presunção de beber água quando se está com sede: é preciso se viver cada presente isoladamente com o que ele proporciona. Se o presente agora é ter fome, viva a fome. No momento seguinte pode ser que você se levante e consiga comer. Neste momento pode dizer que está comendo, mas não antes. Não dá para viver presunções, probabilidades sem que realmente aquilo esteja acontecendo.

O problema é que vocês acham que comem quando querem, mas esquecem que isso é ato da vida. Vocês não comem nada: a sua vida num determinado momento é um comer. Se ela não fosse isso, vocês não estariam comendo.

Não estou falando da ação comer; falo de viver a vida, que é aquilo que está acontecendo. Só quando a vida for comer é que você estará comendo. Por mais que queira comer, enquanto ela não for comer, não estará comendo.

Eu vou dar um exemplo: você está num lugar que não pode sair; numa reunião com o seu chefe no trabalho, por exemplo. Não pode sair e está morrendo de fome. É hora do almoço e o seu chefe não fala nada em ir almoçar. Você vai colocar o dedo na cara dele e dizer que acabou a reunião porque está com fome?

Claro que não vai. Só que continuará a ter fome e por isso sofrerá. Este sofrimento vai lhe levar a desconcentrar-se e, por isso, nem vai ouvir o que o seu chefe está dizendo. Sem saber o que ele disse, não fará o que ele espera. Aí, perde o emprego.

Neste momento, você o acusa de não ser justo. Mas será que isso é verdade? Será que ele não foi justo ou você estava vivendo a presunção de comer e nem ouviu o que tinha que fazer?

Vou dar mais um exemplo: alguém me deu um pito. Isso é raciocínio? Não. O dar é vida. Por isso posso dizer que a vida me deu um cigarro. O gesto daquela pessoa que me deu o cigarro é a vida dela. Pegar um cigarro e me dar é a vida e não ele quem faz.

Agora, enquanto ele me dá o cigarro tem que viver exatamente isso, sem saber por que está me dando, para que está me dando, como vai dar ou se poderia estar deixando de dar.

A vida é o que acontece enquanto você pensa no que está acontecendo.

O trabalho da felicidade é vivenciar o que acontece sem presumir mais nada sobre o que está acontecendo. Quando falo assim, estou abordando a questão do assistir a vida. Já falei em assistir a vida há tanto tempo e vocês disseram que tinham entendido o ensinamento, mas estou vendo que não.

Assistir a vida é viver o momento de agora sem presumir nada.

Participante: Para o meu entendimento, o senhor sempre diz a mesma coisa de modo diferente. Estou perdendo algo?

A única pessoa que pode dizer se está perdendo ou não, é você mesmo. Só você vai saber se perdeu.

Quando é que sabe que perdeu? Quando achar que tinha alguma coisa para ganhar. Ninguém acha que perdeu nada se não esperar ganhar alguma coisa.

Onde está a esperança de ganhar? Está no mundo das probabilidades. Então, não se preocupe com isso.

'Estou ouvindo? Estou. Se estou perdendo ou ganhando, não sei'.

Participante: Como podemos viver dessa maneira quando temos marido e filhos debaixo do mesmo teto pensando diferente?

Constatando que essa é a sua realidade: 'eu vivo com marido e filhos debaixo do mesmo teto e eles não pensam isso'. Agora, se vive o mundo das probabilidades, ou seja, que um dia eles vão lhe ouvir, vai sofrer, pois eles podem nunca pensar assim.

Saiba de uma coisa: o seu marido não é o seu marido; ele é a sua vida. Tudo que está externo à sua mente é vida e a vida vive a vida.

Participante: o que O Livro dos Espíritos fala a respeito do pensamento?

Pergunte para o espírito; estou falando com o ser humano.

O Livro dos Espíritos não entra neste estudo. Estamos falando em felicidade em nível material a partir de lógicas materiais e para seres humanos. Só estamos mostrando que por um acaso o que for falado aqui acabará dando na mesma coisa que O Livro dos Espíritos diz para fazer: ter a felicidade incondicional.

Participante: Porque, então, O Livro dos Espíritos nos ensina tanto para vigiarmos os nossos pensamentos se não vamos influenciar em nada a vida ou o curso dos acontecimentos?

Porque essa é a doutrina espírita e, quem segue a doutrina espírita para chegar ao mundo dos espíritos, só chega ao mundo dos Devas. Falo isso sem atacar a religião espírita de qualquer forma. A verdade é que a doutrina espírita só existe no mundo humano e no dos devas. No mundo espiritual acima do mundo dos devas, não há religiosidade. Lembram que já conversamos sobre isso? Sendo assim, para se ir além do mundo humano com carne ou sem, é preciso não ter uma doutrina.

Se você coloca um ensinamento dessa doutrina como fator gerador de verdades na sua vida, vai estar sempre preso a ele e vai para o mundo dos Devas. Vai lá se divertir nos carros do mundo dos devas e um dia vai voltar.

Participante: Porque Jesus disse então, orai e vigiai? Para que fazermos isso se nada vai mudar?

Para mudar alguma coisa no futuro, quando sair da carne. Falo assim porque Jesus também disse: vença o mundo, ou seja, enquanto não se libertar do mundo, estará preso a ele.

Olha, deixe-me falar uma coisa.

Não adianta vocês quererem entender os ensinamentos presos às ideias que lhe passaram sobre o ensinamento. Jesus sempre disse para buscar o bem no céu e não na Terra. Mas o que é buscar o bem na Terra? Viver o prazer.

Não é a isso que as doutrinas lhe leva? Se é assim, por trás de cada ensinamento que elas passam tem que haver um outro sentido além do que receber agora, pois ele nunca falou em receber agora.

O problema é que quem quer lhe prender ao bate e volta no mundo dos devas diz que vai receber alguma coisa nessa vida. Só que Cristo disse para você não se preocupar com essa vida, não querer receber agora. Em quem você acredita?

Participante: Como saber se estamos tendo a reação mental mais certa quando as coisas da vida acontecem? Como saber que estamos nos afastando dos condicionamentos vivendo o presente sem comparar com o passado e nem fazer suposições futuras?

Quando não acreditar na comparação com o passado que a mente fizer. Quando disser ‘espera aí, a mente está dizendo que isso está acontecendo por causa daquilo' e depois dessa constatação, dizer: 'não sei se está'.

Não estou falando em negar o que a mente cria, mas sim em dizer não sei. Quando você ouvir o que a mente fala e lhe responder com um não sei isso é verdade, chegou. Neste momento pode ter a consciência de estar liberto do passado e do futuro.

Participante: Uma falha pode colocar um batalhão todo em risco, mas o engano pode mudar todo o rumo de sua vida?

Pode sim. E o grande engano da vida é acreditar que você vai fazer o que quer durante ela. Não existe engano maior nessa vida do que achar que pode fazer alguma coisa, pois a grande maioria já viu que o que quer, raramente acontece.

Participante: Acredito que quando fico planejando algo de maravilhoso, se de repente não dá certo, vem a frustração, a tristeza. Se não fico planejando muito, o que vier está de bom tamanho. Seria isso?

Exatamente isso. Na hora que você não tem uma probabilidade, não tem o risco de cair na depressão. Não importa o que vier, vai estar bem, vai estar na boa.

O que estou falando é não desejar o desejo e isso vocês sabem como fazer. É não desejar, mas se o mundo das probabilidades aparece no pensamento, não aceitam.

Participante: Eu não consigo enxergar o mundo sem planejamentos, sem metas, sem horário, etc.

A grande maioria não consegue. Não é só você.

Já disse lá atrás: para alcançar a felicidade tem que mudar-se. Mudar-se é se jogar no escuro, é fazer alguma coisa sem saber como vai ser feito ou quando acontecerá.

Se não consegue imaginar o mundo sem isso, essa é uma probabilidade que você está imaginando agora. Diga: 'não sei se não consigo. Vamos ver quais serão os meus próximos presentes e se neles estarão presentes o eu vou conseguir'.

Espere. A felicidade depende da paciência. É preciso ser paciente com a vida.

Participante: Vou ajudar a todos a entender. Planejar é dizer: um dia vou fazer isso, um dia vou comprar isso. Um dia. Fazendo isso você não determina em que horas vai obter o que quer, não deixando de querer.

Veja o início da sua fala: 'vou ajudar a todos a entender'. Você acabou de planejar.

Nesse momento não está ajudando ninguém, nem a si mesmo: está aqui me ouvindo, mas já está tendo a probabilidade de ajudar os outros. E se de repente cai um raio na sua cabeça agora, vai ajudar a quem?

Lembra na primeira palestra? Eu disse assim: se você tem um compromisso para amanhã e morrer hoje, vai ficar aqui para poder honrar o seu compromisso.

É por isso que dentro da elevação espiritual, viver o mundo das probabilidades é um perigo muito grande. Se você está concentrado em fazer e se alguma coisa acontecer daqui até esse fazer, você vai ficar ligado a este mundo para fazer.

Participante: Antes da hora não é a hora, depois da hora não é a hora. A hora é a hora, a hora é agora. A primeira coisa que aprendi no exército brasileiro: viver o verbo presente, o aqui agora.

Eu acho que isso deveria ter sido aprendido não no exército, mas na vida, porque ela só existe no aqui e agora.

Neste momento tem muita gente dizendo que amanhã vai ouvir essa palestra de novo para ver se entende. Vocês se lembram quando acabou a luz e não tiveram nada para ouvir amanhã?

Sabem por que não estão entendendo agora? Porque sabem que podem ouvir amanhã.

Quem disse que isso vai acontecer?