O espírito e a vida humana

Conversando 3

Participante: então, tudo que fizer nesta encarnação visando um futuro melhor é inútil?

Você não faz nada: trata-se apenas de uma ideia de estar fazendo que chega à mente primária do espírito. O espírito, apegado ao ego, acha que está fazendo alguma coisa.

Toda ideia exposta pela mente é gerada por Deus. Tudo que o Pai faz é visando o melhor para o seu filho, você, o espírito.

Diante da realidade do universo que acabei de expor, o que acha preciso fazer para ter um futuro melhor? Certamente é desapegar-se do ego, pois é o apego ao que ele cria que afasta você do que é melhor.

Participante: para que o espírito precisa evoluir?

Evoluir não é caminhar para frente. Como disse, é limpar-se, voltar à sua condição natural.

Para que precisa fazer isso? Para viver a felicidade que Deus promete.

“Deus criou todos os Espírito simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-lo e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade”. (O Livro dos Espíritos – pergunta 115).

O espírito quando acredita no que a mente humana fala afasta-se de Deus. Com isso não vive a felicidade que o Pai tem prometido. Cumprindo as missões que Deus dá (encarnações) e durante elas adquirindo o conhecimento da verdade (só Deus e sua ação é real), volta a vivenciar a felicidade.

Participante: armamos a tenda com uma informação durante décadas. Agora vem pai Joaquim e a desarma. Como lidar com o vazio que se sente na mente? Agora só sei que nada sei. Que fazer agora?

Nada... Aliás, você nunca fez nada mesmo, não é verdade?

Tudo o que fizer continuará sendo fruto do faça-se de Deus e não sua ação. Por isso, para que preocupar-se?

Quanto ao fato de lidar com o vazio que fica na mente a partir da constatação de que tudo o que acreditava era ilusório, sinta-se satisfeito, pois quando acabar tudo o que existe na sua razão humana, só sobrará o amor.

Participante: Joaquim, se me permite me dirigir a essa pessoa gostaria de dizer algo sobre o vazio. Passei por isso há pouco tempo. Convivi com um vazio causado pelo fato de não saber mais quem era Deus, o espírito ou as coisas do mundo espiritual. Isso me atormentou muito a ponto de ter uma depressão. No entanto, Deus não desampara seus filhos e por isso não me desamparou. Com o tempo o meu quebra cabeças sobre essas coisas foi se montando, uma peça de cada vez. Hoje estou em paz apesar do vazio. Isso aconteceu quando percebi que o universo é imensamente poderoso e inexplicável. Sendo assim, não adianta sofrer, pois isso não me levará a ter as explicações que quero no momento. Sei que talvez um dia possa ter uma parte delas. Com isso fui parando de sofrer e o vazio foi dando lugar ao universo que é gigantesco e ocupa todo o vazio que possa existir.

A esse seu comentário só posso dizer uma coisa: amém...

O que você falou é perfeito. Como tentador que é, no momento da primeira exposição à ausência de compreensões sobre as coisas universais, o ego cria a ideia do vazio e a sensação de sofrimento e medo por conta disso. Tudo isso nascido da ideia de perder, que é contrária a forma possessiva que ele lida com as ideias: através de posses.

Quando você falou que perdeu Deus e o espírito, na verdade não os perdeu, tanto assim que depois foi Nele que encontrou o caminho para voltar. O que realmente perdeu foi o seu deus, aquilo que possuía como sendo o Senhor.

A mente lida com os elementos através da possessão por conceitos, ou seja, através da convicção de que o que acredita é real. Quando a sua verdade é contestada, aquela posse é atingida e isso faz o tentador reagir afirmando que essa situação é uma perda e que por isso deve ser vivenciada com sofrimento.

Aquele que é subordinado ao ego possui como verdadeiras as informações sobre o mundo espiritual. Quando alguém ataca logicamente estas informações, a mente precisa demonstrar que tal vivência é motivo de sofrimento para que você não se liberte do que sabe.

Participante: então, reinventamos o universo de acordo com o que pensamos e acreditamos. Sendo assim, nossas formas pensamento ao se transformarem em egrégoras podem nos libertar ou escravizar mais ainda. Estou certo?

Do que você falou, só retiraria a palavra reinventando. O ser humano não reinventa o universo: o inventa.

Você, o ser humano, inventa o seu universo criando ideias e realidades. Ao fazer isso o que é pensado vai ao espírito. Quando o ser universal se apega a ideia criada fica preso à roda de encarnações. Quando se liberta, se limpa das sujeiras que ao longo das encarnações anteriores foram se acumulando.

Participante: mesmo sendo ilusões as cidades espirituais ou umbral, podemos, nós espíritos, ter a percepção de estarmos num lugar assim quando desencarnarmos?

Sim, todos que acreditam nesses lugares viverão lá. Isso porque como ensina o Espírito da Verdade na pergunta que vimos, o universo se faz por afinidades. Todos que têm afinidades com esses locais se juntam e vivem o que imaginam estar vivendo.

Saiba de uma coisa: desencarnar não é viver sem a influência do ego humano da última encarnação. Trata-se apenas de não mais imaginar que está vivendo junto a uma massa carnal. O ego, ou seja, o seu mundo mental continua o mesmo depois do desencarne.

Por isso, se lá existe a ideia de que há cidades espirituais e que você merece ir para lá, estará neste lugar.

Participante: o livro de Urantia também é uma prova para o espírito assim como todas as outras filosofias também são ideias de egos?

A bíblia também. O livro é uma coisa material e, portanto, é apenas uma ideia que está na mente humana que o espírito está vivendo.

Aliás, deixe-me lhe fazer uma pergunta: quantas bíblias existem? Quantos Livros dos Espíritos existem? Quantos desse livro que você citou existem? Milhares.

Não estou falando de quantidade de volumes publicados, mas para cada um que lê um livro existe um diferente. O livro que você lê não é o mesmo que outro lê, apesar de ter as mesmas palavras. Cada um que lê um livro chega a uma conclusão, compreende de forma diferente, por isso está criando um livro diferente.

Além de ser provação, o livro, seja ele qual for, não é um instrumento de uma provação coletiva, mas individual, pois cada um lê um livro diferente do outro, mesmo que tenha as mesmas palavras.

Participante: tudo são versões, ideias, interpretações, ou seja, verdades relativas ou modelos de possibilidade de verdades absolutas.

Você só se esqueceu de uma palavra: compreensões. Não é interpretação, mas sim compreensão. Cada um compreende o ensinamento de uma forma diferente do outro. Por isso é que cria uma verdade diferente da do outro.