Síndromes da vida

Para amar é preciso doar-se

Acabaram de me dizer que se deve amar ao próximo a si mesmo. Eu pergunto: como se ama o próximo a não ser abrindo mão do que se quer em detrimento ao que o outro quer? Como se serve ao outro sem dar a ele o direito dele também ter algo que queira alcançar? Não importa se o que o outro quer é a coisa mais cara ou mais barata, se é isso ou aquilo: ele também tem direito.

Quer ver uma coisa? Quando alguma coisa está arrumada na sua casa?

Participante: quando eu acho que está arrumada.

Isso. Porque você nunca dá ao seu marido o direito dele ter o critério de arrumação dele atendido? Porque acha que ele tem que seguir sempre o seu?

Participar: é que se der a ele este direito as coisas ficarão fora de lugar.

Sim, ficarão fora do lugar que você acha que devem estar, mas estarão no lugar certo de acordo com o critério dele. Não importa onde esteja cada coisa, no lugar que ele colocar será o certo dentro do critério de arrumação dele.

Participante: eu já me vi nesta situação. A minha mãe é extremamente bagunceira. Na casa dela, ela arrumava os copos todos de uma forma desorganizada. .

Este desorganizado é o critério de organização dela.

Participante: pois é, eu quando ia lá arrumava tudo do meu jeito. Não me importava com o fato da casa ser dela. Eu, como sou super organizada e ela bagunceira, quando ia lá arrumava tudo. Quando me mudei para lá cheguei à conclusão que para ser feliz dividindo o teto com ela teria que aceitar o critério de organização dela. Por isso comecei a abrir mão.

Pois é, todos nós temos que aprender a abrir mão das coisas para poder viver em felicidade com os outros...

Participante: a partir disso, eu comecei a ensinar a minha filha, que é tão organizada quanto eu. Comecei a mostrar para ela que a avó é desse jeito, mas que tinha muitas outras coisas boas também...

Posso lhe interromper? Quero fazer isso apenas para lhe dar um conselho: pare por aqui que você está se complicando...

O que você ensinou a sua filha, e considera um gesto de grande louvor, é que a avó dela é errada neste aspecto. Com isso criou um argumento que no futuro a vida de sua filha usará para justificar um sofrimento.

Participante: eu não disse que ela era errada, mas apenas disse como ela é.

Na verdade você não especificou que ela é errada, mas isso está implícito quando diz que ele é o jeito que é. Quando falou assim, você ensinou à sua filha que a desorganização que a avó vive é errada.

Participante: eu não tinha percebido isso...

Pois foi o que você transmitiu à sua filha. Por isso, lhe dei o conselho: pare pó aí neste pensamento. Se não parar agora, a vida no futuro irá cobrar que a sua filha tem que lhe vangloriar pelo grande gesto que você fez em favor dela. No futuro, se a vida não criar isso, você aceitará o sofrimento que ela lhe propuser.