Síndromes da vida

Libertando-se destas síndromes

Participante: isso é sadismo. A vida é sádica...

Sim, ela é sádica, mas é assim que ela é. O que você pode fazer a partir desta constatação? Não vivê-la...

As síndromes de filho de Deus e da cartomante trabalham juntas, pois aquele que se considera o melhor, o bom, o filho de Deus acha que a vida conspirará a seu favor e por isso aceita todo prognóstico de futuro que a vida faz. Só que ela não faz a mínima questão de mostrar que está certa, de fazer acontecer o que ela projeta para o futuro.

Na verdade, a vida faz questão de não ser do jeito que prevê, pois a função dela não é satisfazê-los, mas testar o seu apego às coisas que ela cria. Como não vêem esta realidade, acabam vivendo o que ela diz para viver.

Este processo continua durante toda a sua existência humana e continua mesmo depois do desencarne. A vida não muda com ou sem carne, porque o processo mental é o mesmo. Ou seja, você continua sofrendo mesmo depois da morte até que um dia se cansa de tanto sofrer e pede a Deus que lhe ajude.

Participante: isso eu já percebi. A vida vai cada vez mais apertando-nos para ver se desistimos de segui-la.

Isso, ela vai lhe apertando mais.

A vida é igual a colocar um parafuso: cada dia dá uma volta a mais, um novo apertão no tocante ao sofrimento para ver se você desiste de esperar que ela crie a felicidade para que você seja feliz.

Quando você vai desistir? Quando desiste de achar que tudo acontecerá a seu favor? Quando se cansa de sofrer.

Participante: isso aconteceu comigo. Eu achei que porque estava participando deste trabalho a vida me protegeria. Conversei com você sobre isso e você disse que não. Isso me deixou em pânico.

Não foi você quem entrou em pânico, mas sim a sua vida.

Participante: certo, mas eu voltei a ter os mesmos medos que tinha antes de começar a participar deste trabalho.

Quem teve medo? A vida...

Veja bem. Tudo o que você está me dizendo não pertence a você, mas são proposituras que a vida está lhe fazendo. Por isso, ao invés de viver estas coisas, diga a ela: ‘você está com medo, vida? Fique. Eu não vou viê-lo. Vou esperar ver o que acontece ao invés de viver o medo’.

O medo pode ser vencido. Lembro que uma vez estava conversando com uma pessoa e ela me falou que tinha medo de viajar de carro, medo de acidente. Para ajudá-la a vencer este medo eu lhe ensinei uma coisa.

Vocês não contabilizam o lado positivo só o negativo. Você mora numa casa cinqüenta anos. Durante este tempo nunca entrou um ladrão. Na hora que isso acontecer, vão dizer que a casa é insegura. Ou seja, vocês jogam fora cinqüenta anos de proteção que a casa lhes deu porque em um momento esta proteção não aconteceu.

É isso que vocês precisam ver para poder apagar a sensação do mau. Primeiro não se sentir filho de Deus, super protegido e começar a realçar para vocês os momentos bons. No entanto, fazem questão de esquecer os momentos bons e somente realçar os negativos.

Uma vez uma pessoa me perguntou como trazer a felicidade para a sua vida. Eu lhe disse para lembrar-se de um momento bom da vida dela.

No dia que você casou estava feliz?

Participante: sim

No momento em que houver sofrimento na sua relação com seu marido lembre-se do dia do seu casamento. Lembre-se de como estava feliz naquele momento. Com isso o sofrimento de agora poderá ser substituído por esta felicidade.

Acontece que vocês são cegos a estes momentos. Só vivem o sofrimento o sofrimento de agora...

Tem uma história que fala de um homem que saiu à rua e começou a chamar Deus dizendo que queria falar com Ele. Neste momento pousou uma borboleta e seu ombro e o homem a expulsou. Continuou andando e pedindo a Deus para falar com Ele. Apareceu uma flor e o homem a pisou.

Deus é tudo, mas o homem não O procura em todas as coisas. Quer que Ele apareça dentro da estampa que imagina ser Ele. Por isso nunca O encontra.

Aqui estamos falando da mesma coisa. Vocês querem a felicidade e ela está em tudo, mas não conseguem achá-la porque impõem condições para que sejam felizes.

Vocês não trabalham para ter a felicidade, mas querem que a vida lhes dê. Isso é impossível. É preciso trabalhar pela felicidade e este trabalho se consiste em cultivá-la.

Tenho certeza que a dona desta casa molha constantemente aquela planta que está ali. Cuida dela adubando-a quando é preciso. No entanto, não cuida da sua felicidade. Com isso o sofrimento entra na sua vida. Isso só acontece porque não adubou e regou a felicidade.

Adubar a felicidade durante a vida é passar pelo momento de sofrimento lembrando-se da felicidade já teve em outro momento. Esta lembrança lhes manterá felizes, lhes dará força para superar o sofrimento. Apesar disso, quando vocês vêem um sofrimento parecem cavalo: põem antolhos e só vivem ele.

Esta moça se separou do marido recentemente. No momento da separação ela só sofria o sofrimento. Só que ela teve uma vida de casada onde houve momentos bons. Destes momentos ela nem se lembrava quando ocorreu a separação. Melhor, elas às vezes até se lembrava deles, mas quando isso acontecia, usava a lembrança para sofrer mais no presente. Ela não usava estes momentos como uma alavanca para ser feliz, mas como motivo para sofrer, pois os vivia com o lamento de não tê-los mais.

Por isso afirmo que você só consegue sair do sofrimento quando se cansa de sofrer. Vocês precisam se cansar do sofrimento para poder parar de sofrer.

Acontece que quando se cansam de sofrer, os motivos que levaram a vivência do sofrimento não mudaram, ou seja, a vida continua mostrando sofrimento. A única coisa que aconteceu é que vocês chegaram a um ponto em que se cansaram de tanto sofrer e por isso deixam o sofrimento para lá.

Sendo isso verdade, pergunto: para que esperar cansar se pode cortar o sofrimento antes? Porque sofrer durante tanto tempo para depois cortá-lo?

Participante: quando tudo estava acontecendo eu lhe escutava. Sabia que tinha que acontecer tudo o que estava acontecendo, mas não conseguia estancar o sofrimento.

Você sabia que estava acontecendo o que tinha que acontecer, mas não se adaptava ao que estava acontecendo. Por quê?

Participante: porque eu estava apegada àquele momento.

Não, não é isso...

Porque apesar de saber que estava acontecendo o que tinha que acontecer ainda estava sofrendo? Porque estava contrariada com o que estava acontecendo.

Muitas pessoas já me disseram que não aceitam a idéia de que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Não entanto, estas mesmas pessoas atribuem a Deus a causa das coisas. Por exemplo, uma pessoa que me falava que não acreditava neste ensinamento ao mesmo tempo me dizia que se revoltava com Deus por Ele fazer as pessoas sofrerem.

Ora, se para esta pessoa é Deus que faz as pessoas sofrerem, isso quer dizer que ela já aceitou a idéia de que Deus é Causa Primária de todas as coisas. Se esta pessoa realmente não acreditasse neste ensinamento ela não se revoltaria contra Deus pelo sofrimento dos outros. Ela já aceitou a idéia de que tudo é originado em Deus. Para ela, na verdade, resta apenas entender o porquê acontecem coisas que são tratadas como negativas, como mal.

Participante: o que o senhor está dizendo é que eu, por exemplo, quando estava me separando já sabia que tudo tinha que acontece com aconteceu, mas não aceitava que aquilo deveria acontecer. É isso?

Sim, você viveu o sofrimento proposto pela sua vida naquele momento porque mesmo sabendo que tudo o que estava acontecendo tinha que acontecer, não aceitava o que estava ocorrendo. Ou seja, não conseguiu manter a sua felicidade naquele momento porque estava trabalhando no aspecto errado.

Participante: quando tudo aconteceu me vinha à cabeça o seu ensinamento de que fui eu que pedi tudo o que estava acontecendo. Isso me dava uma raiva...

Sei disso, mas foi você realmente quem pediu.

Participante: e me perguntava como podia ter pedido para passar por aquela situação...

Tem uma pessoa que fala de outra forma. Ela diz que trocaram o seu livro da vida na maternidade. Quando acontece alguma coisa que a contraria, esta pessoa diz que ela está vivendo o livro da vida de outra pessoa e não o que foi formado a partir dos seus pedidos...

Participante: se formos ver a minha vida, nunca tive motivos para reclamar dela. Nunca passei fome ou houve acontecimentos drásticos. Apesar disso, reclamo da vida.

Por que isso? Porque não valoriza a quantidade de vezes onde não houve motivos para reclamar.

Participante: esta é a síndrome da ingratidão?

Não ainda estamos falando do filho de Deus. Falando da idéia de estar protegido dos acontecimentos maus.

Tem uma história que conta que um homem foi ouvir Maomé pela primeira vez. Quando o criador do islamismo acabou de recitar os versos que tinha recebido, este homem lhe disse que gostara muito de estar ali e que voltaria todo dia. Maomé lhe disse para não fazer isso. O homem perguntou: por quê? A resposta que ele ouviu foi a seguinte: ‘você vai se acostumar com o que eu digo e não dará mais valor ao que está ouvindo’...

O sol nasce todo dia. Ele esquenta e clareia a sua vida diariamente, mas vocês não se lembram de cumprimentá-lo quando acordam. É a mesma coisa com relação à felicidade. Vocês não conseguem suplantar os momentos maus da sua vida porque não valorizam os momentos bons.

Vou falar dentro da lógica humana agora para poder lhes transmitir o real valor do presente. Há uma coisa ainda não vislumbraram: a cada vez que respiram a hora da morte se aproxima mais.

Saibam disso? Sabiam que cada segundo que passa é um a menos e por isso estão mais próximo da morte? Por terem medo de morrer, deveriam viver intensamente cada segundo, mas não é assim que vivem...

Vocês não ligam para um segundo de suas existências. Vocês largam o segundo que têm, o abandonam em detrimento de um futuro. Com isso agem como se estivessem correndo para a morte.

Dêem o valor a cada segundo da vida de vocês. Valorizem, pois ele é um bem extremamente preciso. Tanto no sentido material, no sentido de estar vivo, como no espiritual, aproveitar a oportunidade da encarnação, cada segundo de uma existência é um bem precioso, pois eles representam uma nova oportunidade para alcançarem a evolução espiritual.

Apesar deste alto valor de cada segundo da existência, vocês não o valorizam. Vivem trabalham com a vida como se ela fosse grande, como dispusessem de muito tempo para viver. Por isso não vivem e nem valorizam cada experiência, cada momento.

É por este motivo que vocês vivem o mau como mau, como um ataque, como uma afronta pessoal. Só vence a síndrome de ser o preferido do universo aquele que valoriza cada momento de sua vida, esteja este momento de acordo ou não como os anseios individuais. Isso vocês não fazem...

Na verdade, só depois que ficam velhos é que vocês aprendem a valorizar tudo o que tiveram na vida. Se isso é verdade, porque não esperar chegar este momento da vida para fazer isso?

Por isso aconselho: não esperem que tudo acabe bem, não esperem que aconteça sempre um final feliz; vivam cada momento valorizando-o como se ele fosse o último. Entreguem-se totalmente àquele momento, pois quem sofre em um momento está recusando a oportunidade de estar vivo que a vida oferece. Por isso, mesmo que o momento não esteja de acordo com os seus anseios, viva-o intensamente. Não queira fugir do presente jamais.

Esta é a única forma de você superar tanto a síndrome de filho de Deus como a de cartomante. Neste aspecto, a previsão do futuro é pior do que a de filho de Deus, pois enquanto você está no futuro não está no presente. Aliás, não está nem vivendo este momento.

Houve uma pessoa que esteve no nosso meio durante muito tempo. Ela sempre reclamava por ter sido preterida no momento de uma promoção no seu trabalho. Repare no sofrimento dela e verão que ele foi gerado pelas duas síndromes que estamos falando agora: a síndrome de que tudo daria certo, de que ela seria promovida, e da previsão do futuro, já que já estava planejando como gastar o dinheiro que receberia a mais. Com isso não valorizou o dinheiro e nem o emprego de agora, pois no momento em que muita gente estava desempregada estava pessoa estava reclamando do emprego que tinha.