Síndromes da vida

A obrigação de fazer

Participante: eu sei. Já aprendi muito com tudo que ouvi do senhor. Já aprendi que devo respeitar um pouco mais os outros, por exemplo. Acontece que tem hora que ainda vôo no pescoço de algumas pessoas.

Voar no pescoço de alguém não é problema. O problema é aceitar que tem ou não que voar.

Participante: vocês mentores sempre falam isso para mim. Por isso eu queria ser calma e mansa, mas não consigo.

Você queria ser desta forma, mas não consegue ser. Para mergulharmos nesta questão lhe pergunto: porque você quer ser calma e mansa?

Participante: porque eu tenho este ideal.

É aí que você se engana. Não é você que tem este ideal e por achar que é você que o tem que surge o problema.

Sim, existe dentro de você um ideal, um rótulo, uma postura que é considerada como verdadeira. No entanto, quem a considera assim não é você. Na verdade, você apenas adotou estas idéias como sendo suas. É por isso digo que precisa descer mais ainda na análise da origem do seu problema. Será sobre esta questão que está mais profunda do que as suas conclusões que vamos falar hoje.

Participante: para mim isso será importante, porque sofro muito por conta disso. Muitas vezes sei que estou ferindo a pessoa com minhas palavras, mas não consigo parar. Dói muito saber que está se ferindo os outros e não conseguir parar de agir daquela forma.

Vou lhe dizer uma coisa. Nas últimas semanas uma pessoa já me pediu diversas vezes para sair deste grupo. Por quê? Ela me disse que quer fazer isso porque acha que não consegue colocar em prática aquilo que falo. A esta pessoa e a muitas outras que me dizem a mesma coisa eu pergunto: quem disse que se tem que colocar em prática o que eu falo?

Esta pessoa que me falou recentemente em querer sair afirmou que precisa fazer isso porque quando aparecem notícias ruins na vida dela – e foram algumas nas últimas semanas – apesar de tudo o que ouviu, ela sofre. Eu respondi: e dai?

Quem disse que você não pode sofrer quando recebe uma notícia ruim? Eu? Nunca falei isso. O que sempre afirmei foi que vocês não podem fazer é sofrer porque estão sofrendo, Nunca disse que não podem sofrer quando recebem determinadas notícias ou quando acontece alguma coisa que contraria vocês.

O problema é que vocês sempre que ouvem algum ensinamento criam um padrão que acham certo e quando ele é quebrado sofrem. Você, da mesma forma que aquela pessoa, me diz que não pode ferir os outros, mas quem disse que não pode? Eu? Nunca falei isso...

Como eu poderia dizer que você não pode ferir os outros se o Espírito da Verdade diz que o ser assume um corpo para sob as ordens de Deus realizar o que é necessário ao outro (pergunta 132 de O Livro dos Espíritos)? Se eu sigo este mestre, como posso dizer que você deve ter controle do que faz a quem convive?

Acreditando, como eu acredito, no que o Espírito da Verdade ensina, jamais poderia lhe ensinar a deixar de ferir alguém que Deus sabe que precisa do ferimento. O que posso lhe ensinar é que ao vivenciar este acontecimento não pode sofrer. Só isso.

Portanto, os meus ensinamentos não têm o objetivo de criar um padrão de ação. Mas, a questão ainda vai mais fundo: não tem o objetivo de criar nenhum padrão de reação.

Quando falo que você não deve sofrer por pular no pescoço de alguém que lhe contrarie, também não estou criando uma obrigação. O que estou fazendo é lhe mostrar um caminho. O que estou dizendo é que você pode libertar-se deste sofrimento. Jamais disse que você pode se libertar da prática da ação.

Agora, se você sofrer por causa disso, o que posso fazer? Nada. Jamais vou lhe dizer que você é culpada por sofrer. O que lhe digo é que o sofrimento é inevitável e se você quer mudar o seu padrão emocional precisa reagir ao sofrimento que surge na sua mente. Só isso.

É para que você mude o seu corriqueiro padrão emocional de sofrimento que ensino que precisa ter a consciência de que não pode fazer nada que o outro não mereça. Que deve conscientizar-se de que por conta dos objetivos da encarnação você pulou no pescoço dos outros. Deve ter a consciência de que se isso aconteceu era o que precisava ocorrer, porque Deus assim comandou.

É por isso que ensino que o seu sofrimento não nasce do fato de ter pulado no pescoço de alguém, mas sim porque tem um padrão do que é ser boa e por conta dele não pode agir de determinada forma. Só isso...

Mas, lhe pergunto: de onde vem este padrão? É sobre isso que vamos conversar. Isso porque na hora que você entender que não existe este padrão que quer seguir, pode parar de sofrer, mas enquanto isso viverá o mesmo padrão emocional de sempre.