Síndromes da vida

Síndrome do sábio

Participante: o senhor está falando da idéia que nós temos que já sabemos tudo e por isso não precisamos fazer mais nada? Só devemos ensinar o que sabemos aos outros...

A idéia de que não é preciso fazer nada, na verdade não existe para o ser humano, Isso acontece porque ele vivencia a síndrome do todo poderoso, a idéia de que é capaz de fazer qualquer coisa.

O problema da vivência desta síndrome não está vinculado à idéia de achar que deve ensinar aos outros, mas sim achar que apenas você sabe e que todos os outros são ignorantes.

Ninguém sabe onde guardar este rolo de papel: só você. Ninguém sabe qual a hora certa de comer: só você.

Participante: síndrome de mãe...

Sim, a mãe se acha sábia. Mas, porque isso acontece?

Participante: porque achamos que sabemos tudo?

Não. Porque acha que os filhos não sabem nada.

A síndrome de sábio não se cura libertando-se da idéia de saber as coisas, mas sim eliminando a hipótese dos outros não saberem. Todos sabem, ou melhor, todos têm o seu saber.

Este homem sabe o que ele quer; aquela moça sabe o que ela quer; eu sei o que eu quero saber. A síndrome de sábio se cura sabendo que todos são sábios dentro da sua sabedoria. Se cura tratando o outro como sábio.

Diga-me uma coisa: se você acha uma coisa sobre uma doença e um médico acha outra, você discutirá com o doutor? Com certeza não... Ouvirá quieto o que ele está dizendo. Porque isso acontece dessa forma? Porque você acha que naquele assunto ele sabe mais do que você.

Ora se o médico é um especialista na medicina e por isso você não discute quando ele fala deste assunto, porque você quer discutir com o outro sobre o assunto no qual ele é especialista: a vida dele? É por isso que afirmo que você só se cura da síndrome do sábio quando se conscientiza de que todos são sábios com relação à vida deles.

Participante: a vida de cada um é a especialidade dele.

Exato. Todos são especialistas nas suas próprias vidas. Você é especialista na sua. É aí que surge o problema da síndrome do sábio: vocês querem ser sábios na vida dos outros, querem saber o que é melhor para eles.

Participante: quando se é mãe, então, esta síndrome aparece fortemente.

Sim, o exemplo do papel de mãe, daquela que se imagina com a responsabilidade de educar um filho é um exemplo clássico para a síndrome do sábio. Toda mãe se considera uma sábia, aquela que sabe o que é melhor para a vida do filho, que sabe qual educação ele deve ter. Por imaginar que o filho não tem educação para poder saber o que é melhor para ele mesmo, a mãe acha que deve interferir na vida do filho ensinando-o.

Acontece que ele tem educação. Toda criança possui a educação referente à sua idade, ao seu tempo de vida. Por isso a mãe deveria dar a ele o direito de administrar a sua própria vida.

Todos têm sabedoria naquilo que são formados: nas suas vidas. Tem uma frase que uso muito, e que é usada pelos evangélicos, que resume tudo o que acabei de dizer: Deus deu a vida a cada um para que cuide da sua. Só que o que você faz é tomar conta da vida do outros. Da sua mesmo você não toma.

Participante: aconselhar os outros é mais fácil...

Sim, porque se der errado quem sofrerá as conseqüências é ele e não você. Quem será considerado não sábio é ele e não você...

Participante: então, posso dizer que vivemos fugindo de nós mesmos.É isso?

Não, não existe uma fuga de si mesmo. Ninguém foge de si mesmo. Na verdade esta forma de agir visa conseguir um domínio sobre os outros, mas esta já é outra síndrome.