Síndromes da vida

Justificativas

Participante: mas, se fizermos isso, não parece que nós estamos apenas justificando o que fizemos?

Um grande detalhe neste aspecto: quem está dizendo que isso é apenas uma justificativa? A sua vida. Não é você que está afirmando que está justificando a ação, mas é a sua vida que está qualificando o seu trabalho de libertação desta forma. Ela faz isso para que você continue vivendo a culpa que ela cria.

Participante: é por isso que quando ela fala isso eu entro no processo da culpa.

Sim, você vivencia a culpa quando a vida lhe diz que você está apenas justificando o que aconteceu. Agora repare: esta é uma nova culpa. Não estamos mais falando da culpa por ter ofendido alguém, mas da culpa por ter justificado a ofensa. Ou seja, você viveu duas culpas por conta de apenas um acontecimento. Veja que grande vitória a vida obteve em cima de você.

Na verdade não foi a vida que ganhou duas vezes; o que houve foram duas vidas. Quando a vida lhe propôs culpa por ter ofendido alguém, ela era uma; quando você reagiu de acordo com o que conversamos, aconteceu outra vida e esta foi vivida com a criação da idéia de que você estava justificando a ação.

Como a idéia de ter apenas justificado a ação é uma nova vida, você precisa novamente trabalhar para libertar-se da proposição da culpa.

Participante: mas, eu não falo isso apenas de mim. Quando ouço as pessoas dizerem que agiram de uma determinada forma porque esta é a vida deles, eu os culpo.

Sim, a questão da culpa não é apenas no tocante ao que você faz, mas também no que os outros fazem.

Para ser feliz você precisa desqualificar a sua culpa, mas também precisa desqualificar a culpa dos outros. Para isso pode usar o mesmo argumento: não foi ele quem falou, mas a vida dele que foi assim

Participante: eu tento, mas difícil superar a idéia de que ele está apenas justificando-se...

Eu sei que é difícil. Aliás, muito difícil, mas esta dificuldade é gerada por um motivo que já conversamos.

Em que se fundamenta a idéia que a vida cria onde é afirmado que outra pessoa está apenas se justificando? Porque você acha que ele precisaria se justificar? Porque você viu como errado o que ele fez.

O problema de você se prender à conclusão que a vida tomou sobre o que a outra pessoa fez começa antes do momento onde a sua vida disse que ela está se justificando. Começa porque você aceitou a idéia de que ela está errada. Se tivesse agido naquele momento libertando-se do critério de certo e errado que a vida usou para julgar o que aconteceu, você não imaginaria que ele precisasse se justificar.

Para poder se libertar da verdade que a vida criou afirmando que aquela pessoa ou você está apenas se justificando, você precisaria dizer à sua vida que isso não pode estar acontecendo porque ninguém está errado. Por este motivo, ninguém precisa se justificar de nada. Não fazendo isso, viverá duplamente culpa.

A partir do momento que você já aceita que existe uma justificativa, implicitamente aceitou a idéia da existência de um erro. Na hora que há a aceitação da existência de um erro, o sofrimento é inevitável e pode ser duplo, como vimos.

Do que acabamos de conversar surge outro grande aspecto para a não vivência do sofrimento que a vida propõe. Você precisa analisar todo o seu processo mental e não apenas um aspecto específico. Se, por exemplo, você não analisar o que justifica a idéia de estar havendo uma justificativa, não conseguirá deixar de viver o que a vida propõe.

Dentro do que você vivencia (a idéia de que alguém está apenas se justificando), a postura emocional proposta pela vida só foi vivenciada porque antes você aceitou que o outro estava errado. Por isso já aconselhei às pessoas que meditassem profundamente sobre os pensamentos que recebe.

‘A vida está me dizendo que ele está se justificando, mas porque ela está usando esta idéia? Para que eu viva como verdadeira a culpa que ela está atribuindo a ele. Mas, porque ele teria culpa? Porque a vida disse que ele estava errado e eu não cortei este fluxo de pensamento’. Chegando a esta conclusão, você precisa se libertar da idéia de que ele cometeu um erro. Ou seja, dentro deste processo a justificação do que foi feito não tem nada a ver.