Síndromes da vida

Companheirismo

O que ele não tem na relação com você e precisa buscar fora? Companheirismo.

Se os dois gostam de estar juntos, os dois deveriam fazer de tudo para que esse estar junto fosse bom para os dois. Ao invés disso, cada um fica puxando o outro para o seu lado criando desconforto para o outro.

Parta haver companheirismo é preciso que um se torne cúmplice dos anseios do outro. Só que vocês, que dizem que querem preservar a relação, querem que o outro se torne cúmplice dos seus anseios. Ao invés de cada um se entregar ao casamento, à vida em comunhão, fica querendo fazer que a vida a dois seja um espelho daquilo que ele quer.

Apesar de falar isso, volto a dizer: o seu casamento não pode ser diferente do que é ou foi. Isso porque os acontecimentos, a forma como cada um age dentro do matrimônio, é vida e por isso sei que não poderia ter sido diferente e nem será se a vida não for mudar-se. O que quero que entendam é a falta de lógica na forma como a vida vive o casamento. Se não entenderem isso, vocês continuarão aceitando a culpa que a vida gera para o outro e por isso não conseguirão desqualificar a proposição de sofrimento.

A culpa pela forma como cada um dos cônjuges vive não é sua nem dele: é da vida. Só que a vida não tem culpa, pois ela é do jeito que tem que ser.

Participante: o senhor trouxe uma contradição agora. Disse que a vida é como ela é, mas que o certo dela ser seria diferente. Isso não é contraditório?

Não disse que a forma de agir que citei é a certa. O que falei é que dentro da lógica humana esta deveria ser a forma de cada um agir. Falei isso para que você compreenda que o normal seria ser assim e que você não é deste jeito.

Esta compreensão não tem como objetivo fazer você se mudar ou querer que o outro se mude, mas apenas para que tenha argumentos para desqualificar o sofrimento que a vida lhe proporá fundamentado no que o outro faz.

Participante: parar as cobranças...

Nem isso. As cobranças continuarão existindo, se existirem, porque elas fazem parte da vida. O que estou lhes fornecendo é um instrumento, uma arma, para você desqualificar o sofrimento que a vida propõe. Isso porque na hora que você sofre o sofrimento proposto pela vida está se colocando na posição de certo e ela errado.

Como já falei anteriormente, você precisa desqualificar a postura que a vida usa para lhe fazer sofrer. Como se faz isso? Tirando o errado que ela cria, mas também tirando o seu certo que ela usa.

Portanto, estou apenas fazendo um raciocínio para lhe dar uma idéia de como desqualificar a proposta da vida. Não estou dizendo que tem que ser ou deixar de ser de alguma forma.

A vida, quando alguém faz algo diferente do que ela anseia, se coloca logo na posição de certa e coloca a outra pessoa na de errada. Esta é uma característica da possessão. Por conta dela, a vida lhe diz que você está certo e que o outro está errado. Por isso, para desqualificar a possessão é preciso que você use o argumento que não há ninguém certo e errado na questão.

Para poder usar este argumento para eliminar as opções propostas pela vida, é preciso que se conscientize que você não está certo, pois ao cobrar alguma coisa do outro também fez algo que não deveria ser feito. O que você fez que não deveria ter feito? Não dar ao outro o que ele queria.

Você está errado por ter agido assim? Não. Só deixou de fazer e por causa disso não pode cobrar nada do outro. Se não pode cobrar nada do outro, não precisa sofrer pelo que ele fez.

Participante: segundo os médicos, meu marido pode estar doente. Tenho me questionado se a minha preocupação com ele está ligada nele mesmo ou se está ligada ao trabalho ou ao sofrimento que vou ter com a doença dele. Como me livro disso?

Sabendo que você não terá trabalho ou sofrimento nenhum. Sabendo que a vida vai fazer toda a ação e não você. Com isso, ao invés de se preocupar agora com o que acontecerá você poderá esperar calmamente que o momento chegue para que aja desqualificando o que for proposto adiante pela vida.

O que você está falando está fundamentado em outra síndrome que mais tarde falaremos. É a síndrome da previsão de futuro. Vocês ficam preocupados com o que vai acontecer e não fazem nada com o que está acontecendo agora. Mas, ainda vamos falar dela. Por hora continuemos falando da síndrome da princesa.

Ficou claro o que disse? Casamento é comunhão e eu já disse isso: muito mais importante do que o amor, o que faz uma vida de casado feliz é companheirismo.

Participante: cumplicidade...

É mais do que cumplicidade. É colocar o outro na sua frente. O outro não como ele, mas o outro como casal.

Para que você possa colocar o bem do outro na frente do seu próprio, vou lhe fazer uma pergunta. O que é mais importante para você: conseguir fazer com que ele aja do jeito que você quer ou a vida em casal? Se a sua união, o estar ao lado dele, para você for mais importante do que ele ser do jeito que você quer, abrirá mão do que quer para que os dois sejam felizes juntos.

O grande problema da possessão é que você depende da submissão do outro para que seja feliz. Quando isso acontece, o outro não tem o que quer e por isso vai buscar fora o que não encontra aqui.

Deu para entender o que quis mostrar? É por isso que compreender a síndrome da princesa é importante: casamento nenhum é feliz, é preciso que se construa a felicidade dentro dele. Esta felicidade é construída se tendo atenção ao que o outro quer.

Mas, vamos extrapolar a questão casamento? A amizade, a vida familiar ou qualquer relação de dois seres humanos jamais é feliz pela ação da vida: é preciso que você construa felicidade na relação, que trabalhe pela felicidade durante a relação. Isso se faz desqualificando-se os motivos que a vida cria para o sofrimento e a culpa que ela atribui ao outro pela sua infelicidade.