Das penas e gozos futuros

Pergunta 975

Os Espíritos inferiores compreendem a felicidade do justo?

Sim, e isso lhes é um suplício, porque compreendem que estão dela privados por sua culpa. Daí resulta que o Espírito, liberto da matéria, aspira à nova vida corporal, pois que cada existência, se for bem empregada, abrevia um tanto a duração desse suplício. É então que procede à escolha das provas por meio das quais possa expiar suas faltas. Porque, ficai sabendo, o Espírito sofre por todo o mal que praticou, ou de que foi causa voluntária, por todo o bem que houvera podido fazer e não fez e por todo o mal que decorra de não haver feito o bem.

Para o Espírito errante, já não há véus. Ele se acha como tendo saído de um nevoeiro e vê o que o distancia da felicidade. Mais sofre então, porque compreende quanto foi culpado. Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade.

Não tem mais ilusões: vê as coisas na sua realidade. Qual a ilusão que o ser humanizado tem que o faz fugir da realidade?

Participante: pode repetir?

Posso.

O Espirito da Verdade está dizendo que o espírito errante, ou seja, o já liberto do ego vê as coisas sem a ilusão. Estou perguntando qual é a ilusão que você vê quando está encarnado?

Participante: tudo que a gente pensa materialmente falando

Tudo que você compreende sobre o que está acontecendo.

Por exemplo: nesse momento acham que estão na frente do computador participando de uma palestra. Isso é uma ilusão! Você acha que a pessoa fez aquilo porque não presta, por que é isso ou aquilo. Isso é uma ilusão. Você acha que a pessoa quer lhe ferir, magoar. Isso é uma ilusão.

O espírito liberto da ação do ego conhece a realidade, sabe o que está se passando no momento. Só que enquanto preso ao ego, ou seja, encarnado, não tem capacidade de dizer o que é real, o que está acontecendo verdadeiramente. Por quê? Porque como o Espírito da Verdade diz, há um véu que não deixa ver a realidade.

É isso que o Espírito da Verdade diz nesse trecho. Fala também que a realidade é percebida quando o espírito escolhe pra si a suas provações.

A partir disso, temos que dizer que você, o espírito, escolheu pra si uma determinada provação: ser traído. Quando chega durante a encarnação, por força dessa escolha, o seu marido ou sua mulher lhe trai. Você diz que é culpa dele(a), que não presta, etc. Tudo isso é ilusão! Não há traição: há uma provação para você. Não há culpados: há instrumentos do que você pediu.

Esse é o detalhe dessa resposta. Mas, ele ainda não fala do tema principal da pergunta: o espírito inferior vê a felicidade do justo? Vamos falar disso.

Claro que sim! Você não vê a felicidade que tem um monge budista? Não vê a felicidade de quem carrega Deus no coração e perdoa e ama a todos? É a mesma coisa fora da carne: o espírito vê a felicidade de quem é feliz.

Agora, se você é capaz de ver isso, por que não faz por onde também ser? Porque para ser feliz é preciso abrir mão de possuir o mundo.

O espírito, quando fora da carne, vê a felicidade dos outros e quer voltar correndo à carne para fazer as suas provas e colocar em prática aquilo que aprendeu para poder alcançar a mesma felicidade. Só que chegam no mundo material e ficam preocupados com a casa limpa, com o banho tomado, com o emprego e melhor posição social, com as posses de casa, carros, etc.

Precisamos mudar o paradigma. Não existe vida, o que há é uma encarnação. Nenhum de vocês está vivo: estão encarnados. Quando se muda o paradigma, toda a realidade se transforma: não há mais acontecimentos, mas provas. Não há família, mas instrumentos carmáticos; não há amigos ou inimigos, mas instrumentos carmáticos. Não há posses, mas bens emprestados por Deus para ação carmática.

Essa resposta, então, deixa um grande aviso: não espere uma nova oportunidade; faça agora. Faça o que? Pare de viver os múltiplos acontecimentos da vida e começa a vivenciar a sua encarnação. Pare de ser, estar e fazer coisas humanas: vivencie as suas missões, as suas expiações, as suas provas. Ao invés de ficar colocando valores diversos nas coisas do mundo (o emprego, o repouso, o trabalho espiritual, a família, a amizade), apenas ame a tudo e a todos.

Participante: Kardec e os espíritos falam muito em bem e mal. Isso não dá uma impressão que o livre arbítrio está nas atitudes? Atitudes boas verso más?

Não. Já falamos sobre isso no estudo de O Livro dos Espíritos.

O bem ou o mal não podem ser atitudes, porque essas, segundo o Espírito da Verdade, fazem parte de um destino que é escrito a partir da escolha do gênero de provas pelo espírito. Essa informação está na pergunta 851.

Aliás, nessa questão há algo bem explícito: o espírito tem a liberdade, livre arbítrio, de escolher entre o bem e o mal. Como essa escolha não se dá através de atos, só pode ser por sentimentos.

Então, existe o bem, aquilo que vem de Deus, e existe o mal, aquele que vive para si, que é egoísta.

Participante: mas o bem de um é o mal de outro e vice-versa. É algo sempre relativo.

Por isso o bem não pode ser o fruto de uma interpretação.

Existe o bem e existe o bom. Tudo é bem, porque vem de Deus, mas dele os seres escolhem o que gostam, acham certo, etc. Esse é o bom. Ele é bem, porque veio de Deus, mas quando passa pela análise do ser humanizado transforma-se em bom.

Esse bom nem de longe é bem. Na verdade é mal, pois é fruto de um egoísmo, de pensar primeiramente em si.