Das penas e gozos futuros

Pergunta 965

Têm alguma coisa de material as penas e gozos da alma depois da morte?

Não podem ser materiais, di-lo o bom-senso, pois que a alma não é matéria.

Só lembrando que já acabamos com a ideia de pena como penalidade, castigo. Definimos como algo fruto daquilo que foi plantado, ou seja, a lei do carma.

Precisamos fazer uma análise profunda dessa resposta para podermos caminhar no sentido de aproveitarmos a encarnação. Vamos lá.

Primeiro: as penalidades não têm nada de material. É isso que está escrito ai?

Participante: sim, pois a alma não é matéria.

Como, então, os espíritas acreditam na existência de um vale dos suicidas? Se não há aplicação de penas materiais, porque existir um lugar tenebroso cheio de cavernas, onde a maldade acontece, para punir quem age dessa ou daquela maneira? Se acredita em O Livro dos Espíritos, como pode crer que exista o umbral, um lugar onde o faltoso é um escravo forçado que leva chicotada no corpo?

A pena não está no lugar umbral nem nos atos que lá acontecem. Ela existe no que é vivenciado quando se imagina estar lá e acontecendo isso ou aquilo.

O carma não está no ato quando se está encarnado ou não, mas no que é vivenciado durante o ato.

Participante: é a sensação do espírito humanizado?

O que é sensação do espírito humanizado?

O local? Não, ele não é a sensação. É a imagem criada pelo ego humano que ainda existe nos que desencarnaram e ainda retornaram à sua consciência espiritual? Não. As sensações são aquilo que se sente quando imagina-se vivendo algum acontecimento.

Vou dar um exemplo: levar um tapa na cara. Isso não é um carma. Sentir-se ofendido, magoado, agredido depois que se levou o tapa é o carma. Alguém roubar o seu dinheiro não é um carma, mas sentir-se roubado, traído, mal é o seu carma.

O carma não é o que está acontecendo, mas a forma como cada um se sente com relação ao que está ocorrendo. É isso que o Espírito da Verdade está dizendo. O carma não está no que acontece, mas na forma como o ser (sensações) vivencia o que acontece.

Com relação ao umbral, diria que o vale dos suicidas, o castelo do umbral, o chicote, a algema, são formas criadas pelo ego do ser que ainda está humanizado. São imagens. É bem diferente de ser verdade, realidade.

Participante: então, o ambiente existe na mente do espírito humanizado, mas e os sofrimentos?

Vamos chegar lá.

O sofrimento é um carma. Quem não vai pelo amor, vai pela dor. Apesar disso, precisamos ver essa questão um pouco mais de perto.

Sofrer não é o carma. O sofrimento trata-se de uma proposição de provação necessária, mas o sofrer é opcional. Vou explicar melhor.

O ego cria a sensação de sofrimento como instrumento da provação. Cria a sensação de sentir-se traído, de sentir-se acusado, de sentir-se agredido. É o ego que cria isso. Quando faz essa criação está obedecendo à lei do carma, pois dá a cada um sua provação específica necessária. Ele está gerando a oportunidade do ser provar a si mesmo que aprendeu o amor universal antes da encarnação.

Portanto, a sensação de sofrimento é irreal, mas o sofrer quando essa sensação é criada pelo ego é algo espiritual, real. Lembram-se do que falei lá no início dessa conversa? a necessidade de assumir a dupla personalidade: eu sou dois.

No momento que o ego gera um sofrimento, um, o humano, material, pode estar sofrendo, mas o outro, o espiritual, deve optar por vibrar (sentir-se), diferente. Portanto, a personalidade humana dá uma sensação de sofrimento, mas aquele que sabe que existia antes de existir, que é um espírito, não aceita sofrer.

Essa é a Realidade. Ela vale para o umbral como para a vida carnal. Vale para qualquer lugar (lugar entre aspas) onde o ser vivencie realidades criadas pelo ego.

Participante: fiz um trabalho de tradução e não recebi nada. Isso é carma então? O ego quer que eu cobre, mas não atendi.

O carma não é a situação, mas você sentir-se lesada. Agora, via cobrar ou não, já é outro carma. Não é você que decidir o que fazer. O seu ego irá criar a ação e gerará uma sensação compatível com ela. Nesse momento poderá agir: viver ou não o que é proposto emocionalmente.

Participante: mas Joaquim como é que é? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Sim! Se for foi, se não for não foi. Não é lamentar não ter ido ou vangloriar-se de ter.

É isso que estou dizendo. O momento que foi contratada é um carma. Ele será vivenciado com uma emoção gerada pela mente humana a qual não deve se apegar. O momento que você fez o serviço é outro. Foi uma provação diferente. O momento da entrega foi outro diferente. Aquele que não recebeu, foi outra prova. Agora quando está se lembrando disso, está vivendo nova provação. Em nenhum deles houve uma ação física sua. Apenas houve a oportunidade de viver as emoções geradas pela mente ou não.

Aproveitou esses momentos para aproximar-se de Deus? Acho que não, porque estava preocupada com o que ia fazer fisicamente.

Apesar de estar respondendo, acho que estou chovendo no molhado. Você já participou de um trabalho espiritual onde todo cenário do mundo espiritual chamado umbral foi decomposto na sua frente e os espíritos que ali estavam, sem saírem do lugar viram o paraíso. Por ter vivenciado isso deveria entender que o umbral, assim como toda ação material, é simplesmente uma projeção mental que vale como carma.

Participante: mas preciso de dinheiro.

Porque se preocupa com o que vai vestir? Deus, que vestiu as flores com roupas mais bonitas que Salomão jamais um dia teve, lhe vestirá também. Porque está preocupada com o que vai comer? Deus que alimenta os animais não vai se esquecer de você. Palavras de Cristo, um mestre que você diz seguir.

Não estou dizendo que não possa ter o dinheiro. Estou falando que não deve se preocupar com ele. É bem diferente.

Voltando ao nosso estudo, vamos continuar vendo a resposta do Espírito da Verdade a essa pergunta.

Nada têm de carnal essas penas e esses gozos; entretanto, são mil vezes mais vivos do que os que experimentais na Terra, porque o Espírito, uma vez liberto, é mais impressionável. Então, já a matéria não lhe embota as sensações. (237 a 257)

O que quer dizer o Espírito da Verdade quando afirma que as provas, apesar de não serem materiais, são mil vezes mais vivas do que as que foram experimentadas na Terra?

Participante: mais reais?

Sentidas com mais realidade. Sentidas mais profundamente.

Portanto, se na vida carnal alguém se sente humilhado ...

Participante: às vezes me sinto.

... no umbral se sentirá mil vezes mais humilhado. A sensação de humilhação será muito mais forte no umbral do que quando na vida carnal.

Você gosta de sentir-se agredido? Por aceitar essa sensação durante a encarnação, poderá ir para o umbral, já que não está amando universalmente. Aí a sensação de sentir-se agredido será mil vezes mais forte.

Vou contar uma historinha que está em um livro de Chico Xavier.

Um homem morreu atropelado por um trem. Sofreu muito com o seu desencarne. Foi para o umbral e durante cinquenta anos, pela contagem de tempo de vocês, a cada segundo caia na linha e era atropelado pelo trem. No próximo segundo estava de pé para novamente cair e ser atropelado pelo trem. Cada vez ele sentia a mesma sensação de horror, medo da morte, pavor e dor da primeira vez. Cinquenta anos seguidos, segundo por segundo.

É esse o destino de quem gosta de se sentir traído, magoado, etc. É o destino de quem gosta de sentir aquilo que o ego propõe. Ele vai para o umbral, para um lugar, não físico, mas uma projeção mental, desenhado nos mínimos detalhes para dar sensações mil vezes mais vivas do que se aquilo acontecesse durante a vida carnal.

Isso é algo para se pensar muito seriamente. Não estou querendo fazer guerra, nem assustar ninguém. No entanto, essa é uma hipótese que todos os encarnados devem se atentar, pois é real, já que foi ensinada pelo Espírito da Verdade.

Você gosta de sentir-se coitadinho? Saiba que pode vivenciar essa sensação mil vezes mais forte. Isso acontecerá não por maldade, como uma pena, mas através da lei do carma.

Vou aproveitar e dizer uma coisa muito séria. O carma quando vivenciado liberto do corpo, mas ainda dentro da encarnação, ou seja, ainda preso a uma consciência transitória de um ego sem carne, é mil vezes mais forte do que durante a encarnação. Por isso, se acha que a sua vida está uma droga, fique feliz, porque fora da carne será mil vezes droga.

É isso que precisamos entender. A vida é uma santa oportunidade de elevação. Aquele que não a aproveita nesse sentido terá que fazer uma caminhada árdua para retornar a sua consciência espiritual.

Importante: não dá para fugir disso. Porquê? Porque esse caminho é necessário para começar tudo de novo. Para novamente estudar, formar um ego, ser submetido a sensações e não se deixar ser conduzido por elas.

É, acho que pelo menos para evitar tudo isso, devemos tentar acabar com a subordinação ao ego, as sensações que ele cria.

Participante: por que isso acontecia com o homem do trem?

Carma.

Carma, a lei de Deus, deu a esse ser a vivencia dessa sensação. Fez isso para que depurasse alguma coisa que aconteceu durante a vida carnal. Precisa dessa depuração para voltar ao mesmo estágio na consciência espiritual que estava antes da encarnação.

Quando isso aconteceu, o ser foi socorrido. Aí começou a preparar uma nova encarnação onde vai vivenciar tudo de novo.

Participante: o trabalho é simples; é só cavalgar o tigre, matar o dragão, destruir a serpente do paraíso ... Fácil, né?

Bela comparação!

Já ouviu falar da história bíblica de Daniel na cova dos leões? Já ouviu falar na história bíblica da vitória de Davi sobre Golias? Pois é, elas podem servir de comparação para o que estamos falando.

Você, quando encarnado, está na cova dos leões. Como o profeta Daniel precisa usar sua fé para acalmar as feras. Além disso, como Davi, precisa usar toda a sua força interior para destruir os gigantes que lhe amedronta.

Sim, muito bonita a sua imagem, mas lembre-se: a fé do tamanho de um grão de mostarda remove todas as montanhas. Se quiser uma pedra para destruir o gigante ela é a fé. Se usadas contra os monstros, eles somem da sua frente.

Não estou brigando. Simplesmente adorei sua comparação. Estou simplesmente mostrando o caminho a partir das figuras que fez.

Participante: estamos trabalhando nisso, mas sempre aparece mais um bichão.

Ótimo! O que acabei de dizer serve para você matar um bichão a cada segundo. Quando não conseguir, esqueça e se ocupe com o próximo segundo, com o próximo bichão. Ficar lamentando-se não leva a lugar nenhum. Quando não conseguir, louvado seja Deus e vai em frente.

O assunto que acabamos de falar foi muito profundo. Toca fundo no coração. Por isso dou um conselho: nem que seja por interesse, ou seja, nem que seja para que conseguir uma melhor posição depois da morte e sofrer menos, enfrente seus leões e monstros.

Claro que um dia isso terá que ser mudado. Essa intenção de ganhar posteriormente precisará ser abandonada. No entanto, agora, nem que seja pra levar alguma vantagem, é mais interessante se ocupar com isso do que preocupar-se em ganhar humanamente falando.