Das penas e gozos futuros

Pergunta 976a

Isto se concebe da parte de Espíritos estranhos ou indiferentes. Mas o espetáculo das tristezas e dos sofrimentos daqueles a quem amaram na Terra não lhes perturba a felicidade?

“Se não vissem esses sofrimentos, é que eles vos seriam estranhos depois da morte. Ora, a religião vos diz que as almas vos veem. Mas, eles consideram de outro ponto de vista os vossos sofrimentos. Sabem que estes são úteis ao vosso progresso, se os suportardes com resignação. Afligem-se, portanto, muito mais com a falta de ânimo que vos retarda, do que com os sofrimentos considerados em si mesmos, todos passageiros.

Será que preciso falar alguma coisa? O espetáculo dos sofrimentos dos seus que ficaram não perturbam o espírito elevado que foi. Essa é a afirmação do Espírito da Verdade. Um pouco diferente do que chamamos de ser bom, não?

Apesar de acharem que esse sofrimento seria um ato de pureza de um espírito, eles não sofrem por isso. Não sofrem porque sabem a utilidade da situação sofredora para a elevação espiritual dos encarnados.

Isso é algo que precisam compreender. Acabei de dizer: não há vida, há carmas. Não carmas no sentido de castigo, mas de provação justa, merecida e necessária. O espírito superior vive com essa realidade e por isso, ao ver seja lá quem for, inclusive quem foi seu parente na última encarnação, não se compraz. Não fica sofrendo: ‘coitadinho do meu filhinho, coitadinha da minha mamãe’.

O espírito de posse da sua consciência espiritual reconhece a necessidade daquele acontecimento para a encarnação. Essa consciência vale para qualquer coisa da vida humana. Tudo ...

Nem um espirito liberto da ação do ego, de posse da sua consciência espiritual sofre. Sabe por quê? Porque reconhece a realidade. Reconhece que não há uma vida sendo vivida, mas que há uma encarnação montada a partir de instrumentos carmáticos.

Participante: aqui nos referimos aos espíritos superiores desumanizados. E os demais sofrem?

Que demais? Os humanizados? Claro. Sofrem iguais a você.

Só um detalhe. Como vocês, eles não sofrem: estão vivendo a ilusão de estarem sofrendo.

O sofrimento é ilusório, é criação do ego, aqui ou depois da encarnação. A personalidade humana diz que você tem que sofrer. Aí você sofre. Mas, será que a causa do sofrimento é o que está acontecendo? Não. O sofrimento ocorre porque o ser vive a situação humana e não a provação.

 Deixe dizer uma coisa. Ser humanizado não é aquele que está na carne, mas ligado a um ego que possui como característica principal o egoísmo. O espirito pode estar fora da carne, mas se continuar ligado a um ego que tenha essa característica primária, é humano. Por causa dessa condição, aceita o sofrimento que a razão cria.

Participante: qual a diferença entre a indiferença e o não sofrimento com o que o outro está sentindo?

Indiferença se chama equanimidade, igualdade de ânimo entre situações. Aquilo que você chama de indiferença, é a felicidade universal, a paz de espírito, a tranquilidade interior.

Todo sofrimento é fundamentado no egoísmo: ‘eu acho errado, não gostei, queria que fosse de outra forma’. Por isso é egoísta> Da mesma forma, o prazer é egoísta, porque depende da paixão ser satisfeita para existir. Se os dois extremos são frutos do egoísmo, a apatia é divina.

Deixe-me dizer uma coisa. Existe uma diferença entre não ação, que é a apatia, e a inação, o ficar parado. São coisas completamente diferentes.

Participante: o que é omissão?

Omissão é você sofrer sem lutar contra o sofrimento. É não ligar para o sofrer. Isso é omissão.

A não ação é agir junto a razão criada para não se deixar levar pela emoção proposta e manter-se indiferente. Isso é um trabalho, é uma ação. Omissão é nada fazer.

Participante: omissão é ato ou sentimento?

Eu não falo em atos. Estou colocando em palavras para ficar claro, mas estou falando de emoções.

Quando sentimentalmente você não quer nem saber, é omissão. Agora, quando luta contra uma emoção, seja ela de prazer ou dor, poderá alcançar a indiferença.

Participante: não sofrer com isso?

É não sofrer e não ter prazer. Não é achar certo nem errado muito pelo contrário, bom ou mal. Muito pelo contrário: é não achar nada.

Participante: então, a omissão gera o sofrimento e a apatia gera a felicidade?

A omissão não gera o sofrimento. Ela é o sofrimento, pois é fundamentada no egoísmo, no individualismo. A apatia gera felicidade universal, não prazer. Não gera risinhos, mas um estado de espírito de paz, felicidade e harmonia.

Participante: o ego gera o prazer e o sofrimento. A felicidade deve ser incondicional.

E o espirito aceita o que o ego gera.

 Participante: a felicidade deve ser incondicional?

A felicidade deve existir sem motivos para isso, incondicional.

Participante: o trabalho para se chegar à apatia é um trabalho da razão?

Excelente pergunta.

Todo trabalho racional é executado pelo ego e tudo que ele cria é ilusão. Portanto, se chegar racionalmente a uma apatia, ainda não chegou a lugar nenhum. Primeiro detalhe.

Só que o processo de evolução precisa ser feito aos poucos, passo a passo. Hoje vocês não têm condições de fazê-lo de outra forma que não seja racionalmente. Segundo detalhe.

É preciso começar o processo através da razão para depois extrapolar a própria razão, vencê-la. Agora deixe-me deixar uma coisa bem clara: essa segunda etapa não será feita racionalmente, mas surgirá automaticamente. Primeiro ponto.

Segundo: durante o processo de busca racional o ego poderá lhe induzir dizendo que está conseguindo ou não deixará conseguir dizendo que não consegue fazer. Por isso, em qualquer dos dois casos, tente de novo.

Se acha que conseguiu, liberte-se do ter conseguido e continue buscando. Se acha que não conseguiu, liberte-se desse achar. Estou falando isso porque quando falamos em fazer o trabalho racionalmente devemos levar em consideração que o ego vai querer dar culpabilidade ou prazer de ter conseguido para que haja uma nova provação.

É preciso estar muito atento. Um processo de elevação não acontece da noite para o dia. Apesar de ser emocional, precisa começar no racional. Só depois haverá condições de vencer o racional que acabou de ser criado.