Das penas e gozos futuros

Pergunta 968

Citais, entre as condições da felicidade dos bons Espíritos, a ausência das necessidades materiais. Mas, a satisfação dessas necessidades não representa para o homem uma fonte de gozos?

Sim, gozo do animal. Quando não podes satisfazer a essas necessidades, passas por uma tortura.

Essa pergunta é fundamental.

O que estamos pregando há sete anos é exatamente isso: você precisa ser feliz independe da vida que tem. Esperar apenas pela felicidade material, ou seja, esperar apenas que o mundo gere satisfação não é uma atitude espiritual, mas sim humana. Estamos pregando isso há sete anos, porque é o que ninguém tem a coragem de dizer.

As doutrinas, religiões ou seitas, apesar de todos os mestres terem ensinado o que o Espírito da verdade está falando aí (o bem material não pode representar a sua felicidade, ser o causador de felicidade) não assumem isso. Ainda por cima prometem o céu na Terra.

Ora, Cristo foi categórico: eu sou o caminho, porque venci o mundo. Por isso, se quer ter o mesmo destino espiritual dele, você precisa vencer a vida. Não estamos falando em vencer na vida, mas em vencer a vida no sentido de ousar ser feliz onde ninguém consegue ser: no momento da contrariedade. Essa é uma prova de maturidade espiritual imensa.

Cristo também ensinou: se você só é feliz quando a vida lhe satisfaz, que vantagem leva? Até os pagãos são. Se pretende espiritualizar-se, aproximar-se de Deus, tem que ir além de onde os pagãos chegam. Se não forem, prova de fé, de amor, de entrega e confiança no Pai e na vida futura demonstrou?

Em virtude da importância do que ensinou o Espírito da Verdade aqui para a elevação espiritual é que estamos batendo há sete anos nessa tecla: elevação espiritual não pode ser conseguida através de realizações humanas. Só pode ser alcançada com realizações espirituais. A maior dessas realizações é vencer o mundo. É libertar-se da prisão as sensações que o ego cria.

Já disseram muitas vezes que eu falo a mesma coisa em todo estudo. Isso é verdade. Faço isso porque não há muito a ser falado. Aliás, tudo que falei até hoje foi cultura, cultura inútil. São palavras que perderão importância quando você se libertar do ego.

Tudo que disse não é verdade. O que falei é uma interpretação para que você tenha uma ligeira compreensão e não a Realidade. Não posso falar da Verdade, porque não há palavras para descrever as coisas espirituais. Elas estão além das palavras humanas.

Se tivesse uma única oportunidade, um único minuto, para passar toda uma doutrina que ajudasse o ser humanizado a encontrar-se espiritualmente, diria apenas: seja feliz! Não importa o que a sua vida está vivendo, seja feliz.

Essa é a grande lição, é o grande ensinamento do qual ninguém pode escapar. Por mais que você rode entre doutrinas, por mais que discuta informações espirituais, viagens astral ou qualquer outra coisa nesse sentido, se quiser realmente fazer a sua reforma intima, terá que tentar ser feliz, independente das coisas do mundo.

Isso, infelizmente não faz parte da doutrina espírita, apesar de fazer parte de O Livro dos Espíritos, e nem das demais doutrinas religiosas.

Participante: há um texto de Francisco de Assis que me leva para longe. É a perfeita alegria.

Tenho medo da palavra alegria.

Sei o que você está falando, mas tenho medo do uso da palavra alegria. Para o ser humanizado esse termo se relaciona ao sorriso, as brincadeiras, as festas e não é disso que estamos falando.

Estamos falando de uma felicidade que na verdade é uma apatia. De uma felicidade que é apática as coisas do mundo.

Participante: usei a palavra alegria, mas queria dizer a verdadeira felicidade.

 Entendi o que quis dizer, mas tenho medo da palavra alegria. Sei que também já a usei quando estudamos Buda, mas foi necessário apenas durante um tempo.

Não podemos nos prender a ideia de alegria porque senão os seres humanizados quando forem a uma festa dirão que estão alegre e que por isso conseguiram realizar o trabalho espiritual. Só que essa alegria não é felicidade, mas um prazer animal, como diz o Espírito da Verdade.

Estou falando de uma alegria que é alcançada com uma felicidade interna. Essa felicidade nada tem a ver com alegria, mas trata-se de uma apatia com relação as coisas do mundo. Ela existe quando o ser vive em paz consigo e com os outros, quando está harmonizado com as coisas que acontecem.

Quando o assassinato, o estrupo, a morte não mais ofender, você estará dentro de um estado onde nada mais eliminará a sua felicidade. Eu diria: estará acima do bem e do mal.

Participante: se Deus nos dá os pensamentos, porque cultivamos tanto as ilusões desses?

Deus dá o pensamento; cultivar a ilusão ou não é com você. O pensamento é a prova; o cultivar as ilusões é uma forma de responder essa questão.

Você veio aqui para vencer os pensamentos. Se não tivesse o instinto de guiar-se por eles, não haveria prova, não haveria vitória. A vitória ocorre justamente quando consegue sobrepujar tudo, inclusive o instinto de seguir os pensamentos.

Participante: concordo com ela quando diz que, ficamos viajando na maionese alimentando pensamentos com sentimentos.

Com sensações.

Deixe-me dizer uma coisa. Há uma palavra de Krishna que gosto muito. Acho até melhor que ilusão: maya. Maya significa miragem. É algo que você vê, mas que não existe de verdade.

A ilusão criada pelo ego é uma miragem. É algo que para você parece ser real, mas não existe. O deserto está cheio de ossos de pessoas que levaram a miragem a sério para matar a sede.