Das penas e gozos futuros

Pergunta 972

Como procedem os maus Espíritos para tentar os outros Espíritos, não podendo jogar com as paixões?

Kardec está falando da tentação depois do desencarne.

As paixões não existem materialmente, mas existem no pensamento dos Espíritos atrasados. Os maus dão pasto a esses pensamentos, conduzindo suas vítimas aos lugares onde se lhes ofereça o espetáculo daquelas paixões e de tudo o que as possa excitar.

As paixões não existem na Terra, mas no ego.

Sabe tudo que você acha que gosta nessa vida? Não gosta, É o seu ego que está dizendo que você gosta. Sabe tudo que declara estar apaixonado? Não é você que está. É o seu ego que cria essa paixão. É isso que o Espírito da Verdade nos diz quando fala que a paixão não existe na matéria, mas no pensamento, no criador de ilusão.

Olhe que informação maravilhosa! Sabe por quê? Agora você pode ser feliz. Se sofre quando a sua paixão não se realiza, não precisa mais sofrer. Agora sabe que nem é apaixonado por aquilo. É apenas a sua personalidade humana que é.

 Olha que incongruência. O seu ego gosta de uma coisa. Age para que você suponha que gosta. Depois disso, ele mesmo não cria a posse do que gosta. Ainda por cima diz que você deve sofrer por não ter o que gosta.

Sim, libertar-se das paixões é o caminho. Deixar de gostar, de querer, é o caminho. Acreditando na paixão que a mente cria, o ego vai explorar essa paixão. Como? Criando a tentação: a vontade de ter. Para isso diz: você só poderá alcançar a felicidade conseguindo aquilo pelo qual se declara apaixonado.

Diria que a forma como vivem, além de ser uma ilusão, é completamente sem nexo. Basta o ego dizer alguma coisa, criar uma ideia, uma crença, e você acredita piamente. Vivem correndo atrás da personalidade humana como um cachorrinho que mal vê o dono abana o rabinho. É assim que vivem: mal o ego fala, correm atrás dele abanando o rabinho.

As paixões estão nos pensamentos e os pensamentos são criações do ego. Portanto, liberte-se do ego. Permanecendo preso as suas paixões, ficará preso ao prazer e à dor, à felicidade animal, como ensinou o Espírito da Verdade e ao sofrimento.

O ser humanizado, mesmo os que se dizem buscadores do Pai, rapidamente jogam fora a dádiva de Deus, a oportunidade de amar incondicionalmente, e correm atrás das paixões criadas pela razão como um cachorrinho: abanando o rabinho.

Participante 1: mas, sem paixão a vida fica sem poesia, sem sonhos, sem graça.

Participante 2: mas, a graça não é ausência de paixões?

O que a primeira pessoa falou se observarmos humanamente é perfeito. Humanamente falando a vida sem paixões deixa de ter graça humana. O que ela não levou em consideração é que a vida sem elas terá graça espiritual.

Humanamente falando, a vida precisa ter contentamento de paixões, já que é formada no círculo de vicissitudes prazer e dor. Já a vida espiritual não tem vicissitudes. Por isso a paixão espiritual é diferente: é a glória de Deus.

O problema é que a poesia humana não existe lá, mas existe uma espiritual. Existe o cantar dos louvores a Deus. Isso será uma poesia para você que hoje fala de poesias. Só que ainda não é. Não sendo, imagina precisar das paixões humanas. Aí está o problema.

Não é que a vida espiritual não tem poesias. Ela não é destituída de paixões, se entendermos esse trecho genericamente. A vida espiritual é formada por outras paixões. Essas não são como a mente humana caracteriza uma paixão.

Se a paixão espiritual leva a uma nova poesia, não pode se prender a coisas materiais. Por isso, aquele que é apaixonado pelo louvor a Deus não é apegado ao amor material, ao canto do passarinho ou ao céu bonito. O que o prende é a busca para permanecer no seio de Deus.

Essa é a poesia que vivencia os espíritos quando libertos do ego. Quando aprisionados, a poesia e paixão são condicionadas ao mundo material. É esse condicionamento que leva o ser humanizado a viver apegado ao que é criado pela razão.

Volto a repetir: é muito difícil falar certas coisas, pois temos que usar uma mesma palavra para falar de duas coisas. Como me perguntaram (‘não é para se libertar das paixões?) tenho que dizer que sim. No entanto, essa libertação acontece quando o ser se apaixona por Deus.

O que posso dizer? Só posso falar que é preciso se libertar da paixão para atingir a paixão: da humana para chegar a espiritual. É preciso independer da poesia humana para poder depender da espiritual.

Foi isso que quisemos dizer, mas tivemos que usar uma mesma palavra para as duas coisas por que não uma específica que possa descrever o novo estado de espírito. Sei falamos contraditoriamente, mas estou tentando me tornar o mais claro possível.