Das penas e gozos futuros

Pergunta 977a

Serão um castigo para o culpado essa divulgação de todos os nossos atos reprováveis e a presença constante dos que deles foram vítimas?

Maior do que se pensa, mas tão somente até que o culpado tenha expiado suas faltas, quer como Espírito, quer como homem, em novas existências corpóreas.

Há diversas coisas na Terra que acho engraçadas. Vamos fazer de conta que você tem um comercio. Um cliente fez uma compra e pagou com um cheque sem fundos. Pergunto: você pode expor esse cheque ao público? Você pode colocar um cartaz afirmando que ele é caloteiro?

Participante: posso.

Não. Pela lei, não.

Participante: muita gente faz isso.

Faz, mas não deve fazer, porque a lei proíbe.

O anonimato para o caloteiro é uma dádiva. Com isso ele pode continuar dando o calote em outros lugares. Da mesma forma, no mundo espiritual existem espíritos que acreditam que são mais espertos que os outros e por isso querem levar vantagem individual. É por isso que existe a divulgação de quem é o ser, espiritualmente falando.

Isso não acontece no sentido de punir o ser. Falo isso porque no texto de Kardec existe a palavra culpado. Essa divulgação é feita não no sentido de castigar, mas sim de mostrar (vou usar uma palavra agora, mas não compreendam com o sentido negativo dela) que o ser está vivendo como um pária, como alguém que não convive de uma forma harmônica com os seus iguais.

Assim, como, na Roma antiga se marcava o ladrão, a adultera, o espírito também é marcado. Não para ser castigado, mas para que sinta o que o seu egoísmo causa a ele mesmo.

Assim, esse ser começa a ser rechaçado pela coletividade. Por quê? Por maldade, para não se misturar com o mal? Não, para que ele repare na sua vibração sentimental. Esse, entre aspas, desprezo, pode ajudar o ser a acordar e se perguntar: ‘será que todos estão errados e só eu estou certo’?

Na verdade a divulgação está dentro da função espelho que já estudamos, ou seja, um toque externo para que o ser reconheça o que está provocando para si.

Participante: como fica a negligência? Quando por negligência causamos sofrimento a outrem.

Depende. Negligência pré-determinada, aquela que acontece com a intenção de ser negligente, é individualismo. Esse pagará, entre aspas, não pelo que fez, mas por ter cedido ao fundamento egoísta gerado pelo ego.

Agora, se esquece de fazer algo e com isso causa sofrimento a alguém, não há intenção de negligenciar. Por isso não há nada errado.

O problema não é o que se faz, mas a intenção com o qual participa dos atos. Se a intenção é levar alguma vantagem, isso chama se egoísmo. Se não tem intenção nenhuma, nem levar vantagem nem de perder, (falo assim porque tem gente que gosta de perder. Nesse caso, está levando vantagem) não há problema algum.

Mais um detalhe. Se o outro sofreu e você não teve intenção, bobo foi o outro! Ele se prendeu ao egoísmo dele que queria a coisa de outro jeito e sofreu!

O espírito humanizado é igual a criança. Ele quer por que quer uma coisa, bate pezinho, chora, faz birra. Nesse caso, sofrer é culpa dele e não de quem fez.

Participante: nós podemos causar sofrimento a outrem ou ser instrumento do carma do outro?

Você é instrumento do carma do outro sempre. Mas, isso não quer dizer que seja o causador do sofrimento do outro. O ser sofre porque escolheu sofrer e não porque alguém fez isso ou aquilo.

Participante: ele tem um carma, se sofrer é problema dele. E nós somos instrumentos desse carma?

Isso. Perfeito.