Das penas e gozos futuros

Pergunta 981

Com relação ao estado futuro do Espírito, haverá diferença entre um que, em vida, teme a morte e outro que a encara com indiferença e mesmo com alegria?

Muito grande pode ser a diferença. Entretanto, apaga-se com frequência em face das causas determinantes desse temor ou desse desejo. Quer a tema, quer a deseje, pode o homem ser propelido por sentimentos muito diversos e são estes sentimentos que influem no estado do Espírito. É evidente, por exemplo, que naquele que deseja a morte, unicamente porque vê nela o termo de suas tribulações, há uma espécie de queixa contra a Providência e contra as provas que lhe cumpre suportar.

Não é o que se fala boca para fora e nem o que se acredita racionalmente que garantirá um futuro melhor depois do desencarne. O que determinará esse futuro é a intencionalidade com a qual se participou das ações da vida.

Se a intencionalidade for ter um ganho individual, seja ele qual for, houve egoísmo. Essa forma de viver gera um determinado futuro depois da morte. Participando das ações sem objetivar ganhar nada nem querer perder, nesse caso o ser estará tranquilo com relação ao seu futuro.

Portanto, ter medo da morte ou quere-la, não faz diferença. O que o ser precisa fazer é não participar dela objetivando ganhar alguma coisa. Não deve querer ganhar nada, nem aquilo que poderia ser considerado como certo querer: a elevação espiritual, chegar perto de Deus ou sair da carne.

Nada! Nenhum objetivo individual. A morte, como qualquer outro elemento da vida, deve ser vivida pelo espírito sem buscar nada para si.

Participante: em outra palestra você disse que em cada encarnação o espirito imortal cria uma individualidade um ego. Quando em encarnações posteriores temos uma influência da encarnação anterior. Isso quer dizer que o ego anterior ainda não se desfez?

Não.

Quando entra em uma encarnação assume uma determinada individualidade, uma personalidade, uma identidade. Para poder assumi-la é preciso deixar a outra, a anterior. Vou dar um exemplo.

Um determinado ser é, nessa vida, uma mulher. Trabalha em determinado lugar, tem filhos e um marido especifico. Tudo isso compõe a identidade dele nessa vida. Depois que passar pelo evento morte, para que esse ser entre em outra encarnação precisa que todas essas consciências acabem. Ou seja, precisa não ter mais esses filhos, não ser mais mulher, não ter mais esse marido, não ter mais esse trabalho. Precisa não acreditar nessas coisas como realidades dele.

É isso. Agora, o que você falou é uma verdade. Elementos de um ego podem estar presentes em um novo, mas isso não quer dizer que o outro continua existindo. Ele já acabou. O que aconteceu é que elementos daquela personalidade foram transferidos para a de agora.

O que é transferido entre personalidades são provações não vencidas que foram readquiridas no novo ego. Elas são reprogramadas na nova personalidade. Mas, isso não quer dizer que o outro ego esteja vivo. Ele acabou, morreu.

Participante: podemos dizer replantados no novo ego?

Reescrito, replantado, o que você quiser. Na verdade foram transferidas de um para o outro.

Participante: então, não são lembranças, ou melhor, são lembranças plantadas no novo ego. Elas não existiriam por si mesmas?

Lembrança é recordar-se de alguma coisa. Sendo assim, não é lembrança.

Trata-se de uma nova informação. Você não tem consciência de que já viveu aquela informação.

Participante: na palestra que mencionei entendi que o ego não morre com a morte física.

Eu não disse isso.

O ego realmente não morre com a morte física. O trabalho para se libertar dele pode ocorrer durante a vida junto à carne ou depois da dela Vou dar um exemplo.

Digamos que hoje, ligado a um corpo, liberta-se do ego. Ele não mais lhe influenciará, mas não parará de funcionar. Não mais influenciará na construção da realidade porque morreu, mas não para de criar consciência. Ao vivenciar o evento morte, por causa da liberdade que conseguiu, a personalidade humana não mais irá criar realidades.

Agora, digamos que não conseguiu essa liberdade durante a vida junto à carne. Depois do que chamam de desencarne continua ligada a essa personalidade, tanto na questão da geração de realidades como na influência das emoções. Ou seja, continuará sendo e vivendo igual a hoje, só que sem carne.

Continuará vivendo o mesmo mundo mental criado pelo ego, mesmo sem a carne. Será sem carne o mesmo que é com, viverá depois da morte, o que vive hoje. Será marido e pai de quem é, será trabalhador de onde é. Tudo isso sem carne.

Durante esse período continuará tentando se libertar do ego. Depois de muito trabalho, e sofrimento, chega um momento onde consegue se libertar ou é desligado dele. Nesse momento volta à sua consciência espiritual para preparar outra personalidade, ligar-se a ela e viver uma nova vida.

Isso é o que acontece. No entanto, o importante é ter a consciência de que depois do desencarne, se não tiver conseguido a liberdade, a ação do ego continua a mesma. Apesar disso, pode vencê-lo depois do desencarne.

Participante: e como é esse processo de desligamento do ego?

Você é espirita e com certeza já ouviu falar que o espírito, depois do desencarne, é recolhido, levado a hospitais onde passes magnéticos recompõem a sua integridade espiritual. Isso é o máximo que você pode entender sobre esse assunto.

Apenas um detalhe. Esses passes magnéticos só são aplicados quando o espírito tem o merecimento do desligamento depois do evento morte.