Das penas e gozos futuros

Pergunta 977

Não podendo os Espíritos ocultar reciprocamente seus pensamentos e sendo conhecidos todos os atos da vida, dever-se-á deduzir que o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?

Não pode ser de outro modo, di-lo o bom-senso.

Deixe-me dizer uma coisa: esse pensamento não é material, não é historinha que o ego lhe conta, é espiritual. Não é um pensamento como vocês conhecem, uma história, mas a emanação de sentimentos.

Sim, perpetuamente todos os espíritos sabem o que você está sentindo. Quem tem raiva de alguém sempre tem o que está sentindo conhecido por quem está recebendo. Mesmo que esse conhecimento não chegue à consciência, o outro ser sabe o que emana para ele.

Você faz essa emanação por muito tempo, mas um dia acorda de bom humor e quer dizer gracinhas para essa pessoa, brincar com ela e quer que essa pessoa sinta feliz. Como, você vem há muito tempo emanando raiva? Só que você não vê o que já fez e julga a pessoa e sente mais raiva dela.

Não estou falando só de espírito fora da carne, mas também de encarnado. Mesmo que o consciente não detecte a emanação dos outros, o inconsciente, espírito, detecta. Nada do que você acha dos outros fica oculto de quem você acha. Por isso temos que ter muito cuidado com o que vibramos para os outros.

Participante: todo trabalho racional tem apenas um objetivo temporário?

Todo trabalho racional faz parte da personalidade transitória que o espírito criou para vivenciar a encarnação, ou seja, o que é hoje. Tudo que um ser é durante a vida é uma personalidade transitória criada para viver determinadas provações.

Então, sim, tudo que passa pela mente hoje é temporário. Não é algo que dure uma vida inteira, pois muita coisa que achava, já não acha mais.

Na eternidade espiritual nada do que foi raciocinado durante a encarnação permanece. Apenas o que ele sente é que o acompanhará pela eternidade.

Participante: Kardec está muito preso ao ego. Fale mais sobre ato, vítima e culpado.

Kardec não está preso ao ego; é um ego.

Kardec não é um espírito. Espírito não tem nome, não tem cor, sexo. Kardec é um ego que foi programado para fazer as perguntas que estamos estudando do jeito que foram feitas. Por quê? Porque esse entendimento em uma época foi preciso.

Não podemos ler nada querendo achar culpas ou culpados, erros ou errados. Se for essa a busca, não adianta nada o que estou falando aqui. Se disser que Kardec está errado, jogue fora tudo que falei, pois não estarei praticando o que ensinei.

Portanto, Kardec não estava preso a ego; é um. Segundo detalhe: a interpretação do que ele é sua, do seu ego não do dele.

Não sei se você lembra, mas outro dia falou de um trecho do evangelho onde se dizia que não se podia desligar os aparelhos de uma pessoa clinicamente morta. No final disse: é o meu ego que interpretou assim.

Agora é a mesma coisa: o seu ego está interpretando o ensinamento de Kardec. O que acha não é o que ele entendia.

Segunda pergunta sua: ato.

Ato é movimentação do corpo. Toda movimentação, seja oral, material, de cor, som, luz ou de qualquer coisa, é um ato.

O ato é uma ilusão. Por quê? Porque não existe ação. Porque não existe ação? Porque não existe elemento material que age. A única coisa que existe é fluido cósmico universal vibrando.

Terceira pergunta: vítima.

Para vocês, vítima é quem recebeu algo que não merecia.

Agora, se um filho de Deus recebe algo que não merecia, eu acho que Ele, que é a Justiça Perfeita, precisa se aposentar não? A Justiça Suprema não pode deixar alguém ser injustiçado e ficar calado.

Portanto, não existe vitima.

Quarta: culpado.

Se não existe vítima, não há culpado. Simples, assim ...

Agora, antes que diga que então o Espírito da Verdade errou, devo dizer que a utilização dessas palavras foi necessária em uma época. Aliás, também continua sendo hoje. Por quê? Porque continuam sendo usadas hoje. Se não fossem, aí a necessidade teria acabado.

Essa é a conclusão lógica daquele que vive para o mundo espiritual. Agora, é necessária pra que? Para que o buscador de Deus pare de imaginar que existem vítimas e culpados.

Se não houver a palavra, não há provação.

Participante: estou referindo as três palavras contidas na pergunta “o culpado está perpetuamente em presença de sua vítima?”

Está certo. Estão lá, mas se as ler humanamente terá uma interpretação. Aplicando os ensinamentos dos espíritos, encontrará outra.

Existe culpado? Existe. Quem é culpado de alguma coisa? Quem não ama é culpado. Existe vítima? Não. Por quê? Porque só recebe não amor quem merece receber isso. Não pode haver vítima porque o espírito só recebe o que ele pediu.

Agora é culpado frente a quem? Frente àquela pessoa? Não! Frente a Deus. No final das contas, é tudo entre você e Deus: Madre Teresa de Calcutá.

Portanto, se não ama, é culpado de provocar Deus. Agora Deus, acha você culpado? Não! Ele sabia que você não ia amar. Sabe por quê? Porque é Onisciente. Ele sabe que você não pode, no momento fazer mais do que está fazendo. É por isso que Cristo diz: Pai perdoa, ele não sabe o que faz.

Cada vez que você não ama, Deus diz: meu filho, você não sabe o que está fazendo. Deus é um Pai compreensivo e não feroz.

Por causa desse raciocínio volto a repetir. As palavras dos livros sagrados são para uma época. Foram usadas para ativar determinadas compreensões nos egos. Vocês gostam de ouvir quando o espiritismo diz que não existe o fogo eterno, mas, quem chama o próximo de culpado não está jogando o próximo em um fogo, nem que seja temporário?

O espiritismo não é a doutrina do culpado, é a do amor. Quem vê culpado em algum momento não ama. Quem não ama, não pratica a doutrina espírita, independente dos espíritas acharem que praticam.

Participante: quando há uma pessoa enferma numa família muito unida todos sofrem. Esse sofrimento foi decidido na espiritualidade por todos da família ou é prova para alguns da família?

Você falou de duas coisas. Falou que quando há uma pessoa na família enferma, os membros sofrem. Depois me perguntou se o sofrimento foi definido na espiritualidade. Acho que quando fala desse último sofrimento está falando do sofrer de quem está doente. Nesse caso não está falando de sofrimento, mas de doença. O sofrimento é da família, a doença é do doente. Vamos a resposta.

Sim, a doença do doente foi planeja na espiritualidade como prova para ele, para a família, para os médicos, para quem trabalha em hospitais e para todos que souberem da doença. A doença foi programada, mas reagir a ela com sofrimento, acabou de dizer o Espírito da Verdade, só os espíritos não elevados fazem. Os elevados, como vimos, reconhecem na doença a oportunidade do trabalho no sentido de amar a Deus acima de todas as coisas.

Por causa disso, é preciso amar a Deus acima da doença. Quem nutre esse sentimento não sofre com o sofrimento físico seu ou dos outros.

Participante: como sabemos o que o espírito sente? Como diferenciar a emoção do ego do sentimento do espírito?

Só você pode diferenciar o que é emoção do seu ego e o que é seu sentimento. Mais ninguém pode. Apesar da encarnação precisar da vida em sociedade para gerar as provas, a elevação espiritual é o trabalho mais solitário que existe.

Disse agora pouco, no final é tudo entre você e Deus, mas não é bem assim. No final é entre você e você mesmo. Isso porque só você vai saber o que realmente se passa no seu interior. Por esse mesmo motivo afirmo que não há como saber dos outros. Não há como saber se os outros estão fazendo ou não.

Agora, você quer saber quando a felicidade do espírito acontece. Digo que é quando está em paz consigo e com todos. Quando está harmonizado com o mundo, ou seja, não sofre, não tem prazer com a vida.

Quando sentir isso internamente, não através de razões que expliquem o que está sentindo, estará vivendo o uno com Deus, mesmo que os seus pensamentos digam coisas diferentes. Por isso, aconselho: esteja sempre atento ao seu pensamento. Se ele diz, por exemplo, que o carro está correndo muito, responda: ‘está sim, e daí? Se tiver que morrer agora nada vai me segurar. Ninguém morre antes da hora’.

Nesse caso, o seu pensamento está dizendo uma coisa e você está numa vibração diferente. Agora, só você pode reconhecer se isso está acontecendo mesmo ou não. Mais ninguém.