Das penas e gozos futuros

Pergunta 972a

Mas, de que servem essas paixões, se já não têm objeto real?

Nisso precisamente é que lhes está o suplício: o avarento vê ouro que lhe não é dado possuir; o devasso, orgias em que não pode tomar parte; o orgulhoso, honras que lhe causam inveja e de que não pode gozar.

O Espírito da Verdade continua falando da tentação da paixão depois da vida carnal.

Como já disse, o espírito depois do desencarne sente mil vezes mais forte as sensações animais. Por isso posso dizer que o avarento sente mil vezes mais forte o não ter o que quer; o devasso sente sete mil vezes mais vontade de orgias, mas como não encontra, sofre sete mil vezes mais frustração.

Depois da carne o suplício do ser humanizado é muito forte, porque a tentação também o é. Se hoje você é apaixonado por um canto de passarinho, quando sair da carne irá querer ouvi-lo com muito mais intensidade do que hoje. Como não haverá, pois no mundo espiritual não existe passarinho, sofrerá muito Sentirá uma frustração muito grande.

Sendo apaixonado por um pôr do sol, sairá da carne mil vezes mais apaixonado por isso. Como não haverá, o sofrimento será muito grande. Sendo apaixonado por seu filho, quando sair da carne essa paixão será mil vezes mais forte. Não haverá filho para você cuidar. Aí a preocupação com os que ficaram será mil vezes mais sofredora do que hoje. Sendo apaixonado em fazer as coisas certas, terá mil vezes mais desejo de fazê-las. Como não conseguirá, o sofrimento será maior do que quando não consegue fazer algo hoje.

Isso é o que vocês chamam de umbral. Ele não é um inferno. Trata-se de um estado de espírito onde a paixão e o desejo de ser, estar e fazer é mil vezes mais forte do que hoje. Como não se consegue, pois não há o elemento para satisfazer a paixão, o sofrimento é muito mais vivo.

Isso é o que o Espírito da Verdade disse. A partir disso quero dizer uma coisa da mais suma importância. Queria que prestassem atenção.

Vou repetir o que disse agora: o umbral não é inferno. É um estado de consciência onde a paixão é mil vezes mais viva, forte, e não há objetos para satisfazê-las. Por isso, afirmo que todos que saem da carne com uma paixão vão pro umbral.

Estou dizendo isso porque têm a ilusão que vão sair da carne e serão socorridos imediatamente e encaminhados para um hospital espiritual. Ilusão! Se ainda tiverem paixões, elas serão aguçadas. Só poderá haver o atendimento que já ouviram falar depois de libertarem-se das paixões. Ou seja, não mais sofrerem.

Noventa e nove por cento dos espíritos que saem da carne passam pelo umbral. Ouçam isso: noventa e nove por cento passa pelo umbral. Não sei se já leram o Mahabharata, a epopeia da família do Arjuna. Nesse livro é dito que o irmão do Arjuna, que é considerado uma pessoa santa, pia, que faz tudo o que Krishna mandou, quando desencarnou passou um minuto no umbral.

Sabiam disso? Uma pessoa tida como santa, pia, quando desencarna teve que passar um minuto no umbral. Porquê? Porque ainda tinha paixões.

Vocês precisam ter essa consciência. Precisam prestar extrema atenção a esse assunto para depois não dizerem que lhes enganei. Precisam estar preparados para isso para poder encurtar ao máximo a estada lá.

Não se iludam: vão sair da carne e passar pelo umbral com certeza, pois estão apaixonados pelas paixões materiais. Não se iludam imaginando que vão conseguir resolver as questões espirituais dessa vida completamente porque não vão. O máximo que poderão fazer é amenizar e não resolver.

Outro detalhe: não se deve temer o umbral. Sei que há pessoa que ficaram com medo depois do que falei, mas não é preciso. O umbral não é um estado de consciência que deve se temer, pois é o que precisamos para a nossa evolução espiritual. Então, se está indo para lá, louvado seja Deus!

Não estou falando essas coisas agora isso para por medo em ninguém. Pelo contrário: é para que não se considerem o perfeito, aquele que vai sair dessa vida e receber atendimento na mesma hora. Aquele que será levado instantaneamente para uma cidade espiritual. Não será isso que acontecerá.

Acreditando nisso, quando for para o umbral sofrerá.