Das penas e gozos futuros

Pergunta 976

O espetáculo dos sofrimentos dos Espíritos inferiores não constitui, para os bons, uma causa de aflição e, nesse caso, que fica sendo a felicidade deles, se é assim turbada?

Não constitui motivo de aflição, pois que sabem que o mal terá fim. Auxiliam os outros a se melhorarem e lhes estendem as mãos. Essa a ocupação deles, ocupação que lhes proporciona gozo quando são bem-sucedidos.

Já disse aqui: se você vê uma criança passando fome na rua, o que pode fazer por ela? Dar um prato de comida, levar para sua casa, dar um banho, vestir, adotar, etc. Pode leva-la para sua casa, dar carinho, instrução, cuidar dessa criança. Enfim, pode fazer milhares de coisas que podem ajudar, mas qual é a única coisa que fazem? Sofrem.

‘Coitadinha da criança! Olha lá, está no sinal até essa hora. Coitadinha da criança, não tem um prato de comida para comer’. Ou sofrem por ela ou a exploram para dar asas ao seu egoísmo: ‘o povo de hoje é muito insensível. Só eu paro e ajudo a criança. Esse presidente (prefeito, governador, secretário) não faz nada pelas crianças. Se fosse eu faria’.

O que resolve o seu sofrimento ou sua crítica? Nada. A sua angustia, o martírio interno, a falsa compaixão, o ar de santinho, não resolve nada para a vida daquela criança. Apesar disso é a única coisa que vocês fazem. O resto, para protegerem-se, não fazem.

É isso que o Espírito da Verdade está dizendo e que os espíritos superiores reconhecem: sofrer por aqueles que estão carentes, seja material ou espiritualmente, não resolve nada. O que resolve é colocar mãos à obra. Isso pode ajudar de verdade.

Acontece que para ajudar de verdade é preciso se expor, se comprometer. Ninguém quer se comprometer. ‘Vai que aquele molequinho é um bandido e vai assaltar a minha casa. Não posso recolhê-lo. Tenho dificuldades financeiras não vou poder dar o que ele precisa’.

. Sim, o medo de se comprometer é escondido por um falso moralismo, por uma falsa santidade. É por isso que a ação caridosa de vocês não é sinal de elevação. Muito pelo contrário: é sinal de falta de fé.

Não pensem que os espíritos superiores não veem a carência de alguns. Claro que sim, mas reconhecem a necessidade da situação negativa, da vicissitude negativa, como instrumento de elevação. Por isso, não sofrem nem fazem nada para acabar com ela. Louvam a Deus por estar dando a um filho a oportunidade de elevação.

Quando é permitido ajudam. Essa ajuda, no entanto, não é para acabar com a situação, mas dar forças para que o encarnado mantenha-se em paz naquele momento. Se não podem, não ajudam, mas permanecem na graça de Deus.

Quem só senta na calçada e fica chorando, pela lei do carma, pode ser que amanhã passe pela mesma situação para ver que só chorar não adianta.

Participante: apenas constatando. Muitos espíritas não entendem os ensinamentos de O Livro dos Espíritos. Acham que bem é dar comida e mal, o aborto, o suicídio, o assassinato. Estão presos aos atos materiais e não aos sentimentos.

Quando estudamos a caridade aqui em O Livro dos Espíritos, vimos que o Espírito da Verdade afirmou que é ser benevolente, indulgente e o perdão. Cristo afirmou sobre a caridade: dá ao próximo o que você quer para si. Ou seja, nenhum mestre apoiou a ideia da caridade se restringir a coisas materiais.

Aliás, quando Kardec pergunta se o Espírito da Verdade abomina a esmola, a resposta é: não, se quer dar esmola, dê, mas não é isso que marca uma caridade. Pelo contrário, humilha quem precisa.

Portanto, o espírita não compreendeu ainda a caridade, apesar de estar bem claro em O Livro dos Espíritos. Agora, isso não é primazia dele: há outros religiosos que pensam do mesmo jeito.