Das penas e gozos futuros

pergunta 962

Como pode haver cépticos, uma vez que a alma traz ao homem o sentimento das coisas espirituais?

Eles são em número muito menor do que se julga. Muitos se fazem de espíritos fortes, durante a vida, somente por orgulho. No momento da morte, porém, deixam de ser tão fanfarrões.

Os seres humanizados vivem a vida inteira desligados do alteração de vivo para morto. Não estão nem ai para a existência espiritual. Querem apenas gozar a vida Só que no momento que o acerto de contas está para chegar, a maioria se borra.

Não estou falando daqueles que vivem em farras, que vão a casa de má fama, que buscam ganhar coisas materiais. Não é desses que estou falando. Falo que se apegam aos papeis que exercem durante a vida.

O trabalhador de uma empresa que acredita que o seu trabalho físico é a coisa mais importante da sua vida, na hora da morte se borra de medo, pois viu que não fez nada para a sua elevação espiritual. A mãe e o pai que são aprisionados nessa posição, que possuem emocionalmente os seus filhos, na hora da morte se borram, porque percebem que não fizeram nada por ninguém.

É isso que precisamos entender. Espiritualidade não é algo que se vive dentro de templos. Espiritualidade não é uma coisa que se busca no momento da morte. Espiritualidade é algo que precisa ser vivenciado vinte quatro horas por dia. Falo de espiritualidade no sentido de buscar a Deus e não de servir a uma religião.

Não estou dizendo para ninguém deixar de ser empregado de empresa, deixar de ser mãe ou pai. O que falo é no sentido de vivenciar os papéis colocando em primeiro lugar a sua busca espiritual.

No final, é tudo entre você e Deus, como dizia Madre Tereza de Calcutá. Então, não tem nada a ver com o relacionamento com o seu filho. Relacionando-se com ele de uma forma possessiva (‘é meu filho, tenho que educa-lo, tenho que fazê-lo homem, ele tem que me paparicar’) se esqueceu de Deus. Acredita que sua fonte de subsistência é o trabalho material, não acredita em Deus ou em Cristo, quando o mestre diz assim; “por que que você se preocupa com o que vai comer amanhã? É Deus que dá alimento aos bichos.”

É isso que eu estou falando. O que pode garantir uma passagem tranquila para o outro lado, um desencarne sem medos é a consciência de ter vivido a busca espiritual, o relacionamento com Deus vinte quatro horas por dia. Quando essa busca não é realidade, o desencarne será marcado por medos, incredulidades, incertezas. Nesse momento pode ter sido papa, bispo, padre, médium, monge, o que você quiser: não tendo vivido vinte quatro horas atento a relação com Deus, na hora do desencarne vai se borrar todinho.

Participante: mas mesmo sabendo da vida futura, conhecendo a Deus, erra-se na vida. Nesse caso, como fica?

Boa pergunta. Vou responder de uma forma acadêmica.

Qual o único tempo que você tem para viver: presente passado ou futuro? O presente, não? O passado já passou, o futuro nem chegou.

Pergunto mais: qual é o tempo que gasta um presente? Não é uma hora, um dia, um minuto ou um segundo. O presente é uma micro fração de tempo que não consegue se medir.

Sendo assim, digo que a sua vida dura exatamente essa micro fração de tempo. Por isso, quando errar nessa vida, na micro fração de tempo atual, ao invés de lamentar o erro ou se acusar, trabalha para acertar na outra, na próxima micro fração de tempo.

Esse errar, no entanto, não trata-se de praticar atos errados. O erro acontece quando o ser humanizado vive uma micro fração de tempo sem estar ligado, preocupado com o seu relacionamento com Deus. Quando não tem como objetivo primário do momento a espiritualização. Esse é o único erro que o espírito pode cometer. Os atos, são apenas dramatizações de provações, por isso estão sempre perfeitos.

Então, respondendo a sua pergunta, digo: se no agora você não está ligado em Deus, no próximo segundo ligue-se. Aí todo erro acabou. Aliais, Cristo já disse: que o momento de fé apaga a multidão dos pecados. É exatamente o que acabei de dizer.

Participante: no que o senhor acabou de falar que mora o problema. É difícil passar vinte quatro horas vivendo com Deus.

Até concordo que não seja muito fácil. Vou ensinar um método mais fácil do que vocês usam.

Ao invés de tentar hoje o dia inteiro comungar com Deus, tente apenas um minuto. Amanhã, tente dois. Depois de uma semana, tente três minutos. Faça assim e um dia conseguirá. Se quiser desde o primeiro momento avançar tudo, não fará nada.

Vou dizer uma coisa. Para sair daqui onde estamos e ir ai na sua casa, que é pertinho, ou se quisermos sair daqui e ir na casa daquela outra pessoa, que é longe, o primeiro momento é igual: dar o primeiro passo. Depois dele temos que dar o segundo e o terceiro.

 Isso precisa ficar bem claro. Ninguém vai conseguir fazer o que estou falando vinte e quatro horas por dia de hoje para manhã. A caminhada será paulatina. Por isso é preciso se concentrar em dar um passo de cada vez. Primeiro o primeiro e depois os outros.

É por não se atentar a isso que vocês não fazem nada. Como sabem que é difícil se fazer isso vinte e quatro horas não se concentram em dar o primeiro passo.

Transforme as suas vinte quatro horas em minutos e busque viver alguns ligados com Deus ao invés das vinte quatro horas.

Participante: mas, com todas as coisas que temos que fazer é realmente difícil. Outra coisa: ficar vinte quatro horas voltadas para Deus não seria fanatismo?

O que você tem para fazer? Trabalhar, estudar, ver televisão? Tudo isso vai acabar. Acaba ali na esquina. Acaba com a morte. Além do mais tudo não é feito por você: Deus diz faça-se e a coisa se faz.

Nada dessa vida dura, mas viver para Deus é uma atividade do espírito por toda a eternidade. Sabe quanto dura a eternidade? Nem eu, mas sei que é um trabalho duradouro.

Então veja, viver para Deus é a única coisa que o espírito tem para fazer. Quem vive para a matéria não segue o ensinamento de Cristo que diz: não amealhe bens na Terra e sim no céu. Esse é o primeiro detalhe.

Segundo: não falei para parar de fazer as coisas materiais. Falei que ao estar fazendo coisas materiais, busque, tenha como objetivo primário a sua relação com Deus e não com a matéria. São coisas completamente diferentes.

Você pode estar trabalhando e ao mesmo tempo estar ligado a Deus; pode estar trabalhando e preocupado em ter uma ascensão profissional. É disso que estou falando. Continue com a sua vida, mas a cada momento leve em consideração a sua relação com Deus.

 Terceiro detalhe: ser fanático por Deus é uma honra e não um demérito. Saiba que todo espírito na sua consciência espiritual é fanático pelo Senhor do universo.

Sabe o que quer dizer fanatismo? Entrega absoluta a uma ideia ou ser. Sendo assim, digo que eu sou fanático por Deus. Sou fanático pelo Senhor Supremo do Universo porque só Ele é real, só Ele existe.

Participante: mas Deus não aprova o fanatismo.

Será que não aprova? Tenho certeza que o fanatismo como você compreende, Ele realmente não aprova. Mas, levando em consideração o real significado do termo fanatismo, acho que Ele deve aprovar.

Fanatismo não é loucura, é entrega. Será que Deus não aprova entrega a Ele? Se isso é real, Cristo está errado quando ensinou que precisamos amar a Deus acima de todas as coisas. Se o mandamento maior é amar a Deus abaixo acima de todas as coisas, isso quer dizer que ser fanático por Ele é seguir o caminho indicado por Cristo.

Se não fosse para ser fanático, Cristo teria ensinado: ame a vida material acima de todas as coisas e, quando sobrar tempo, dedique-se a Deus.

Participante: todo fanatismo é prejudicial. No oriente médio matam e se suicidam em nome de Deus.

E aqui também.

Quando você critica o governo porque não dá comida, está matando uma pessoa. Digo isso porque a crítica causa a morte, uma morte moral.

Não adianta justificarmos apontando o erro dos outros. Se aqui fosse um país onde só houvesse o amor universal, o ensinado por Cristo, aquele que é acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, que não aceita críticas a quem quer que seja, poderíamos até falar os outros. No entanto, a trave que existe no nosso olho, que é não ver a nossa ação, mas apenas o que o outro faz, é algo que o mestre não aconselhou quando ensinou: atire a primeira pedra aquele que não tem pecado.

Participante: falo de mortes concretas.

Morte é morte ...

Conheço um ser que está aqui do outro lado, desencarnou, de desgosto. A mulher dele costuma repreendê-lo da seguinte forma: ‘cala boca eu tenho dinheiro e mando nessa casa’. Ele de tanta amargura acabou desencarnado. Qual a diferença entre falar assim e dar um tiro? Nenhuma!

Além do mais, não sei porque você está tão preocupado com o matar em nome de Deus. Qual a importância da morte para o espiritualista? Para o humano é algo muito profundo, mas para o ser universal é libertação. O espírito quando encarnado está doido pra se libertar da carne. Seja de que modo for, para ele o dia da morte é de glória: ‘me livrei dessa massa densa’.

O problema são os valores. Quando um ser acha a vida humana muito boa, se sente realizado por estar vivo, quer preserva-la. Por isso, frente à perspectiva da morte se borra de medo.

Porque desse medo? Como vimos no início desse comentário, a consciência do espírito está preocupada com o julgamento do final da sua etapa de provações.